Entre aulas de reforço, natação, inglês, xadrez e terapia, Juliete Oliveira, de 44 anos, passa cerca de 30 horas semanais entre levar, buscar e acompanhar o filho mais novo, João Gabriel, de 12 anos, nas atividades extracurriculares. A mãe e também estudante representa em grande parte o recente estudo produzido pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e divulgado nesta quarta-feira (30).
Segundo o levantamento, mesmo com o aumento do protagonismo feminino no mercado de trabalho nas últimas décadas, as mulheres ainda são as maiores responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidado das pessoas, entre crianças e adultos, dedicando nessas atividades cerca de 8 horas a mais na semana que os homens.
Porém, hoje, enquanto a economia tenta se reerguer para o pós-pandemia de covid-19, esses números se tornam ainda mais verdadeiros. De acordo com um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a taxa de desemprego feminino está maior que o masculino. Em 2020, com o início da pandemia, o índice de participação das mulheres ficou em 49,45%, menor número da série histórica, que começou a ser analisada em 2012.
Juliete, durante o auge da pandemia, quando viveu verdadeiramente o isolamento, não levava João à escola ou a terapia. Mas todo esse tempo foi focado em outros pontos: afazeres domésticos e “professora assistente”. “No início, eu lavava os banheiros três vezes por semana, passava horas limpando as compras e cozinhando. Mas a parte mais difícil, para mim, era ter que sentar todos os dias e ensinar uma segunda vez para o meu filho”, relembra a mãe.
Ainda de acordo com a Codeplan, as mulheres dedicam mais horas que homens em cuidados, independente da renda, de Região Administrativa em que residam, sua raça/cor, sua faixa etária, nível educacional, status de ocupação e se tem ou não cônjuge.
Ainda assim, os dados também apontaram que a diferença da jornada com trabalho reprodutivo é menor entre mulheres e homens que moram em regiões administrativas de renda alta, e quem tem ensino superior e está ocupada.
No caso específico do cuidado com crianças, a pesquisa mostra que as mulheres dedicam quase 10 horas semanais a mais que os homens. No caso de Juliete, as dificuldades se multiplicam junto aos diagnósticos de João, que tem Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Desde que descobriu as dificuldades do filho, Juliete não trabalha.
Comparando os três tipos de trabalhos reprodutivos – cuidados com crianças, cuidados com adultos e tarefas domésticas, os dados mostraram que mulheres gastam cerca de 85% mais tempo em afazeres domésticos que os homens, o que gera desigualdades no acúmulo total de horas de trabalho, somando trabalho remunerado e não remunerado.