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Moda

Depois de Kenzo e Miyake, a moda japonesa entra em uma nova era em Tóquio

A morte de Kenzo Takada, em outubro de 2020, e a de Issey Mirake, em agosto, marcaram o fim da era que surgiu com a revolução

Redação Jornal de Brasília

18/10/2022 15h43

Foto: AFP

Na escola de moda Bunka, de Tóquio, em um silêncio quebrado por tesouras e máquinas de costura, os alunos sonham com Paris e a fama mundial conquistada por seus gloriosos predecessores.

A morte de Kenzo Takada, em outubro de 2020, e a de Issey Mirake, em agosto, marcaram o fim da era que surgiu com a revolução iniciada nos anos 1970-1980 pelos estilistas japoneses na França e no mundo.

Isso aumenta as expectativas para uma nova geração de designers como Takuya Morikawa, um ex-aluno da Bunka de 40 anos, cujas peças elegantes inspiradas no streetwear estrearam nas passarelas de Paris há dois anos.

Antes de lançar sua marca TAAKK em 2013, ele passou oito anos no estúdio de Issey Miyake, trabalhando na famosa linha “Pleats Please” (“Pregas, por favor”) e explorando métodos artesanais tradicionais.

Moriwaka foi afetado pela morte de seu mentor, mas pediu aos jovens designers “que façam o melhor para que a morte desses criadores não impacte o mundo da moda”. “Se isso acontecer, significa que estamos fazendo nosso trabalho errado”, garantiu.

Outro a assumir o bastão é Nigo, que ficou conhecido nos anos 1990 com sua marca A Bathing Ape. Também estudou na Bunka e, no ano passado, foi nomeado diretor artístico da Kenzo.

A Sacai, outra marca de moda japonesa com sucesso internacional, também se destaca no mercado. Foi fundada em 1999 pela designer Chitose Abe, que colaborou com o ícone da moda francesa Jean Paul Gaultier, entre outros.

“Arrepiada”

Tanto Kenzo, quanto Issey Miyake conquistaram o mundo de Paris, a mesma jornada de Hanao Mori, a pioneira da alta costura japonesa, que morreu em agosto aos 96 anos.

Yohji Yamamoto, de 79 anos, e Rei Kawakubo (80), fundadora da marca Comme des Garçons, mantém viva essa geração de ouro.

A moda de vanguarda japonesa “abalou o mundo”, afirmou a presidente da Bunka, Sachiko Aihara, que lembrou como seus alunos usavam preto após o lançamento da primeira linha de roupas monocromáticas de Yamamoto.

No entanto, “acabaram os dias em que um criador que apresenta uma coleção que todo mundo usa”, garantiu.

Não é por um declínio de talento, estimou Aihara, mas pela multiplicação da oferta. Agora, se tornou imprescindível ter conhecimento comercial antes de lançar uma marca competitiva.

A estilista Mariko Nakayama, que trabalha em Tóquio e planeja apresentar sua marca na França, lembra de ter ficado “arrepiada” ao usar Comme des Garçons pela primeira vez.

Mas hoje acredita que a indústria está diferente: “Ao observar Virgil Abloh para a Louis Vuitton, por exemplo, tenho a impressão de que entramos em uma era de edição” na qual os designers trazem toques modernos para formas e motivos clássicos.

Novas oportunidades

Trabalhar em Paris, Londres, Nova York ou Milão sempre foi considerado a chave do sucesso para os criadores japoneses, explica Aya Takeshima, que estudou na Central Saint Martins, uma prestigiosa escola de moda na capital britânica.

Isso lhe permitiu ter diferentes perspectivas: “No Japão, a técnica é incutida desde o início, enquanto as ideias e conceitos (…) são secundários”. Em Londres, é o contrário, explicou.

Consciente da necessidade de se abrir ao mundo de seus alunos, a Bunka planeja oferecer uma oferta de estudos no exterior para comemorar seu centenário no próximo ano.

Para uma de suas alunas, Natalia Satoo, de 21 anos, Miyake e a velha guarda japonesa “trouxeram muitos valores japoneses e orientais para o mundo”, incluindo técnicas inspiradas no rico e sutil artesanato tradicional.

“Me preocupa que as bases que eles construíram possam ser destruídas com o seu desaparecimento”, mas “ao mesmo tempo é um ponto de virada” para oferecer novas oportunidades criativas, opinou.

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