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Economia

Ibovespa acumula perda de 2,56% na semana, sem acompanhar Nova York

Na correção em curso, que coincidiu com a virada para 2024, o Ibovespa saiu de nível recorde, a 134,1 mil pontos, e chega agora a 127,6 mi

Redação Jornal de Brasília

19/01/2024 18h51

Foto: Divulgação

Pela terceira semana consecutiva, o Ibovespa acumulou perdas e, desta vez a maior da série, a 2,56% no intervalo mais recente. Uma sequência negativa como a atual não era vista desde a passagem de julho para agosto do ano passado, quando o índice da B3 encadeou quatro retrações semanais, que o fizeram descer dos 120,2 mil para os 115,4 mil pontos. Na correção em curso, que coincidiu com a virada para 2024, o Ibovespa saiu de nível recorde, a 134,1 mil pontos, e chega agora a 127,6 mil, em ajuste de cerca de 6,5 mil pontos.

Nesta sexta, 19, parecia até o meio da tarde que o índice fecharia também em baixa pelo quarto dia, mas a acentuação de ganhos em Nova York acabou sendo acompanhada, ainda que ao longe, pelo Ibovespa, que virou e fechou em leve alta de 0,25%, a 127.635,65 pontos, entre mínima de 126.533,00 e máxima de 127 820,13 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 127.319,31. O giro nesta sexta-feira de vencimento de opções sobre ações subiu para R$ 27,6 bilhões. No ano, o Ibovespa cai 4,88%.

Como nesta quinta, 18, o índice da B3 não conseguiu se alinhar à boa retomada vista em Nova York, que colocou os três principais índices de ações por lá em alta na semana, de 0,72% (Dow Jones), 1,17% (S&P 500) e 2,26% (Nasdaq). Nesta sexta-feira, tais índices subiram, respectivamente, 1,05%, 1,23% e 1,70%, renovando picos da sessão ao longo da tarde, o que contribuiu para moderar e ao fim zerar as perdas do Ibovespa, deixando-o na marca dos 127 mil como no fechamento anterior.

“O índice mostrou volatilidade hoje, desde cedo, e à tarde conseguiu em certo momento se conectar a Nova York, onde houve renovação de máximas históricas. Nos Estados Unidos, além do bom momento das ações de tecnologia, o dado de confiança divulgado hoje, acima do esperado, contribuiu para a tese do pouso suave de que a economia americana se acomodou sem solavancos à elevação dos custos de crédito, sem mergulhar em recessão”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

O índice de sentimento do consumidor nos Estados Unidos, da Universidade de Michigan, avançou de 69,6 em dezembro para 78,8 na leitura preliminar de janeiro, conforme divulgado pela instituição nesta sexta-feira. Analistas ouvidos pela FactSet previam 69,5 para a prévia de janeiro.

O ânimo visto nos EUA, contudo, não tem se espelhado no desempenho do Ibovespa neste início de ano. Carro-chefe da B3, as ações de commodities, como Vale (ON -1,30%) e Petrobras (ON -0,08%, PN -0,53%), voltaram a ser penalizadas pela correção em andamento na Bolsa brasileira, assim como parte das ações de grandes bancos – exceção para BB (ON +1,05%), Itaú (PN +0,24%) e Santander (Unit +1,00%) nesta sexta-feira. Na ponta perdedora, Locaweb (-2,04%), RaiaDrogasil (-1,82%) e SLC Agrícola (-1,46%). No lado oposto, Gol (+6,02%), BRF (+4,75%) e Azul (+3,88%).

Analistas consideram que o descolamento visto nas últimas sessões sugere retirada de recursos da B3 por estrangeiros, em reposicionamento ante a quebra da aposta, predominante ao longo de dezembro, de que haveria espaço para o Federal Reserve antecipar para março o momento de corte de juros nos Estados Unidos. Assim, mesmo com os juros dos Treasuries mostrando ainda realinhamento nesta semana, para cima, os principais índices de ações em Nova York também obtiveram avanço – com o índice amplo, o S&P 500, trazendo nova máxima histórica intradia e de fechamento nesta sexta-feira, assim como o índice mais restrito, Dow Jones.

