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Economia

Dólar à vista sobe 0,16% e volta a R$ 5,00 com aversão externa ao risco

Operadores observam que houve oscilação de apenas pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,9876) e máxima (R$ 5,0199)

Redação Jornal de Brasília

25/10/2023 18h35

Após uma manhã marcada por trocas de sinal, o dólar à vista operou em leve alta ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quarta-feira, 25, cotado a R$ 5,0017, avanço de 0,16%, interrompendo uma sequência de quatro pregões seguidos de queda. O escorregão do real se deu em meio a uma aceleração da alta das taxas dos Treasuries e ao fortalecimento global da moeda norte-americana. Dados mais robustos da economia dos Estados Unidos voltaram a amparar a perspectiva de alta adicional da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) neste ano e de manutenção de juros elevados por período mais prolongado.

Operadores observam que houve oscilação de apenas pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,9876) e máxima (R$ 5,0199), o que sugere pouco apetite por negócios. A mínima pela manhã foi atribuída à nova alta do minério de ferro, na casa de 3%, com estímulos fiscais na China. 

Contribuiria para limitar as perdas da moeda brasileira nesta quarta o avanço da agenda econômica no Congresso, em especial a possibilidade de votação ainda nesta quarta-feira do projeto de lei para taxar fundos offshore e exclusivos na Câmara, como sinalizado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

“O real está praticamente de lado. O mercado monitora atentamente o desenrolar do conflito entre Israel e Hamas e as movimentações em Brasília em torno da pauta fiscal”, afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, destacando que a moeda brasileira apresentou desempenho melhor que seus principais pares, os pesos mexicano e colombiano, nos últimos cinco dias. “Mantemos nosso cenário de valorização do real por conta dos fundamentos econômicos, sobretudo quando comprado a outros emergentes.”

Lá fora, o dólar ganhou terreno nesta quarta-feira tanto em relação a moedas fortes quanto à ampla maioria de divisas emergentes. Os riscos geopolíticos seguem no radar dos investidores. Teme-se uma ampliação no conflito no Oriente Médio, com envolvimento de outros atores regionais, diante da decisão já expressa Israel de invadir a Faixa de Gaza. As cotações do petróleo voltaram a subir, com o contrato do Brent mirando novamente o nível de US$ 90 o barril.

A manutenção de um dólar globalmente forte também é justificada pelo desempenho da economia americana, que mostra sinais de resiliência a despeito do processo de aperto monetário. No fim da manhã, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou que as vendas de moradias novas no país subiram 12,3% em setembro em comparação a agosto, ao ritmo anual (com ajuste sazonal) de 759 mil unidades, bem acima das expectativas (685 mil unidades).

Investidores aguardam a divulgação na quinta-feira, 26, da primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no terceiro trimestre. Na sexta-feira, 27, sai o índice de preços com gasto com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo BC dos EUA. 

Esses indicadores esquentam o clima para a decisão de política monetária do Fed na próxima quarta-feira, 1º de novembro. A aposta quase unânime é a de que o Fed manterá a taxa básica inalterada, mas vai deixar a porta aberta para uma alta em dezembro.

Bolsa

O Ibovespa acentuou perdas à tarde, acompanhando a piora em Nova York, onde os três principais índices de ações se alinharam em baixa que chegou a 2,43% (Nasdaq) no fechamento, em resposta a novo ‘spike’ nos rendimentos dos Treasuries, em especial os longos, com vencimento em 10 e 30 anos. Assim, a referência da B3 não ficou imune à aversão a risco, renovando mínimas ainda no meio da tarde. Ao fim desta quarta-feira, mostrava perda de 0,82% na sessão, aos 112.829,97 pontos, quase devolvendo a alta de 0,87% do dia anterior, que havia sucedido cinco baixas consecutivas para o Ibovespa.

Nesta quarta-feira, o índice da B3 oscilou entre 112.680,27 e 114.318,65, saindo de abertura aos 113.761,90 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 19,8 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa vira do positivo ao negativo, cedendo agora 0,29%, o que coloca as perdas do mês a 3,20%. No ano, o índice sobe 2,82%

“Em baixa, o Ibovespa acompanhou de forma passiva o que aconteceu lá fora, hoje, com os juros futuros também abrindo por aqui”, diz Bruna Centeno, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, destacando o ajuste tanto em setores expostos à demanda e formação de preços no exterior, como o metálico (Vale ON -0,09%, Gerdau PN -0,37%, CSN ON -0,81%), quanto em segmentos associados ao ciclo doméstico, como o de varejo (Casas Bahia -5,88%) e alimentos (Pão de Açúcar -6,02%), assim como parte do financeiro (Bradesco ON -0,64%, PN -0,28%), o de maior peso no índice. 

Destaque da agenda externa neste meio de semana, o avanço observado nas vendas de imóveis residenciais novos nos Estados Unidos em setembro, bem acima do esperado para o mês, reforçou a percepção do mercado de que a maior economia do globo se mantém firme, o que ainda alimenta receios de que o Federal Reserve, o BC norte-americano, preservará a orientação restritiva para a política monetária do país.

