Foi velado na manhã desta sexta-feira (19) o jornalista Ary Filgueira, no cemitério Campo da Esperança no Gama. Cerca de 100 pessoas entre amigos, familiares e colegas de profissão se encontram na Capela Templo Ecumênico para dar um último adeus ao repórter de Brasília.
Aos 48 anos, Ary faleceu em decorrência da Síndrome de Stevens-Johnson na madrugada da última quinta-feira (18), doença rara de pele que acomete cerca de 15 mil pessoas por ano no Brasil. Com o diagnóstico tardio, o jornalista não resistiu e teve o óbito confirmado por volta das 5h18 no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN).
Durante o velório, exaltaram-se as qualidades como amigo, familiar e profissional de imprensa. No sepultamento, o irmão Ronaldo Filgueira destacou a bravura de Ary frente aos desafios da vida e da profissão e guiou uma oração do Pai Nosso.
Ary foi responsável por importantes reportagens do cenário político brasiliense e Nacional, com recente expressão na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em que revelou a história do motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, que sacou R$ 4,7 milhões para a empresa logística VTCLog, contratada pelo Ministério da Saúde para a distribuição de vacinas.
Ary trabalhou no Jornal de Brasília entre agosto de 2021 e fevereiro deste ano e voltou ao veículo no fim de julho, mas não chegou a produzir devido às complicações de saúde. O profissional também colaborou com outros órgãos de imprensa de relevância nacional e local, como o Correio Braziliense, Metrópoles, TV Globo, IstoÉ!, Secretaria de Comunicação do GDF e a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan/DF).
Cumplicidade como irmão
O irmão mais velho do jornalista, Layrton Filgueira, de 52 anos, destacou que ele é Ary possuíam uma cumplicidade única, com todos os assuntos em comunicação aberta e transparente. “Tudo o que ele ia fazer, ele dividia comigo. Se ia comprar um carro, se ia fazer um negócio, ele sempre dividia comigo. Nas matérias ele me perguntava o que eu achava. Tínhamos muita proximidade”, disse.
“Tudo dele era muito intenso, em tudo. E era um irmão e um amigo que aconselhava muito. Às vezes nos indicava o que fazer e o que não fazer”, destacou.
Sobre a profissão, Layrton descreveu o irmão como um apaixonado pelo Jornalismo, dando o máximo de si em cada matéria. “Ele procurava ser o mais perfeccionista possível. Se ele pegava um assunto para discorrer, trabalhava a madrugada toda, se dedicava, apurava muito. Achava até que ele se envolvia demais, principalmente nas matérias investigativas”, comentou. “Ele fazia a coisa acontecer.”
A notícia da doença foi uma surpresa para a família. Apesar do bom tratamento recebido no HRAN, segundo Layrton, o diagnóstico foi tardio. “Há 20 dias estávamos conversando tranquilamente, mas de repente começaram alguns sintomas gripais, que evoluiu para isso. Foi tudo muito rápido. Não conhecíamos a essa Síndrome de Stevens-Johnson”, afirmou.
Inspiração
Para a jornalista de política em Brasília, Marília Sena, Ary foi uma inspiração para seguir a carreira como repórter. De acordo com ela, foi com uma denúncia do profissional durante o escândalo do Mensalão que passou a admirar a atividade investigativa. “Me tornei jornalista por causa dele”, relatou.
“Ele foi uma inspiração pra mim quando eu tinha por volta de 10 anos. […] Depois que comecei no jornalismo, sempre nos falávamos e ele me incentivava. Era um bom amigo”, destacou a jornalista.
A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF) também prestou homenagens ao jornalista. Ary foi diretor da entidade entre 2010 e 2011. “Ao longo da carreira, o jornalista ganhou o respeito dos colegas em veículos. […] O Sindicato transmite o mais profundo pesar aos amigos e à família de Ary […]”.
Doença evoluiu rapidamente
De acordo com o irmão Ronaldo, o jornalista começou a sentir incômodos e coceiras na pele há cerca de quatro semanas. Apesar de ter procurado por medicamentos em diversas clínicas da capital, os ferimentos começaram a aumentar gradativamente.
“Começaram a ocorrer alguns carocinhos na pele, como se fosse algo alérgico. E então elas começaram a coçar e a coisa começou a aumentar. Ele foi em algumas clínicas, e começaram a passar medicamentos para ele, mas não deixou de evoluir”, disse o familiar.
Ao ser encaminhado ao HRAN, foram constatados tumores nas axilas e em diversas partes do corpo, além de uma “grande massa” no abdômen. Segundo Ronaldo, após uma ultrassonografia, o médico que acompanhou o jornalista informou que as anormalidades se assemelhavam aos sintomas de câncer.
A Síndrome de Stevens-Johnson ocorre após graves reações alérgicas, que habitualmente surgem após o uso de certos medicamentos. Ronaldo cita que Ary pode ter ingerido um excesso dos fármacos para “conter o mal-estar ou mesmo para conter a evolução da alergia”.
Ronaldo comenta também que Ary estava com o “corpo bastante debilitado”, já que havia passado mais de três semanas sem conseguir se alimentar corretamente, devido aos inchaços que surgiram na garganta.