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Literatura

Da tradição à inovação: como diferentes espaços promovem o acesso à leitura

Saiba mais sobre o Sebinho: Biblioteca que promove rodas de leitura, arrecadação de livros e o acesso à literatura

Agência UniCeub

04/07/2023 16h10

Foto: Nathália Guimarães

Viajar no tempo, viver um romance clichê, explorar mundos distópicos e investigar mistérios sem solução são tesouros reservados àqueles que têm os livros como seus fiéis aliados. A história de Cida Caldas, dona do Sebinho, em Brasília, já estava escrita: seu destino era, e ainda é, trazer alegria aos leitores de Brasília.

Recordando seus primeiros capítulos no mundo dos livros, Cida relembra seu emprego inicial em uma livraria na Asa Sul, onde, em determinado momento, a dona não pôde mais pagar seu salário. “Eu disse que ela podia me pagar em livros. Então, há 37 anos, em uma kitnet, o Sebinho nasceu. Era uma livraria que funcionava dentro de uma moradia”, contou ela.

Foto: Nathália Guimarães

De acordo com Cida, o sebo foi crescendo aos poucos. Chegou o momento que o espaço ficou pequeno e surgiu a necessidade de se mudar para uma loja. O espaço também foi se expandindo devido à necessidade. “Quem gosta de sebo vem para passar muito tempo. Então as pessoas perguntavam se tinha algum lugar para comer, já que ainda não tinham visto tudo e precisariam voltar. Por isso, há 13 anos, incorporamos o café.”

Assim, o Sebinho, bistrô e café virou um destaque cultural em Brasília. Para a dona, o que justifica o crescimento do espaço é o amor pelos livros, tanto dela quanto das pessoas que frequentam. Diante disso, tudo é organizado com carinho. “A ideia de sebo é de uma coisa largada, empilhada. Nós vamos contra isso. Dividimos por áreas, por autor. Queremos sempre inovar”, explica.

Foto: Nathália Guimarães

Uma das inovações é notável: apesar do sebo funcionar como uma livraria, onde as pessoas olham os livros expostos, compram e vão embora, o Sebinho funciona também como uma biblioteca. “Muitas vezes deixamos as pessoas lerem aqui, tem uma mesinha só para isso. Às vezes está sem grana, vem, usa o espaço e está tudo bem.”

Além disso, o espaço promove rodas de leitura abertas ao público em geral, no último sábado de cada mês. Não é necessário ser especialista no assunto, apenas ter paixão pelos livros, que são divulgados no Instagram @livrariasebinho.

O local ainda arrecada livros para fomentar outros espaços. “Esse ano, pretendemos fazer uma campanha de arrecadação de livros para a Casa Memória da Mulher Kalunga e montar uma biblioteca lá. Tem uma equipe de Ceilândia também que pega livros e distribui para as bibliotecas de lá”, informa.

Jovens leitores

De acordo com Cida, os jovens de hoje leem muito. Hoje, o universo dos livros vai além do objeto físico, com espaço para o seu conteúdo nas plataformas e redes sociais. Por isso, para ela, o que pode ter ajudado nisso foram os influencers que falam sobre livros nas redes sociais: os Bookstans.

A jornalista Tamires Rodrigues, de 27 anos, é uma das leitoras que pega indicações nas redes. “Pego em alguns perfis de jornalistas, pesquisadores de cinema como o Gabriel Pinheiro que está fazendo mestrado na área, sempre bom pegar referências com outras pessoas que tenham o mesmo interesse”, diz.

Até achar o nicho que gosta, a jornalista passou por algumas etapas. Começou a ler com frequência durante a pré-adolescência, com cerca de 12 anos, livros voltados para essa idade. Depois foi para clássicos como Jane Austen e não parou mais. Hoje, ela já conhece os gêneros específicos que gosta e tem focado na literatura nacional.

Para achar edições mais antigas e livros específicos que foram recomendados nas redes, Tamires explica que recorre aos sebos. “Muitas vezes são edições que pararam de ser vendidas em livrarias, principalmente sobre cinema. Um dos sebos que eu gosto é o Sebinho, porque tem um acervo com muitas opções e já é um lugar de referência para achar livros difíceis de achar aqui em Brasília.”

