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Brasília

Retorno 100% presencial divide opiniões de pais

Alguns reclamam de reajuste na organização familiar enquanto outros consideraram positiva a volta para um melhor desenvolvimento educacional

Redação Jornal de Brasília

03/11/2021 16h56

Foto: Mary Leal/SEE

Elisa Costa e Vítor Mendonça
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O retorno às aulas de forma 100% presencial dividiu opiniões de pais de alunos nesta quarta-feira (3). Tendo dificuldade de ajuste na organização familiar, na Escola Classe 01 Shi-Sul, no Lago Sul, alguns responsáveis reclamaram do fato do retorno acontecer faltando pouco menos de dois meses para o fim do semestre letivo, previsto para 23 de dezembro. Por outro lado, outros consideraram como positiva a volta plena nas unidades de ensino pela possibilidade de um melhor desenvolvimento educacional dos pequenos, em comparação com a aprendizagem à distância.

Na unidade do Lago Sul, todos os professores retornaram ao trabalho presencial, com exceção de duas professoras que estão grávidas e uma orientadora pedagógica que aderiu à greve dos profissionais da educação nesta quarta-feira (3), não havendo, portanto, perda no ensino para que foi à escola hoje.

Mãe da pequena Isabela, de 8 anos, que está no 3º ano do Ensino Fundamental, Maria José Mota, 43, acredita que o retorno 100% presencial foi benéfico para a filha, que poderá absorver os conteúdos de forma mais dinâmica com os professores durante todos os dias, não apenas de forma intercalada nas semanas como estava sendo o ensino anteriormente.

Segundo ela, a nova volta poderá ser ainda melhor para aqueles colegas de classe da filha que, devido a diferentes situações familiares, não puderam ter o mesmo tipo de ensino que a manicure conseguiu dar para Isabela em casa durante o período remoto. “Sou manicure, mas minha formação é em pedagogia, o que me ajudou a acompanhar minha filha – mas mesmo assim foi um desafio grande”, contou.

“Sei que alguns colegas dela não tiveram esse êxito. Muitas crianças em casa não começaram muito bem a aprender a ler, o que é um atraso para elas. Então eu acho importante esse retorno com tudo 100%”, complementou a mãe. Nas conversas que Isabela tem com Maria, ela conta das adaptações feitas na escola por conta das restrições geradas pela pandemia da covid-19, tal como a recomendação de não emprestar o material para os colegas, sempre lavar as mãos, não tirar a máscara, entre outros.

As orientações são todas reforçadas em casa, segundo Maria, para que a filha entenda cada vez mais a importância das medidas de segurança, por mais que queira ficar perto dos colegas. “Estou confiante”, disse a mãe. À reportagem, Isabela contou que gostou muito de ver todos os colegas na escola nesta quarta e que estava com saudades. “Me sinto como se estivesse em 2019”, disse a menina. “Voltou ao normal, só que com a máscara.” Para ela “é moleza” ficar com o item.

Na opinião de Márcia Cristina, 43, no entanto, não há sentido neste retorno 100% presencial. Como ela trabalha como diarista e está sempre prestando serviços em pontos diferentes do DF, levar o filho Reyslan à escola pode não ser possível em muitos dias, sendo uma dificuldade a mais para a educação do filho, uma vez que a plataforma on-line foi desativada.

“Hoje consegui trazer ele porque vou trabalhar aqui perto, mas amanhã talvez ele falte, porque tenho serviço lá em Águas Claras. Mas e nos próximos dias, será que vou conseguir trazer ele?”, questionou. De acordo com ela, a solução seria colocar o filho de 10 anos em uma van ou ônibus escolar, para que não haja o risco do rapaz perder as aulas. Mas este não era um gasto que estava planejado pela família.