Enquanto os investidores voltam a concentrar apostas em ações americanas – em momento no qual a atividade econômica dos EUA continua a mostrar resiliência, postergando as apostas quanto ao timing da redução de juros por lá -, o Ibovespa vai em sentido oposto neste início de ano, dragado pela perspectiva ainda fraca para a economia chinesa em meio à crise no setor imobiliário, que traz efeito para a demanda por commodities, como minério especialmente, a que a B3 tem exposição. Como corolário, a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, que corresponde a 14,1% do índice, acumula nessas 14 primeiras sessões de 2024 perda de quase 12%.

Dessa forma, no ano, enquanto o Ibovespa perde quase 5%, os ganhos em Nova York, apesar da recente retomada dos rendimentos dos Treasuries, chegam a 1,47% (S&P 500) e 2,00% (Nasdaq) no intervalo. “As empresas de chips listadas nos Estados Unidos têm reportado bons resultados e perspectiva favorável, o que contribui para esse fortalecimento em Nova York. Trouxe ânimo extra para os investidores”, diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, mencionando o contraponto à recente decepção sobre a trajetória dos juros, de que cairiam mais “rápido e fundo”.

Por outro lado, além da volatilidade nos preços do minério, que afeta diretamente a performance da ação de maior peso no Ibovespa, Ferrer observa que desdobramentos recentes – como a retomada de investimentos que se mostraram custosos no passado, na Refinaria Abreu e Lima – trazem um pouco de “escuridão” a outros ativos fundamentais na B3: Petrobras PN, que corresponde a quase 7,5% do Ibovespa, e Petrobras ON, com cerca de 4,1%. No ano, Petrobras ON cai 0,08% e a PN sobe 0,78%.

Nesse contexto, o Termômetro Broadcast Bolsa desta semana mostra um mercado indeciso em relação à direção do Ibovespa nos próximos dias. Embora os participantes tenham ficado menos pessimistas – com o porcentual dos que esperam queda do índice diminuindo para 33,33%, de 66,67% na semana passada, os demais cenários, de estabilidade e de alta do índice, também contam com 33,33% de probabilidade, ante 16,67% cada, na leitura anterior.

Dólar

Após uma manhã marcada por trocas de sinais, o dólar à vista operou em baixa moderada ao longo da tarde, em meio ao recuo da moeda americana no exterior e a máximas das bolsas em Nova York, insufladas pelos ganhos de ações de tecnologia. Com oscilação de pouco mais de três centavos entre a mínima (R$ 4,9033), logo após a abertura, e a máxima (R$ 4,9395), ainda pela manhã, o dólar à vista fechou cotado a R$ 4,9268, em queda de 0,09%.

Operadores atribuem o recuo do dólar hoje a uma pausa natural para ajuste de posições e realização de lucros, após uma sequência de quatro pregões seguidos de alta, embora ontem a moeda tenha encerrado a sessão praticamente estável (+0,02%). Já os ganhos de 1,43% do dólar na semana são reflexo, sobretudo, do realinhamento das apostas em torno do primeiro corte de juros nos EUA neste ano, o que provocou avanço dos rendimentos dos Treasuries e da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes.

Após uma semana marcada por dados fortes de atividade nos EUA e declarações duras de dirigentes do Federal Reserve, a plataforma de monitoramento do CME Group mostra que as chances de corte de juros em março, que chegaram a superar os 80% no fim de 2023 e rondaram 60% neste início de ano, agora estão um pouco abaixo de 50%. A aposta majoritária passa a ser de início do ciclo de redução da taxa básica pelo BC americano em maio.

O diretor de tesouraria do Braza Bank, Bruno Perottoni, observa que agenda de indicadores americanos neste início de ano mostrou que a economia dos Estados Unidos está longe de uma desaceleração mais forte, o que pode ter reflexos no grau de desaceleração da inflação. “Já não há mais aquele otimismo com início do corte de juros em março. E isso provocou uma alta dos Treasuries e do dólar”, afirma Perottoni.