Redes Sociais 

Nessa nova era digital, as redes sociais desempenham um papel importante na formação de tendências e influências. Por isso, criadores de conteúdo literários ganham cada vez mais espaço.

Gabriel Cris, mais conhecido como Joy, produz conteúdo literário nas redes sociais. Ele explica que apesar do nicho não ter tantos seguidores como outros, o público é forte. “É um público que consome muito, que vai atrás do que indicamos. Isso porque nós criamos uma conexão, e acaba tendo uma valorização maior.”

De acordo com o influencer, para conseguir retorno financeiro das plataformas, é necessário bater uma meta que nem sempre é alcançada. Para contornar isso, ele acaba produzindo mais conteúdo que outros nichos com o objetivo de atrair mais pessoas. Para ele, apesar de trabalhar muito, o retorno é prazeroso. “As pessoas mandam mensagem falando que começaram a ler tal livro por minha causa, que pegaram indicação comigo e agora querem ler mais coisa”, explica. 

Atualmente, a rede que mais tem se destacado como uma ferramenta poderosa para impulsionar a leitura entre os jovens é o TikTok. A comunidade vem fortalecendo a conexão entre leitores e livros, provando que o poder das palavras continua vivo e se adapta às novas formas de comunicação.

Além do impacto nas escolhas de leitura, as redes sociais têm contribuído para a popularização de determinados gêneros literários. No universo do Booktok, é possível encontrar uma grande variedade de gêneros, desde romances contemporâneos e young adult até thrillers, fantasia e ficção científica. No entanto, alguns gêneros têm se destacado devido à sua popularidade entre os jovens leitores.

Ellen Rodrigues, estudante de 24 anos, conta que não tem o hábito de acompanhar canais ou perfis específicos, mas que sempre vê vídeos de recomendações no TikTok.

O TikTok tem se mostrado uma plataforma eficaz para a divulgação de livros e suas histórias, como mencionado por pessoas entrevistadas. Os vídeos de recomendação aparecem de acordo com os interesses dos usuários, o que facilita a descoberta de novas leituras. Além disso, o acompanhamento dos temas dos livros e a busca por mais informações após salvar os vídeos também são práticas comuns.

“Não sei se é porque estou na minha bolha, mas estou vendo cada vez mais pessoas se voltando para livros clássicos. Com o TikTok fica mais fácil a divulgação do livro e suas histórias” diz Ellen

Foto: Nathália Guimarães

Além disso, os gêneros de fantasia e ficção científica têm conquistado um público cativo. As narrativas imaginativas, repletas de mundos fantásticos, magia e aventuras épicas, têm despertado o interesse dos leitores influenciados pelo Booktok. Esses gêneros, antes considerados de nicho, ganharam um novo fôlego com a exposição nas redes sociais, alcançando um público mais amplo.

A força das redes sociais, especialmente do TikTok, reside na sua capacidade de envolvimento e compartilhamento. Os vídeos curtos e a linguagem acessível tornam a experiência de descobrir novos livros mais dinâmica e atrativa. Além disso, a interação com a comunidade, por meio de comentários e debates, cria um senso de pertencimento e incentiva o engajamento.

Laura Couto, de 16 anos, conta que conheceu canais de resenhas de livros na pandemia e desde então acompanha. Ela considera que os gibis da Turma da Mônica, livros da coleção Vagalume e os clássicos da Jane Austen e Clarice Lispector foram as obras que a formaram como leitora.

Foto: Arquivo Pessoal

No entanto, ela expressa preocupação em relação à qualidade dos livros disponíveis para atender à demanda desse mercado em ascensão. Para ela, essa oferta em larga escala pode comprometer a profundidade e o valor das obras, destacando a necessidade de um equilíbrio entre o acesso facilitado e a preservação da excelência literária.

“As comunidades de livros, como o Booktok, ajudaram bastante na popularização de livros entre o público mais jovem, mas a qualidade dos livros caiu muito para abastecer esse mercado, quase que como um fast-food de livros.”

Por Nathália Guimarães e Ravenna Alves
Supervisão de Gilberto Costa

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