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W3 Norte: vendedor de panos diz que recebe só 35% do que vende e explica como é trabalhar debaixo do Sol

O homem se enfia no corredor entre os carros, torcendo para que ao menos uma janela desça e o chame. A negociação precisa ser veloz.

Redação Jornal de Brasília

28/10/2022 16h52

Foto: Vitor Oliveira

Vinícius Pinelli
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

Os carros param assim que a luz do sinal fica vermelha. Os segundos em que os veículos que cruzam a W3 norte, se para quem está dentro dos automóveis é somente um atraso inevitável até seus destinos. Para uma figura que muitas vezes passa despercebida, é a chance de conseguir algum dinheiro.

O homem se enfia no corredor entre os carros, torcendo para que ao menos uma janela desça e o chame. A negociação precisa ser veloz. Nem sempre o acordo é o que o vendedor tinha em mente. Porém ainda é melhor do que sair de mãos abanando. Com dinheiro em mãos ou não, a única certeza é a próxima luz vermelha.

Essa figura é Jackson Lennon dos Santos e Silva. Há sete anos ele vende panos de prato e sacos de lixo no sinal da 508 norte, em frente à W3 e ao lado de uma franquia de fast food. Os motoristas muitas vezes evitam olhar para Jackson, mas nunca foram desrespeitosos com o vendedor. O que realmente o incomoda é o calor escaldante que o acompanha durante o dia. E a realidade de que uma perspectiva de mudança de vida é baixa.

“Cara, sendo realista no momento não. Não porque as condições trabalhistas também não estão lá essas coisas né? E aqui também eu não tenho o que reclamar.”

Natural de Uruçuí-PI, hoje, aos 29, ele mora no M Norte em Taguatinga com sua esposa e duas de suas três filhas. Não concluiu o ensino fundamental, parou na sétima série. Entretanto, concluir os estudos é o que ele gostaria de verdade, e assim oferecer mais para suas filhas, que ele também quer que finalizem os estudos.

Jackson trabalhou no restaurante da previdência social, porém foi demitido como forma de reduzir gastos e para renovar a equipe. Desde 2017 não conseguiu voltar a trabalhar de carteira assinada, sendo obrigado a vender os panos.

Ele conta que o fornecedor disponibiliza a mercadoria para ser vendida durante a semana, porém o trabalho é comissionado; Jackson só fica com 35% dos lucros. Ainda assim consegue arcar com as despesas de luz, água e aluguel, afinal sua esposa trabalha em uma lanchonete, o que ajuda a complementar a renda. Às vezes, Jackson faz bicos de chapeiro para garantir que as contas sejam pagas em dia.

Não é incomum que trabalhadores informais precisem complementar a renda com trabalhos extras, os famosos “bicos”. De acordo com a PNAD contínua realizada no terceiro trimestre de 2021, 60% dos trabalhadores informais adotam essa prática, o que significa 19,6 milhões de trabalhadores.

Independente do sol que castiga sua cabeça, as baixas comissões, ou a falta de perspectiva de mudança no curto prazo, Jackson possui um sonho: terminar os estudos. Na sétima série ele precisou abandonar a escola, porém ainda almeja concluí-los como exemplo para as filhas. Além disso, ele reconhece a importância de exercer a cidadania votando: “Porque é tipo um bem que é pra todos, né? É um bem que é pra todos.”

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