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Saúde

Setembro Amarelo: sabemos identificar sinais de uma pessoa com comportamento suicida?

Entendemos que a saúde mental é algo sério, e por isso ela deve ser tratada com respeito, clarificando as pessoas sobre as doenças da mente

Redação Jornal de Brasília

23/09/2021 16h02

Foto: Reprodução/Secretaria de Saúde

É importante falar que o mês de setembro amarelo é dedicado a ações de psicoeducação e o objetivo é quanto mais falar sobre suicídio, mais traremos a oportunidade e a legitimidade das pessoas a tratarem seus transtornos e doenças mentais. Entendemos que a saúde mental é algo sério, e por isso ela deve ser tratada com respeito, clarificando as pessoas sobre as doenças da mente e sobre os tratamentos que essas doenças envolvem.

Frases como “quero desistir de tudo”, “nada mais faz sentido”, “chegou minha hora”, “preciso acabar com meu sofrimento” são típicas de quem está pensando ou planejando tirar a própria vida. Você sabia que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo? De acordo com o relatório “Suicide worldwide in 2019”, publicado pela OMS, todos os anos mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama ou até guerras e homicídios. Nesse momento, toda a ajuda especializada é necessária para entender o que se está passando na cabeça da pessoa, quais razões e o que pode ser feito para essa ideia ser mudada.

Um ponto que tem que ficar bem claro é de que o suicídio não acontece do nada, na maioria das vezes, a pessoa já traz sinais visíveis de que quer cometer o ato. Na psicologia então vemos 5ds que mostram a intenção de um suicida, que são eles a depressão, o desespero,o desamparo, a desesperança e a dependência química. É preciso prestar atenção nesses sinais e orientar essa pessoa a procurar uma ajuda especializada.

Quando a pessoa está com depressão, sinais psíquicos como humor depressivo (rebaixamento afetivo), redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis, fadiga ou sensação de perda de energia e diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou tomar decisões, são sinais de um alerta importante.

No caso de sinal de desespero, seja ele por um medo relacionado a algum aspecto emocional, profissional, financeiro, espiritual, a pessoa só consegue pensar no quanto ela se sente impotente a realizar algo, a enfrentar algo. O desespero faz com que a pessoa não raciocine, não consiga lidar bem com determinada situação. É um fator que influencia e muito na tomada de decisão do suicídio.

Quantas vezes não nos sentimos desamparados por algum motivo, principalmente pela falta de apoio das pessoas que estamos próximos? Nada do que fazemos é suficiente, se não tivermos um suporte seja de um ente querido, um amigo. As pessoas se sentem desamparadas e se frustram criando expectativas no outro, por isso, não acreditam que sejam auto suficientes e que tenham força para lidar com os seus problemas. Outro gatilho importante para a tentativa de suicídio.

‘Nada mais está bom, nada mais irá melhorar’. Esse é o pensamento da pessoa que já está desacreditado de tudo e de todos. Ela não pensa que dias ruins vão e vem, que dias melhores estão por vir. A todo o momento, ela só imagina a dor, o sofrimento por algo que está passando, e com isso acha mais fácil acabar com a própria vida.

Mais um sinal importante de prestar atenção é a dependência química, que envolve um comprometimento biológico, onde a pessoa projeta uma sensação de prazer e de felicidade nas drogas e bebidas, fazendo com que ela deixe de lidar com as frustrações do dia a dia ou as incertezas de forma lúcida. A dependência química leva a pessoa a pensar em um falso prazer e ter um rebaixamento afetivo muito intenso, tendo comportamentos de risco.

Um ponto ainda muito importante que não podemos esquecer é que o álcool é a droga mais usada no país. As conclusões estão no 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, produzido pela Fiocruz e divulgado em 2019. Por ser uma droga aceita pela sociedade, as pessoas acham que está tudo bem em beber duas taças de vinho para dormir. O que acontece é que o álcool é um ativador do sistema nervoso central e um depressor também. Quando ele atua no nosso corpo, há um estado de euforia muito alto, mas no momento seguinte, o rebaixamento afetivo leva a pessoa a uma depressão profunda acarretando vários danos para a saúde mental e impulsos de ideação suicida.

Suicídio no Brasil

Apesar de ser um assunto muito sério e que deve ser debatido, o tema ainda é tratado como tabu. Muitas pessoas acreditam que quanto mais falar sobre o tema, mais pessoas terão o pensamento de cometer o suicídio. As pessoas com acesso à informação podem buscar o conhecimento que precisam e desmistificar os mitos acerca do tema, aqueles famosos ditos populares ‘ah isso é frescura’, é coisa de gente fraca’ e ainda ‘é coisa do diabo”.

Os números preocupam, precisamos falar. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895, com variação de apenas 0,4% em relação a 2019, quando foram registrados 12.745 casos. Os estados que apresentaram maior número, repetindo o ano anterior, foram São Paulo, Minas Gerais e Porto Alegre, nessa ordem.

Vamos cuidar mais da nossa saúde mental e também pensar mais no próximo. Diga uma palavra de apoio e incentivo para quem você conhece, mesmo que seja de forma virtual. Às vezes uma atitude é crucial para evitar uma tragédia. E o mais importante, não se cale! Se você é uma pessoa que está passando por algum problema e chegou a pensar no assunto, busque ajuda especializada. Converse e exponha o que está sentindo. Sua vida é o seu bem mais precioso.

Perfil

Andréa Chaves é Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, e atua no Núcleo de Saúde Mental do Samu, no Distrito Federal, única unidade de emergência no Brasil que possui equipe dedicada especialmente ao atendimento psíquico. Ela criou ainda o projeto “Cuidando de quem cuida” com a finalidade de ajudar os servidores do SAMU. Andréa integra ainda a Comissão de Prevenção ao Suicídio e Automutilação da Câmara Federal e atua também na Câmara de Prevenção ao Suicídio de Recife, em Fernando de Noronha.

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