No curto prazo, ele vê possibilidade de o real voltar a se apreciar caso as taxas dos Treasuries recuem um pouco. E observa que há um fator técnico que pode contribuir para jogar o dólar para baixo: um grande volume de opções de venda de dólar com preço de exercício abaixo de R$ 4,90. O tesoureiro aponta, contudo, fatores que podem provocar uma alta do dólar mais para frente, como as tensões geopolíticas em meio às guerras na Europa, entre Rússia e Ucrânia, e no Oriente Médio (Israel e Hamas), que podem provocar problemas de oferta de grãos e petróleo e atiçar a inflação.

Outro ponto de atenção é a magnitude do ciclo de corte da taxa Selic, uma vez que, para Perottoni, uma taxa abaixo de 10% poderia dificultar a atração de recursos e, por tabela, causaria alta do dólar. “Se o Fed realmente começar a cortar os juros, talvez a Selic possa ficar numa faixa de 9% sem causar estresse”, diz o tesoureiro.

Em uma das reuniões de economistas do mercado financeiro com o Banco Central realizadas hoje, a maioria dos analistas debateu qual será o impacto sobre o real de um início de ciclo de queda da taxa básica americana. A maioria dos economistas avalia que o cenário internacional exige cautela, mas que o quadro, em geral, ainda é positivo para a moeda brasileira.

As projeções para o dólar no fim de 2024 variaram entre R$ 4,50 e R$ 5,00, de acordo com uma fonte, com a maioria das expectativas entre R$ 4,70 e R$ 4,80 – abaixo da mediana do último relatório Focus, de R$ 4,95. A perspectiva de uma balança comercial brasileira novamente forte este ano foi indicada como o principal viés de sustentação para um câmbio mais otimista.

Juros

Os juros futuros tiveram uma sexta-feira de ajustes pontuais em relação à véspera, a despeito da forte reprecificação nos Treasuries em relação ao ciclo de queda dos juros nos Estados Unidos. Isso ocorreu porque, na visão dos agentes locais, o movimento mais forte de correção nos DIs já aconteceu e de, alguma forma, o mercado brasileiro já está preparado para o adiamento do corte pelo Federal Reserve.

Hoje, monitoramento do CME Group mostrou que a curva futura americana deixou de precificar majoritariamente queda dos juros do Fed em março, com a hipótese de maio agora prevalecendo (82% de chances). Dados mais fortes dos EUA nesta sexta-feira e falas de dirigentes do Fed ao longo da semana chancelaram essa mudança de apostas. O retorno da T-note de 2 anos subiu de 4,346% ontem a 4,389% hoje.

Aqui, o movimento diário foi mais suave. A sensação dos agentes é de essa parte do filme já está contada e precificada no mercado local, que sentiu o baque mais nas primeiras semanas do ano. Apesar do ajuste fino hoje, a curva registrou um ganho importante de inclinação na semanal. O diferencial entre as taxas de janeiro 2029 e janeiro 2025 avançou de 9 pontos-base na sexta-feira passada para 20 pontos. Para efeito de comparação, no encerramento de 2023, o spread era de 5,6 pontos.

Na sessão, o DI para janeiro de 2025 subiu de 10,088% no ajuste de ontem para 10,100% no fechamento de hoje. O janeiro 2026 foi de 9,755% para 9,745%. O janeiro 2027, por sua vez, caiu de 9,927% para 9,880%. E o janeiro 2029 passou de 10,361% para 10,300%.

O dia começou com tendência de queda das taxas, após o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de outubro ser revisado para baixo, atestando o esfriamento da economia no quarto trimestre. O número de novembro (-0,01%) veio praticamente em linha com a estabilidade esperada.

O consenso do mercado também seguiu em estabilidade para o Produto Interno Bruto do quarto trimestre na pesquisa do Projeções Broadcast. A estimativa intermediária para o PIB de 2023 caiu ligeiramente, de 3,0% para 2,9%, com projeções entre 2,7% e 3,2%.

Esse cenário coaduna com a visão de que o Banco Central vai manter a flexibilização gradual da Selic, no passo de 0,50 ponto porcentual. A taxa básica estimada no fim do ano está entre 9,25% e 9,50%.

Estadão Conteúdo

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