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Ucrânia teme bombardeio russo contra Odessa; retirada de civis é interrompida em Mariupol

O exército ucraniano informou no Facebook que seus “principais esforços estão concentrados em defender a cidade de Mariupol”

Redação Jornal de Brasília

06/03/2022 13h17

A retirada de civis do porto ucraniano de Mariupol – cercado por tropas russas – foi interrompida, anunciou neste domingo a Cruz Vermelha, enquanto o presidente ucraniano advertiu que a cidade estratégica de Odessa pode ser alvo de bombardeios.

O exército ucraniano informou no Facebook que seus “principais esforços estão concentrados em defender a cidade de Mariupol”. Mariupol – um porto estratégico no Mar de Azov – está há vários dias sob intenso cerco russo, sem energia elétrica, água e alimentos. Várias tentativas de retirar os civis foram suspensas por violações do cessar-fogo anunciados.

A queda deste porto representaria um ponto de virada na guerra porque permitiria à Rússia unir as tropas que avançam a partir da península da Crimeia – anexada por Moscou em 2014 – com as forças que entram no país a partir da região de Donbass, no leste.

Neste domingo, as autoridades ucranianas de Mariupol anunciaram que haviam estabelecido com os russos um cessar-fogo e o início da retirada da população civil ao meio-dia (7H00 de Brasília).

Poucas horas depois, no entanto, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou que a retirada foi “interrompida”.  “Em meio a cenas devastadoras de sofrimento humano em Mariupol, hoje foi interrompida a segunda tentativa de retirar quase 200.000 pessoas da cidade”, afirmou o CICV em um comunicado.

Uma tentativa anterior de retirar civis desta cidade de 450.000 habitantes, bombardeada há vários dias pelos russos e seus aliados dos territórios separatistas da região de Donbass, fracassou no sábado, depois que os dois países trocaram acusações sobre desrespeito aos compromissos assumidos.

O prefeito da cidade, Vadim Boitchenko, afirmou em uma entrevista publicada no YouTube que “Mariupol não existe mais” e que há milhares de feridos. 

“Corpos por todos os lados”

Mais ao norte, em Kiev, os bairros operários nas proximidades da capital, como Bucha e Irpin, já estão na linha de fogo e os últimos ataques aéreos convenceram muitos moradores de que chegou o momento de fugir.  “Eles estão bombardeando áreas residenciais, escolas, igrejas, prédios, tudo”, lamentou a contadora Natalia Didenko.

Em Bilohorodka, quase no limite da capital, as tropas ucranianas colocaram explosivos na última ponte que permanece de pé para tentar frear a ofensiva russa. “Esta é a última ponte, vamos nos defender e não vamos permitir que cheguem a Kiev”, afirmou um combatente que se identificou apenas como “Casper”. 

Em Chernihiv, uma cidade próxima da fronteira com Belarus e Rússia, dezenas de civis morreram. “Havia corpos por todos os lados. As pessoas estavam esperando para entrar na farmácia aqui e estão todas mortas”, disse à AFP um homem que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, Serguei, em meio ao barulho das sirenes de alerta. 

Correspondentes da AFP observaram cenas de devastação no local, apesar de Moscou insistir que não ataca áreas civis.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, denunciou que as tropas russas se preparam para bombardear Odessa, uma cidade estratégica e principal porto do país, que tem quase um milhão de habitantes.  “Estão se preparando para bombardear Odessa. Odessa!”, afirmou Zelensky em uma mensagem de vídeo.

“Será um crime militar. Será um crime histórico”, declarou o presidente, no momento em que as tropas russas avançam a partir do sul do país.

Pouco depois, Zelensky anunciou que ataques russos com mísseis destruíram o aeroporto de Vinnytsia, no centro do país

Ucrânia pede aviões

Zelensky também criticou os países ocidentais por sua recusa a impor uma zona de exclusão aérea na Ucrânia e não fornecer aviões de combate à Força Aérea ucraniana. “Repetimos todos os dias: fechem o espaço aéreo da Ucrânia, fechem aos mísseis russos, aos aviões de combate russos, a todos estes terroristas”, disse o presidente.

“Somos humanos e é seu dever humanitário nos proteger”, acrescentou. “Se não fizerem isto, se não entregarem aviões para nos proteger, só podemos chegar a uma conclusão: vocês também querem que nos matem lentamente”, denunciou.

A Ucrânia insiste em pedir o aumento da ajuda militar por parte dos países ocidentais, incluindo a entrega de caças. O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que seu país está “trabalhando ativamente” em um acordo com a Polônia para o envio de caças à Ucrânia. 

Países ocidentais enviaram armas, munições e recursos a Kiev. Na semana passada, Washington autorizou uma entrega recorde de material militar avaliado em 350 milhões de dólares. Mas os aliados da Otan rejeitaram até o momento o pedido da Ucrânia para uma zona de exclusão aérea, para tentar evitar um agravamento imprevisível do conflito. 

O presidente russo Vladimir Putin advertiu que se uma zona de exclusão aérea for imposta, haverá “consequências colossais e catastróficas não apenas na Europa, mas em todo o mundo”, pois qualquer movimento neste sentido será considerado pela Rússia como “participação no conflito armado.

Sanções

Em resposta à invasão, a cada dia aumenta a lista de sanções impostas pelo Ocidente. No sábado, as gigantes dos cartões de crédito Visa e Mastercard anunciaram a suspensão das operações na Rússia. 

Em um sinal de que a estratégia começa a afetar a Rússia, o governo de Moscou anunciou um racionamento diante da preocupação com o possível surgimento de um mercado clandestino diante das sanções. Putin criticou as sanções como “uma forma de guerra contra a Rússia”. 

Como parte da frenética atividade da diplomacia, Zelensky anunciou neste domingo que conversou por telefone com o presidente americano Joe Biden. O presidente francês, Emmanuel Macron, conversou por uma hora e 45 minutos com Putin. 

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan também tentou atuar como mediador com o colega russo e pediu um “cessar-fogo geral urgente”. 

E o papa Francisco fez um apelo para a instauração de “verdadeiros corredores humanitários” para ajudar os civis na Ucrânia.

Dez dias após o início da invasão, 1,5 milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia, segundo a ONU, que Esta considera o atual êxodo “a crise de refugiados de crescimento mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”. 

A guerra já teve consequências econômicas não apenas para a Rússia. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que seus impactos seriam “ainda mais devastadores” em caso de intensificação do conflito.

A principal consequência imediata foi o aumento do preço do petróleo, pois a Rússia é o terceiro maior exportador de petróleo bruto do mundo.

Agence France-Presse

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