Nos deparamos recentemente com o anúncio da separação inusitada de Gusttavo Lima e Andressa Suita como mais um exemplo de separação entre celebridades com milhões de seguidores. Outro exemplo recente é o do fim do casamento do comediante Whinderson Nunes com a cantora Luisa Sonza. Nos perguntamos, como fomos pegos de surpresa por separações de pessoas cujas vidas são tão expostas. Aparentemente, segundo os tabloides, a principal interessada, a bela Andressa Suita, parece ter sido pega de surpresa também. Será?
É provável que alguns(ma) leitor(a)s já tenham passado por rompimentos aparentemente súbitos, seja quando solicitaram o término, seja quando tenham sido surpreendido(a)s com o fim. Com eventos assim, rapidamente perguntam à(ao)s psicóloga(o)s, “é possível uma separação do nada?” ou “de uma hora para a outra?”

Whindersson Nunes e Luisa Sonza. Foto: Reprodução/Instagram
Vou encarar essas questões por dois ângulos:
O primeiro é iniciado com duas perguntas em troca. “É possível um casamento acontecer do nada” ou “de uma hora para a outra?”. É muito comum vermos pessoas firmarem compromissos de amor eterno no chamado fogo da paixão. Quem já esteve apaixonado(a), sabe como é a sensação. Em primeiro lugar, o foco da atenção é praticamente totalmente dedicado à outra pessoa. Tudo passa a fazer sentido, desde que ele(a) esteja por perto. Coração disparado quando se vê ou pensa na outra pessoa. A libido à mil. Esse é um momento de certezas, dentre elas, a de que queremos ficar com essa pessoa pelo resto da vida. Todavia, é um momento ruim para tomar decisões que teoricamente seriam para a vida toda, uma vez que as paixões acabam ou, no mínimo, esvanecem. Sendo assim, compromissos apressados assumidos por pessoas apaixonadas têm grande chance de serem quebrados.
O grande problema da paixão é que frequentemente nos apaixonamos por um protótipo de pessoa que não existe. Quando conhecemos a pessoa de verdade, o que requer tempo, frequentemente matamos a ilusão ao ver que a pessoa real é bem diferente do ideal construído por nós. Às vezes, damos sorte e passamos a gostar da pessoa real pelo que ela é, ainda que, dificilmente, o sentimento seja equiparável ao que temos pela pessoa idealizada. Quando isso acontece, o relacionamento pode perdurar. Todavia, quando isso não acontece, o rompimento é praticamente inevitável e costuma ser súbito e injustificado ao se verificar as juras de amor proferidas quando apaixonados.
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O segundo ângulo diz respeito à falta de habilidades sociais. Mente quem diz que a pessoa com a qual mantém relacionamento é perfeita e não precisa mudar em nada. O convívio entre pessoas, por mais que se gostem, costuma ser repleto de atritos, afinal, não gostamos das mesmas coisas e nem sempre concordamos como agir em todas as situações. E olha que eu nem entrei nos tópicos traição e ciúme. Para manter nossos relacionamentos duradouros, além de dar carinho, atenção, sexo e cuidado, precisamos ter aquelas conversas chatas, do tipo: não gostei do que você fez; o jeito que você falou comigo me magoou; eu preciso que você partilhe as tarefas domésticas comigo; quero que você me dê mais atenção e carinho; entre diversos outros exemplos. Além disso, precisamos ouvir as demandas do(a) outro(a) sem ficarmos na defensiva. Devemos estar aberto(a)s e conversarmos sobre a viabilidade das demandas da outra pessoa, reconhecendo a legitimidade de seus sentimentos. Precisamos aprender a negar, expressar emoções, expressar desagrado e fazer pedidos de um modo assertivo, ou seja, de modo a não nos anularmos, sem, necessariamente magoar a outra pessoa. Déficits em habilidades sociais representam demandas de diversos terapeutizandos (usuários de serviços de psicoterapia) e muito tempo do tratamento é destinado a desenvolvê-las.
Mas qual a relação disso com os términos súbitos? Na medida em que não ajudamos a outra pessoa a entender como queremos ser amados e não fazemos alguns ajustes na nossa conduta para amar a outra pessoa como ela deseja ser amada, estamos sendo coniventes com a morte do afeto. Se não conseguimos dizer o que está errado, não há meios dos problemas serem corrigidos. É como não trocar o óleo do carro. Para o(a) leigo(a), raramente um carro com óleo lubrificante velho dá sintomas de que o motor vai fundir. Se o óleo não é trocado, uma hora o motor funde. E funde “do nada” ou “de uma hora para outra”. Se não damos oportunidade de ajustes num relacionamento, mesmo que impliquem conflitos, é muito provável que nós mesmos ou a outra pessoa deixemos de ver sentido naquele relacionamento e o rompimento é brusco.
Por esse ângulo, portanto, não é “do nada” ou “de uma hora para outra” e sim, resultado de omissões, silêncios e de conflitos evitados. Temos uma ilusão de que sabemos nos relacionar afetivamente. Nossos pais, que foram nossos principais modelos, com raras exceções, também não sabiam se relacionar de modo saudável.
Para concluir esse texto, a recomendação para o(a) leitor(a), se algo te incomoda no relacionamento, compartilhe com o(a) seu(ua) parceiro(a) ou busque ajuda. A omissão e os silêncios matam devagar, mas quando nos damos conta, não há muito o que fazer. Daí, o fim vem “do nada” ou “de uma hora para outra”.
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