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Política & Poder

RenovaBR ganha dimensão de partido e mira 2024 com nomes do PT ao PL

Dos 174 mandatários (em exercício de mandato), a maioria (140) é de vereadores, mas também há prefeitos, vices, deputados estaduais e federais e um senador

FolhaPress

11/05/2023 10h01

Foto: BBC

JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP

Seis anos e três eleições depois de sua criação, a escola de novos políticos RenovaBR adquiriu alcance comparável ao de partidos -com centenas de ex-alunos em funções nos diferentes níveis de poder- e começou a selecionar candidatos para as disputas municipais do ano que vem.

A ausência de agendas específicas é o argumento usado pela instituição privada para desestimular a comparação com legendas tradicionais, mas a analogia cabe quando se olham os números da organização suprapartidária, que abriga representantes das 31 siglas em atividade no país.

Juntos, candidatos formados pelo Renova amealharam 6,8 milhões de votos nas eleições de 2022, espalhados por 20 estados. Há hoje 635 integrantes em cargos eletivos, administrativos e partidários, desde vereadores em rincões até membros do alto escalão federal em Brasília.

Dos 174 mandatários (em exercício de mandato), a maioria (140) é de vereadores, mas também há prefeitos, vices, deputados estaduais e federais e um senador, Alessandro Vieira (PSDB-SE).

No total, quase 2.100 pessoas frequentaram os cursos gratuitos de formação teórica e estratégia de campanha, bancados por doadores que apoiam o projeto fundado em 2017 pelo empresário e investidor Eduardo Mufarej. Ele é agora integrante do conselho executivo, ao lado de figuras como o apresentador Luciano Huck, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e a economista Ana Carla Abrão.

Nesta terça-feira (9), o Renova abriu as inscrições do processo seletivo para os que pensam em concorrer em 2024. Uma lista prévia já contava com 7.800 interessados em entrarem na instituição, que ajudou a projetar novatos como Tabata Amaral (PSB-SP), Luiz Lima (PL-RJ) e Vinicius Poit (Novo-SP).

O cadastro, aberto até 28 de julho, é seguido de testes que aferem, por exemplo, integridade e espírito de liderança. Pessoas de qualquer partido e também sem filiação são aceitas, desde que se comprometam a seguir os princípios democráticos e queiram discutir política com base em dados e evidências.

“Nós temos tantas pessoas que pensam diferente que seria difícil imaginar algo como uma legenda partidária com ideologia única”, diz Patrícia Audi, que desde janeiro é CEO da escola e costuma falar na amplitude “do PT ao PL” para se referir à pluralidade da rede.

Uma novidade da atual seleção é que agora também pode se inscrever quem já tenha exercido um mandato. Antes, só inexperientes podiam entrar. A nova regra atende a ex-alunos que tenham sido eleitos e estejam em busca da formação para prefeitos e vereadores, com aulas virtuais e presenciais.

“Estamos aqui para ajudar os novos, mas também os bons que já estão na política e querem se aperfeiçoar”, afirma a diretora-executiva. Serão criadas duas turmas (uma no próximo semestre e outra no início de 2024). O número de vagas ainda será definido.

Critérios como gênero, raça e região também são considerados na peneira. Do total de participantes até hoje, 34% foram mulheres e 39% foram pretos, pardos ou indígenas, conforme dados internos. Numa segunda fase da escolha, a entidade vai abordar figuras com potencial sugeridas por ex-alunos e partidos.

Patricia, em mais de 30 anos de carreira, combinou passagens pelo setor público e pela iniciativa privada -até o ano passado era vice-presidente do banco Santander no Brasil. Ex-servidora concursada, ela também combateu o trabalho escravo como líder local da Organização Internacional do Trabalho.

No Renova, tem buscado diálogo com partidos para quebrar resistências ao grupo, valendo-se da experiência de quem já trabalhou direta ou indiretamente com políticos de diferentes espectros, como José Múcio Monteiro, Eliseu Padilha, Flávio Dino, Valdir Simão, José Gregori e Rodrigo Neves.

