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Brasília

Pandemia: baixa adesão ao isolamento preocupa

Para escapar do colapso no sistema de saúde é necessário medida radical, diz epidemiologista

Lucas Neiva

10/03/2021 6h15

Foto: Vitor Mendonça/ Jornal de Brasília

De acordo com o levantamento diário feito pela empresa In Loco, o Distrito Federal atualmente possui um índice de isolamento social de 37,5%, ocupando a posição de quarto estado com menor respeito ao isolamento social no Brasil. Esta posição chamou a atenção dos epidemiologistas da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB), que teme que sem um rápido aumento desse índice o DF possa estar longe de superar a pandemia de covid-19.

O epidemiologista e pesquisador da Sala de Situação Jonas Lotufo explica que não há um número ideal para o índice, pois seria uma análise qualitativa para se alcançar um valor específico com base nos padrões de deslocamento da população. Mas a certeza é de que 37,5% não é um valor desejado. “Não existe um número exato, apenas uma aproximação. (…) Eu diria que um número geral razoável seria por volta de 80%”, esclarece.

Para escapar do colapso no sistema de saúde, o epidemiologista alerta que é necessário que tanto a população quanto o governo reforcem suas medidas de isolamento. “O cenário atual é de limite da sobrecarga dos serviços de saúde. Então o ideal seria um isolamento muito radical por 15 dias com aumento da testagem e aumento das ações de fiscalização e orientação de biossegurança para que depois desse período a gente sinta o impacto no sistema de saúde e possa adotar um protocolo mais adequado para evitar outro aumento no número de casos”, recomenda.

No atual cenário, a equipe de pesquisadores se mantém pessimista quanto aos próximos dias no Distrito Federal. “Esse baixo isolamento faz com que a gente não enxergue uma luz no fim do túnel. É provável que daqui a 15 dias a situação não esteja melhor, e é provável que o governo se veja obrigado a prorrogar ainda mais as medidas de isolamento social”, lamenta Jonas Lotufo.

O pessimismo se mantém mesmo diante do estabelecimento de um toque de recolher na cidade. “O que temos até o momento são medidas de isolamento físico das pessoas mas que tem criado muitas brechas. Isso faz com que esse isolamento seja baixo. Não se tem conseguido até o momento uma grande mobilização para adesão, e isso leva a uma fragilidade da resposta”, alerta o pesquisador.

Lotufo recomenda que, além de reforçar medidas de isolamento, governantes de todos os níveis reforcem as medidas de comunicação de crise durante a pandemia. “A maioria das informações aparecem de maneira errática, e não por meio de uma comunicação estruturada com porta-voz técnico atualizando a imprensa diariamente sobre a atual situação e quais medidas estão sendo adotadas. Essa adoção de uma estratégia de comunicação de risco seria muito importante para a população para que a gente alinhasse a mensagem”, explica.

Um passo que o governo do DF adotou considerado vital pela sala de situação para deter a pandemia é o alinhamento com os demais estados. “O governo do DF foi um dos que aceitaram participar da mobilização dos governadores por um fator único de ação. Parte da fragilidade que o país vive hoje é por conta do governo federal, que não conseguiu adotar uma liderança. Com essa mobilização, se agiliza a resposta, pois não basta um estado adotar medidas se elas não forem coordenadas com seus vizinhos, pois o efeito de um estado no outro é muito grande”, afirma Jonas.

Fiscalização deve se intensificar

Para garantir o cumprimento do decreto de implementação do toque de recolher das 22h às 5h, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) aumentou de seis para 16 a quantidade de equipes responsáveis por ações de fiscalização contra o descumprimento dos decretos de combate à covid-19. A atuação das novas equipes não fica restrita à execução do toque de recolher, ao controle de todas as demais medidas de isolamento.

O aumento dos recursos humanos empregados no controle do toque de recolher não se restringe ao aumento no tamanho da força-tarefa. Além disso, a PMDF está fiscalizando condutores por meio da implementação de blitz, onde além de ser feita a verificação de alcoolemia, os motoristas são questionados sobre para onde estão indo e recebem orientações relativas ao toque de recolher.

Na avaliação da PMDF, a forma de lidar com a população durante o toque de recolher também deverá mudar ao longo do tempo. A prioridade ontem foi orientar a população, mas o rigor no tratamento aumentou ontem a noite. “A gente espera que com o apoio da imprensa, da comunicação do governo e [da comunicação] da PMDF, a população tenha mais conhecimento do decreto e a partir de hoje a noite o tratamento seja mais rigoroso”, disse pela tarde o coronel Souza Oliveira, comandante da comunicação social da PMDF.

Além da PMDF, estiveram nas ruas as equipes de fiscalização da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), que realizou 768 vistorias a comércios.

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