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Brasília

No primeiro dia de flexibilização do uso de máscaras ao ar livre, opiniões de brasilienses se dividem

Nos parques e locais públicos do Distrito Federal, poucos se arriscaram a tirar as máscaras do rosto nesta quarta-feira (3)

Redação Jornal de Brasília

03/11/2021 18h16

Foto: Gabriel de Sousa / Jornal de Brasília

Gabriel de Sousa
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Entrou em vigor nesta quarta-feira (3), o decreto sancionado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) que flexibilizou o uso de máscaras de proteção em ambientes abertos na capital federal. A nova regulamentação foi publicada no dia 26 de novembro no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), e prevê que em locais como parques, ruas e clubes, o desuso do utensílio será permitido. No texto, o Governo do Distrito Federal (GDF) orienta que em prédios fechados e nos transportes coletivos, o item ainda será obrigatório.

A obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre existia desde o dia 30 de abril de 2020, quando aqueles que descumprissem a regulamentação sanitária, poderiam receber uma multa de R$ 2 mil. Segundo dados do DF Legal, até o início deste mês de novembro, 789 pessoas foram penalizadas. Uma delas foi o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, em junho de 2021, após participar de uma manifestação sem cobrir o seu rosto com o objeto.

Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), a decisão que entrou em vigor nesta quarta-feira (3) foi sancionada devido ao baixo número da taxa de transmissão da doença no DF, que nesta quarta-feira (3) é de 0,77. O valor abaixo de 1 significa que o contágio está controlado, não tenho probabilidades altas de aumentar o contágio entre a população.

No início da tarde desta quarta (3) no Parque da Cidade, poucas pessoas praticavam atividades físicas e descansavam. Nos espaços públicos, quase todos os frequentadores portavam as suas máscaras. Poucos usavam o utensílio de maneira correta, enquanto a grande maioria colocavam-a abaixo dos seus queixos, forma considerada incorreta pelos especialistas de saúde.

Uma dessas raras exceções foi o advogado Luiz Miranda, que mesmo com o parque vazio, utilizava o objeto de proteção sobre o seu nariz e a sua boca. Ele afirmou que apesar da falta de aglomerações, o seu receio não diminuiu. “Eu sinto que usar a máscara é um dever ético, não dá para pensar em punição financeira na hora de ajudar o próximo, é mais do que isso, é pensar na saúde do outro”, observa.

Luiz relembra que a pandemia de coronavírus ainda não acabou, e disse que o governo distrital deveria ter mais cautela nas restrições. “Pensar em liberar só porque a taxa de transmissão diminuiu é muito arriscado. Até porque, ela só diminuiu graças ao uso da máscara e da vacinação”, afirma.

Em oposição ao pensamento do advogado, a flexibilização foi uma ação positiva para a dentista Maria da Cruz, que utiliza o parque diariamente para se exercitar durante o horário de almoço. Segundo Maria, o utensílio dificulta a sua respiração, e é um objeto desnecessário em momentos que ela está ao ar livre, longe de outras pessoas. “Sempre quando eu vejo que não há ninguém por perto eu retiro a máscara. Então, se o planejamento do governo é liberar para casos assim, eu não vejo problema”, explica.

Maria da Cruz afirmou que sempre usa a máscara em locais fechados, e que obriga os três filhos que moram com ela na Candangolândia, a se protegerem com o utensílio. A dentista diz que todos da família já receberam as duas doses da vacina contra o coronavírus, menos o filho menor, que possui apenas 7 anos de idade. “O meu caçula vai ter que usar a máscara porque não recebeu a vacina, mas no futuro, quando os números da pandemia diminuírem ainda mais, eu vou deixar de ser tão cautelosa e irei deixar ele ficar sem”, afirma.

Turistas ficam surpresos com decisão

No espaço público ao redor da Torre de TV, no centro do Plano Piloto, a confeiteira gaúcha Edilene do Carmo, de 56 anos, tirava fotos dos monumentos de Brasília junto com a sua sobrinha Larissa. As duas utilizavam máscaras PPF-2 – a mais recomendada por especialistas de saúde pela sua capacidade de proteção – que cobriam os seus rostos. Elas vieram visitar a capital federal pela primeira vez, e foram surpreendidas ao saber que o uso do objeto ao ar livre não era mais obrigatório no Distrito Federal.

Edilene observou que no estado do Rio Grande do Sul, onde reside com a filha, existem mais pessoas vacinadas com a segunda dose do que no Distrito Federal. Mesmo assim, o governo gaúcho não permitiu a flexibilização do uso de máscaras ao ar livre. “Lá a vacinação tá muito mais avançada do que aqui e utilizamos a máscara como uma parte do corpo. Não entendi porque o governo daqui [do Distrito Federal] liberou o uso na rua tão cedo”, observa.

O Rio Grande do Sul possui 60,98% da sua população vacinada com a segunda dose da vacina contra o coronavírus, enquanto o Distrito Federal possui 54,79% dos habitantes com esquema vacinal completo. Para a confeiteira, vacinar não significa uma completa segurança, e lembra que mesmo com as doses, é possível se infectar pelo coronavírus. “Mesmo se vacinando, tem gente que fica mal, e vai pro hospital. Ninguém quer ver um amigo ou um familiar seu assim”, explica.

Comerciantes que vendem máscaras temem queda de procura

Em Planaltina, a ambulante Joseli Costa, que trabalha vendendo máscaras faciais e roupas para os frequentadores da rodoviária da cidade, foi outra pessoa que recebeu somente nesta quarta-feira (3), a informação da flexibilização do uso de máscaras no Distrito Federal. Ao ser informada, a moradora disse que teme que a decisão diminua a compra dos utensílios. “Eu vendo em média umas 10 por dia, mas acho que agora que só vai poder usar em local fechado, esse número vai diminuir bastante”, observa.

Joseli relembra que começou a vender as máscaras em maio do ano passado, quando passou a fabricar as máscaras à mão, costurando um por um em sua residência no bairro do Vale do Amanhecer. Segundo ela, aprender a confeccionar foi um desafio, porém se tornou algo prático nos dias de hoje: “Antes eu tinha que ter ajuda da internet para fazer uma, agora eu faço umas dez por dia. Eu as vendo nos dias de semana e as faço no sábado e domingo.”

Cada uma das suas máscaras custa 10 reais. Agora, a ambulante comenta que deve diminuir o preço caso a procura pelo produto diminua. Joseli, mora de aluguel com seus dois filhos, e diz que paga grande parte das suas contas do mês com o dinheiro que consegue vendendo na Rodoviária de Planaltina. “O jeito é pensar em outra forma de conseguir ganhar alguma coisa né. Mas eu fico feliz que por um lado, a permissão de usar máscara na rua é um sinal que a pandemia está acabando”, diz a vendedora.

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