A executiva sucedeu Irina Bullara, que hoje presta consultoria ao PSDB no plano de renovação do partido.

No Brasil, os partidos detêm a exclusividade da participação eleitoral, e a filiação é condição obrigatória para quem quiser concorrer. O Renova já foi criticado por siglas como PDT e Novo, que ensaiaram vetar egressos do curso alegando risco de interferência. Hoje, o clima é mais amigável.

A intenção, segundo Patricia, é mostrar que a escola pode contribuir na identificação e formação de novos líderes, como um complemento ao trabalho dos partidos. “Eles têm visto com bons olhos.”

Em sua trajetória, a escola estreou nas urnas em 2018, numa eleição marcada pelo discurso antissistema e pela rejeição aos políticos, passou por 2020 e a excepcionalidade da pandemia, que atravessou o pleito e iluminou gestores experientes, e chegou até 2022, sob a polarização que ainda se faz presente.

Patricia, que indica concordar com o diagnóstico, diz que “não há melhor forma de melhorar a política a não ser pela política”. Logo após os atos golpistas de 8 de janeiro, ela afirmou em entrevista à Folha que o ataque reforçava “a importância da existência de escolas de democracia e de liderança política”.

Com trânsito no Congresso, Patricia evita comentar a dificuldade do governo Lula (PT) para ter base de apoio. A CEO faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, o Conselhão.

Quando compunha a gestão Michel Temer (MDB), ela chegou a ser secretária-executiva do colegiado.

Além da preparação de novos quadros, a entidade vem intensificando a assistência a apadrinhados que estão em cargos públicos, mas nega interferência ideológica -temor apontado no início por detratores do projeto. O Renova diz se tratar de um acompanhamento técnico sobre temas relevantes.

Em fevereiro, foi promovido em Brasília um seminário sobre reforma tributária com a participação de Bernard Appy, secretário do Ministério da Fazenda. Na plateia estavam parlamentares como Tabata, que é deputada e pré-candidata a prefeita de São Paulo, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

A instituição oferece algumas de suas atividades para políticos que não foram seus alunos, caso de Moro, no intuito de ajudar a qualificar os debates. Um encontro sobre sustentabilidade e economia de baixo carbono ocorrerá neste mês, também aberto para parlamentares desvinculados da escola.

“Num momento de polarização, nós podemos abranger pessoas com pensamentos diferentes, dos mais variados espectros ideológicos, e trazer para a sala de aula, para um ambiente de conhecimento. Queremos ajudar a discutir um projeto de país”, diz Patricia.

ALGUNS EX-ALUNOS QUE SÃO MANDATÁRIOS OU OCUPAM CARGOS DE GESTÃO

– Camila Jara (PT-MS), deputada federal
– Daniel Soranz (PSD-RJ), deputado federal
– Guto Zacarias (União Brasil-SP), deputado estadual
– Luiz Lima (PL-RJ), deputado federal
– Marina Helou (Rede-SP), deputada estadual
– Pedro Aihara (Patriota-MG), deputado federal
– Samuel Viana (PL-MG), deputado federal
– Tabata Amaral (PSB-SP), deputada federal
– Augusto de Arruda Botelho (PSB-SP), secretário nacional de Justiça
– Joenia Wapichana (Rede-RR), presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas)
– Felipe Rigoni (União Brasil-ES), secretário estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo
– Lucinha Mota (PSDB-PE), secretária estadual de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco
– Rossieli Soares (PSDB-SP), secretário estadual de Educação do Paraná
– Washington Bonfim (PSB-PI), secretário estadual de Planejamento do Piauí
– Aline Torres (MDB-SP), secretária municipal de Cultura de São Paulo
– Marcelo Calero (PSD-RJ), secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro

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