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Economia

Ibovespa cai a 130.804 pontos com realização de lucros acumulados; dólar sobe a R$ 4,91

Em meio ao noticiário escasso e a uma liquidez reduzida por causa do fim de ano, o índice passou a maior parte do dia próximo da estabilidade

Redação Jornal de Brasília

20/12/2023 18h53

Foto: Reprodução/ Flickr

O Ibovespa caiu 0,79% hoje, a 130.804,17 pontos, pressionado por um movimento de realização de lucros após ter atingido uma nova máxima histórica no fechamento ontem. Dos 86 papéis que compõem o índice, 67 encerraram o dia em baixa, corrigindo as altas anteriores. Em contrapartida, as ações da Petrobras sustentaram ganhos ao longo do dia e ajudaram a moderar as perdas da referência da B3.

Em meio ao noticiário escasso e a uma liquidez reduzida por causa do fim de ano, o índice passou a maior parte do dia próximo da estabilidade e, até a última hora do pregão, tinha oscilado menos de mil pontos entre a mínima e a máxima, quando chegou aos 132.340,75 pontos (+0,37%). Mas, no fim da sessão, a virada para baixo das bolsas de Nova York deu o sinal para a realização de lucros e acelerou as perdas, até a mínima de 130 709,80 pontos (-0,87%), acompanhando a virada de Vale ON para o negativo.

“Na ausência de novas notícias e depois de o mercado ter superado duas vezes seguidas a máxima histórica, é natural vermos alguma realização aqui”, afirma o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno. O principal destaque do noticiário doméstico foi a promulgação da reforma tributária, aprovada na última sexta-feira, 15. “O Ibovespa acompanhou o mercado externo o dia inteiro e ficou lateralizado durante a maior parte do pregão.”

Os índices acionários de Nova York, que passaram boa parte da sessão no azul, viraram para o negativo à tarde e bateram mínimas após as 17 horas, puxando a piora da Bolsa aqui. No fim do dia, caíram entre 0,27% (Dow Jones) e 1,50% (Nasdaq). Também na última hora do pregão, outros ativos domésticos sucumbiram à realização: o dólar subiu a R$ 4,9120 no fechamento, alta de 0,99%, e os juros futuros reduziram a queda.

Em meio a perdas generalizadas na Bolsa brasileira, com todos os índices setoriais no vermelho no fechamento, os ganhos da Petrobras, entre 0,36% (PN) e 0,18% (ON), foram responsáveis por moderar as perdas do Ibovespa. A empresa se beneficiou hoje da alta dos preços do petróleo e de um aumento no seu rating pela S&P, de BB- para BB, um dia após a agência de classificação de riscos ter elevado também a nota do Brasil, na mesma magnitude.

O setor financeiro foi o mais penalizado do Ibovespa hoje, com baixa de 1,37% do IFNC, seguido pelo setor de consumo, com queda de 1,04% do ICON. Segundo o sócio da One Investimentos Rafael Schmidt, a fraqueza da Bolsa brasileira hoje parece responder a uma correção geral dos mercados, que tiveram desempenho positivo nas últimas semanas.

“Lá fora, o comportamento dos mercados mostra que não tivemos um fluxo tão forte para a Bolsa hoje, e a alta do dólar é um indício de que não entrou muito capital aqui, como aconteceu nos últimos dias. Mas podemos interpretar que é um movimento normal, com o mercado corrigindo depois de o Ibovespa ter ficado muito forte desde a segunda quinzena de dezembro”, afirma.

Dólar

Depois de ter registrado ontem o menor nível de fechamento em um mês no mercado à vista, o dólar zerou as perdas de terça-feira ante o real e terminou o pregão acima dos R$ 4,91, com investidores ajustando posições e reagindo à divulgação de dados mais fortes que o previsto sobre a economia dos Estados Unidos. O movimento foi exacerbado pela saída de estrangeiros da Bolsa e pelo baixo volume de negócios, dada a proximidade das festas de fim de ano.

“Não há um motivo específico para a alta do dólar hoje. Esse comportamento deve estar relacionado mais a um ajuste técnico após queda observada ontem”, disse Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank.

Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, a queda no preço de produtos agrícolas com peso relevante na pauta de exportações brasileira exerceu pressão negativa extra sobre o real, dado que outras moedas ligadas a commodities – como o dólar australiano – e de países emergentes – como a lira turca e o peso mexicano – tiveram desempenho ligeiramente melhor ante o dólar no pregão de hoje.

O índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos medido pelo Conference Board subiu de 101,0 em novembro para 110,7 em dezembro, enquanto analistas ouvidos pela FactSet previam avanço mais tímido, a 104,5. Além disso, as vendas de moradias usadas no país subiram 0,8% em novembro ante outubro, segundo a Associação Nacional de Corretoras (NAR, na sigla em inglês). O resultado também superou a previsão do mercado, de alta de 0,3%

Os dois indicadores reforçaram a percepção de que a economia americana resiste ao efeito negativo vindo do forte aumento de juros adotado pelo Federal Reserve para conter a inflação. No entanto, fizeram pouco para mudar a expectativa majoritária do mercado de que o banco central começará a cortar a taxa dos Fed Funds a partir de março – o que explica a força do dólar mesmo diante da queda nas taxas dos Treasuries.

O dólar à vista subiu 0,99%, a R$ 4,9120, terminando o dia muito perto da máxima da sessão, de R$ 4,9130.

Além de ganhar força em relação ao real, o dólar também subiu em relação a outras moedas fortes – nesta quarta-feira, o euro caía 0,24%, a US$ 1,0956, enquanto a libra recuava 0,48%, a US$ 1,2670.

Em ambos os casos, a desvalorização era motivada pela expectativa de que na zona do euro e no Reino Unido as taxas de juros podem começar a cair antes do período sinalizado pelos bancos centrais destas regiões – o que tornaria o ritmo de afrouxamento monetário nas economias desenvolvidas mais sincronizado e menos desfavorável ao dólar.

Juros

Os juros futuros fecharam em leve queda na ponta longa e estáveis nos demais trechos. A agenda do dia, que teve arrecadação e o IBC-Br, não alterou as expectativas para a política monetária já bem ajustadas para novos cortes de 0,50 ponto porcentual da Selic. Apesar da alta do dólar, as longas cederam, com entrada de fluxo estimulada pelo recuo dos rendimentos dos Treasuries e pela melhora da percepção sobre os fundamentos domésticos, na esteira do avanço da agenda econômica e da elevação do rating do Brasil ontem pela S&P.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,065%, de 10,054% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 em 9,63%, de 9,61% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 9,70% para 9,71% e a do DI para janeiro de 2029, de 10,14% para 10,12%.

O desempenho da curva americana seguiu dando impulso de baixa aos DIs, tanto que no meio da tarde, quando o rendimento da T-note de dez anos rompeu para abaixo dos 3,90%, as taxas longas no Brasil passaram a renovar mínimas. O alívio nos Treasuries continuou espelhando as apostas no ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve em 2024, que desafiam os alertas que vêm sendo emitidos pelo diretores da instituição quanto ao excesso de otimismo na política monetária. Hoje foi a vez do presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, enfatizar que o Fed ainda não vai cortar taxas em um futuro próximo.

Somado ao exterior, a evolução da pauta econômica no Congresso também é atrativo de fluxo para a renda fixa, aliviando os prêmios de risco. O Congresso promulgou hoje a reforma tributária, que ontem foi apontada pela S&P como fator determinante para upgrade na nota soberana. Apesar das críticas ao texto, não deixa de ser um evento histórico, após mais de 30 anos de discussão.

É bem vista ainda a força-tarefa dos parlamentares para concluir a agenda de votações antes do recesso que começa na sexta-feira. O Senado votaria ainda hoje a Medida Provisória (MP) da Subvenção do ICMS e, na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) tentava aparar arestas para pôr o projeto das apostas esportivas em votação também nesta quarta-feira.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, lembra que no começo de dezembro havia uma preocupação sobre se haveria tempo hábil para a aprovação da pauta fiscal da qual depende boa parte das premissas do arcabouço. “E conseguiram votar tudo o que precisavam. Terminamos o ano com uma agenda muito boa no Legislativo, com vitória do governo nos projetos de arrecadação”, disse.

Na agenda do dia, o IBC-Br de outubro recuou 0,06% na margem, bem menos do que apontava a mediana das estimativas de 0,20%. “A diferença marginal entre o resultado e a expectativa para o mês não altera a leitura geral acerca dos sinais emitidos pelos indicadores de atividade nos últimos meses. A tendência geral é de perda de dinamismo pelo lado da demanda e da oferta”, afirmam Thiago Xavier e Lais Altmann, analistas da Tendências. Já a arrecadação de novembro, de R$ 179,4 bilhões, veio praticamente em linha com o consenso de mercado, de R$ 180,3 bilhões, mas com queda de 0,4% ante novembro de 2022.

Estadão Conteúdo

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