“Para mim podiam ter deixado do jeito que estava e colocado essa volta no ano que vem, começando no início do ano. As semanas alternadas já eram difíceis, mas já que estava daquele jeito, que continuasse. Uma semana sim e a outra não é mais fácil para se organizar, mas assim achei muito absurdo. Ele vai faltar bastante, porque se eu deixar de trabalhar para levar ele, ficamos sem dinheiro. Um dia sem trabalho é um dia sem comida”, destacou.

Essa é a mesma opinião de Iara das Graças Silva, 41, que também foi levar a filha Isabela, 9, na mesma escola. “Podia esperar e deixar para o ano que vem. Quebrou nossas pernas”, disse. Ela é empregada doméstica em uma casa no Lago Sul e dorme na residência durante a semana, mas mora em Formosa, no estado de Goiás. “Se eu trabalhasse no Paranoá seria ainda mais complicado”, complementou.

Damião Pereira de Lima, 46, pai do Caio de Jesus, 8, por outro lado, considerou o retorno 100% como “tranquilo”, não fazendo grande diferença na rotina da família, que mora no Jardim Botânico. “Vejo que a escola tem adotado as medidas de segurança. Até peguei a covid-19 e melhoramos recentemente. A gente [pai, mãe e filho] não teve nada grave”, disse.

Segundo ele, o desenvolvimento pedagógico do filho não foi prejudicado pelo ensino remoto. “Mas na escola é bem melhor [para aprender com os exercícios]. Só que muitos pais e professores não querem. Ligamos para saber da escola e trouxe ele hoje”, finalizou o pai.

Retorno contra evasão

Nessa quarta-feira (3), mais de 450 mil estudantes do DF voltaram às escolas para o ensino em modo 100% presencial, após o governo local destacar a medida como forma de combater a evasão (ou abandono) escolar. O avanço da vacinação na capital e a queda na taxa de transmissão da covid-19 também foram fatores determinantes para o retorno. Desde julho deste ano, as aulas aconteciam em formato híbrido, ou seja, alternadas entre virtual e presencial.

“Os estudantes são o centro do nosso trabalho. É na escola que desenvolvemos valores como socialização, cidadania e aprendizagem para que o aluno seja realmente protagonista da sua história. A família e o estudante precisam da escola e do retorno à rotina que está ocorrendo de forma segura”, destacou a secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, a respeito da importância da retomada das atividades presenciais.

As 686 escolas da rede pública de ensino do DF vão manter o ensino remoto para aqueles estudantes que apresentarem um laudo médico ou assinarem um termo de compromisso. Para transmitir conforto aos estudantes, pais e profissionais da educação a respeito do retorno presencial, a secretária da Educação, Hélvia Paranaguá, declarou através das redes sociais: “Todas as escolas já vêm cumprindo os protocolos de segurança.”

Protestos

No mesmo dia, professores da rede pública e integrantes do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) paralisaram suas atividades e realizaram um ato em frente ao Edifício Phenícia (sede da Secretaria de Educação do DF) para contestar o retorno. Em torno de 100 pessoas compareceram ao local entre as 9h e as 10h da manhã.

Segundo o grupo, o retorno é um risco para a comunidade escolar: “Não há devidas condições sanitárias e estruturais para receber todos os estudantes da rede pública.” Em contrapartida, a Secretaria de Educação do DF informou no dia anterior, que os servidores que aderissem à paralisação teriam o ponto cortado, ou seja, não receberiam o valor do dia trabalhado.

Não houve aula no Centro de Ensino Fundamental 01 do Gama e nem no Centro de Ensino Médio do Paranoá, que fecharam as portas para aderir à paralisação. O CEF 01 do Núcleo Bandeirante fechou apenas durante o período da tarde. O Centro de Ensino Médio Setor Leste, o Centro de Ensino Médio Paulo Freire e o CEF 01 do Riacho Fundo aderiram parcialmente e algumas turmas ficaram sem aula, apesar dos espaços terem funcionado normalmente. Não foram afetados pelo ato a Escola Classe 01 do Lago Sul, o CEF 28 de Ceilândia, o CEF 209 de Santa Maria, o CEF 10 do Guará e outros.

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