“Esses dados puxaram os rendimentos dos Treasuries para cima, impactando negativamente todos os mercados, especialmente as ações de empresas que têm correlação forte com os juros”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. 

“Faz várias semanas que o mercado vem em modo de ‘sell off’ global, e tem buscado notícias positivas para esboçar alguma reação – a atual temporada de balanços corporativos nos Estados Unidos tem sido, em geral, fator positivo. Mas há muitos pontos de preocupação no cenário e, mais recentemente, tem emergido a situação fiscal dos Estados Unidos”, com efeito para os juros de mercado por lá, aponta Bernard Faust, sócio da One Investimentos

Aqui, a temporada de balanços do terceiro trimestre começou nesta quarta, com os números do Santander Brasil, instituição que, na margem, trouxe avanço acima do esperado para o lucro, embora em desempenho inferior na comparação com o mesmo período de 2022. 

“O banco divulgou resultados levemente acima das expectativas, e já era esperada retração na lucratividade em comparação ao ano passado, diante do contexto mais desafiador. Neste trimestre, começamos a ver a inadimplência arrefecer, ficando em 3% acima de 90 dias, o que é positivo”, diz o analista José Eduardo Daronco, da Suno Research. “À medida que o banco consiga estabilizar a inadimplência, trazendo-a para a média histórica, a carteira de crédito deve voltar a crescer”, avalia.

Na B3, apenas Petrobras (ON +0,28%, PN +0,53%) – em dia de forte avanço do petróleo, com Brent em torno de US$ 90 por barril ante a percepção de risco sobre o conflito no Oriente Médio -, Itaú (PN +0,19%) e Banco do Brasil (ON +0,02%) resistiram em leve alta no fechamento, entre as ações de maior peso e liquidez – a Unit de Santander Brasil encerrou em baixa de 1,75%, na mínima da sessão.

Na ponta perdedora do Ibovespa, além de Casas Bahia e de Pão de Açúcar, destaque também para Weg (-10,11%), Rede D’Or (-5,35%) e Hapvida (-5,15%), com Magazine Luiza (+2,13%), Gol (+1,60%) e Ultrapar (+1,36%) no canto oposto. O desempenho de Weg na sessão foi condicionado pelos resultados trimestrais, também divulgados nesta quarta-feira. “O mercado descontou bastante em cima da empresa, hoje, após resultados aquém das expectativas”, diz Moliterno, da Veedha.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam com viés de queda nesta quarta-feira, após uma sessão volátil, em que as taxas alternaram altas e baixas em ritmo moderado. O mercado operou com um olho na cautela no exterior e outro no andamento das pautas econômicas no Congresso. Dado de atividade acima do esperado nos EUA impulsionou o rendimento dos Treasuries longos, pesando na curva local em boa parte do dia, que teve também nova valorização dos preços do petróleo. 

No Brasil, a perspectiva de votação do projeto de lei de taxação dos fundos de alta renda na Câmara, importante para os planos de arrecadação do governo, ainda nesta quarta trouxe alívio no fim do dia, quando também o mercado aproveitou para ajustar posições antes do IPCA-15 de outubro, na quinta-feira.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou com taxa de 10,915%, de 10,934% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2026 com taxa em 10,78% (mínima), de 10,82% na terça. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 10,97% (11,02% na terça) e o DI para janeiro de 2029 projetava taxa de 11,41%, de 11,44%.

Até o meio da tarde, prevalecia o sinal de alta alinhado à curva dos Treasuries, por sua vez pressionada pelo aumento além do previsto das vendas de moradias novas nos EUA. O resultado reforçou a percepção do “higher for longer” para a política de juros do Federal Reserve e os yields avançaram. “A volatilidade continua elevada. Dados nos EUA de mercado imobiliário vieram muito fortes e acabaram pressionando aqui”, disse o economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano.

Os preços do petróleo também avançaram, com o tipo Brent voltando a se aproximar de US$ 90 por barril, ante a piora da percepção de risco no conflito Israel-Hamas.

Posteriormente, as taxas locais se descolaram de Wall Street, zerando a alta e oscilando com viés de baixa, depois que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou na pauta do dia o projeto de lei que prevê a taxação dos fundos de alta renda (exclusivos e offshore). O texto a ser votado está alinhado com todos os líderes, de acordo com o parlamentar. A decisão vem na esteira da mudança na presidência da Caixa, anunciada no período da tarde, para acomodar um nome indicado por Lira.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conta o projeto para tentar zerar o déficit das contas públicas ano que vem. Segundo apurou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lira e os líderes partidários da Casa decidiram que haverá um esforço concentrado para votações nas próximas duas semanas.

Além disso, as mínimas das taxas curtas no fim do dia sugerem que o mercado passou a trabalhar com a possibilidade de surpresa positiva do IPCA-15 de outubro, na quinta. Na pesquisa do Projeções Broadcast, a mediana das estimativas é de 0,21%, ante 0,35% em setembro. A expectativa é de alívio ainda em preços administrados, de serviços e de serviços subjacentes.

Estadão Conteúdo

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