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Brasília

Horas após viver cenas de guerra, centro de Brasília amanhece com normalidade

A Secretaria de Segurança Pública decidiu reforçar o policiamento na região central da capital federal. Trabalhadores temem por escalada de violência

Redação Jornal de Brasília

13/12/2022 14h55

Foto: Divulgação

Gabriel de Sousa
[email protected]

O amanhecer no Setor Comercial Norte, na zona central de Brasília, teria sido como o de costume das terças-feiras brasilienses, se não fossem as cápsulas de balas não-letais espalhadas pelo chão, o cheiro de queimado espalhado pelo ar e um ônibus carbonizado estacionado na frente de uma delegacia danificada por apedrejamentos.

O vai e vem de trabalhadores para os seus empregos também estava bem diferente do habitual. As suas conversas matinais abordavam uma história digna de roteiros de filmes de guerra, mas que havia acontecido na esquina há poucas horas e com rastros ainda bem visíveis.

Na noite desta segunda-feira (12), como noticiado pela nossa edição de ontem do Jornal de Brasília, manifestantes bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, atearam fogo em três carros e em cinco ônibus, e danificaram a entrada da 5º Delegacia de Polícia. Houve um confronto com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), porém, não houve o registro de pessoas detidas ou feridas com gravidade.

Para manter a ordem nos arredores do prédio da Polícia Federal, contingentes e viaturas da PMDF estiveram em guarnição no Setor Comercial Norte, além de outros pontos estratégicos da zona central de Brasília, como no prédio onde está hospedado o presidente eleito e diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No início da manhã, helicópteros policiais sobrevoaram a região do prédio da Polícia Federal e do Quartel-General do Exército, onde bolsonaristas se encontram acampados desde o segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro.

Medo da violência

O dia foi atípico para Maria Auxiliadora, que trabalha em um quiosque de lanches próximo ao epicentro dos confrontos entre bolsonaristas e policiais militares. Ela conta que não foi trabalhar na segunda-feira, e revela ter sentido medo de ter o seu empreendimento vandalizado pelos manifestantes. “Eu fiquei vendo o que me mandavam, e não consegui dormir pensando que eles tinham quebrado tudo aqui. Foi uma benção quando eu vi que estava tudo bem”, afirma.

A região, que segundo a vendedora, sempre se caracterizou pela tranquilidade, terá uma nova característica daqui para frente. Maria conta que irá sentir medo de ficar com o negócio aberto até o fim da tarde, e planeja fechar o estabelecimento antes do horário habitual: “Vou fechar mais cedo, quando ainda tiver muito movimento. Ninguém sabe o que está por vir, principalmente se continuar deixando eles [os manifestantes] fazerem o que eles quiserem”.

Para o cozinheiro Ramon Menezes, que trabalha no Brasília Shopping, há poucos metros da sede da Polícia Federal, os próximos dias também serão de muita cautela ao andar pela região. Segundo ele, os ataques promovidos pelos bolsonaristas devem ter efeito na circulação de clientes nesta reta final de ano, época tão esperada pelos empreendedores por conta das festas de fim de ano.

“Eu acho que vai ter gente que vai sentir medo de vir por aqui [o shopping center], principalmente pela noite. Bom, eu falo por mim, que tenho mulher e filho que está com medo de eu não conseguir voltar para casa. […] É um momento que a gente estava esperando que fosse diferente, a gente já se cansou de tanta violência”, conta o cozinheiro.

Ninguém foi preso

Em uma nota enviada para a equipe de reportagem do Jornal de Brasília, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que os atos de vandalismo haviam sido controlados pela PMDF já no fim da noite, contando com o reforço de tropas especializadas para manter a ordem e proteger o patrimônio público.

Na noite da segunda, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF) atuou no controle de trânsito, apoiando a PM e os órgãos responsáveis na desobstrução de vias e na retirada dos veículos carbonizados. O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), durante todo o processo, atuou na contenção dos incêndios e prestou um suporte preventivo a possíveis feridos com atendimento pré-hospitalar. Nos foi comunicado que um senhor, de 67 anos, passou mal e foi atendido, sendo conduzido pela corporação à UPA de São Sebastião. No momento do seu atendimento, ele estava consciente, orientado e estável.

A nota da SSP/DF destaca que ainda não foram constatadas prisões relacionadas aos distúrbios civis ocorridos. Segundo a pasta, a operação de ontem focou em “reduzir os danos e para evitar uma escalada ainda maior dos ânimos”, com a ação da Polícia Militar se concentrando em dispersar os manifestantes.

Segundo a Segurança Pública do DF, esses atos, praticados por grupos isolados, estão sendo apurados pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), e reitera que os participantes, assim que forem identificados, serão responsabilizados pelos crimes cometidos. “A PF, por sua vez, deverá apurar os crimes relacionados aos atos que atentem contra a instituição e crimes de natureza federal”, destacou o informativo recebido pelo JBr.

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