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Brasília

Grafiteiro do DF faz vaquinha para participar do encontro internacional no Acre

Jediael Lucas, ceilandense de 25 anos, usa a arte do graffiti como forma de valorizar a cultura das periferias do DF

Redação Jornal de Brasília

14/02/2023 15h27

Foto: Arquivo pessoal

Gabriel de Sousa
[email protected]

Dizem que, no dia em que formos embora deste mundo, as marcas que deixamos nas ruas serão as lembranças que nós iremos deixar para o futuro. Nos muros do DF, desenhos envolventes e uma assinatura “Jedi” é a forma em que o grafiteiro Jediael Lucas, de 25 anos, encontrou para destacar a sua presença no cotidiano em que vive.

Jediael é mais um dos tantos jovens ceilandenses que sonham em se destacar além das quebradas da cidade. Estudante de Ciências Sociais na Universidade de Brasília (UnB) e estagiário no Palácio do Itamaraty, os muros o conhecem mais como “Jedi”, uma analogia ao seu nome que está a cada dia se tornando mais presente no cenário do graffiti nacional.

Nas suas artes, Jedi aposta em personagens e traços únicos e uma paleta de cores que chama a atenção dos que passam pelas periferias do Distrito Federal. Sua principal inspiração são os elementos presentes nas fotografias de Martha Cooper, cujo trabalho apresentou ao mundo as pinturas dos muros do Brooklyn, nos Estados Unidos. “Uma conexão do passado com o presente, mas imaginando o futuro também. Os muros falam muito pela cidade, e neles existem muitas histórias contadas”, explica o grafiteiro.

Uma paixão de berço

Quando pequeno, ele morava em uma região da Ceilândia em que a cultura do hip-hop transformou os costumes locais nas últimas décadas. Entre a Praça dos Eucaliptos – mais conhecida como “Zoca” – e a Praça do Cidadão, o jovem Jediael conheceu a arte e fez dela uma grande paixão. “Só admirava de longe. Morando ali, a gente sabe que é um lugar que tem muito essa questão da arte”, explica.

Na infância, Jedi passava o tempo desenhando, e sonhava em poder destacar para sempre a sua arte nas paredes da cidade onde foi criado. Enquanto cursava o ensino médio, conheceu um amigo que o levou de vez para o mundo do graffiti. “Eu queria colocar os meus desenhos na rua. Aí então, a gente marcou um rolê e desde então estamos aí”, relembra.

Foi o início de uma relação que já dura mais de quatro anos, e que apesar de idas e vindas, sempre foi impulsionado pelo amor à arte e a cultura hip-hop. Quando saiu do ensino médio, a preocupação de Jediael era outra: pensava no que iria fazer na sua vida e conseguiu ingressar na UnB. Distante, mas não “de lado”, os grafites eram esporádicos, e só tomavam conta das paredes quando alguns amigos lhe forneciam os materiais necessários.

Uma oportunidade única

Desde o ano passado, Jedi, que atualmente mora no Riacho Fundo II, decidiu voltar com tudo para a cena do graffiti brasiliense. O empenho foi tanto, que o ceilandense ganhou um convite para um encontro internacional junto com outros artistas em Rio Branco, no Acre. A situação financeira impediu a concretização da sua aventura, porém, neste ano, outra oportunidade para se apresentar em terras acreanas foi feita, gerando novas expectativas para o jovem grafiteiro.

Para não perder a nova oportunidade de ir até o Acre, Jedi decidiu criar uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 1.500, que serão utilizados para pagar a passagem de ida e de volta até Rio Branco. Até o momento do fechamento desta reportagem, o jovem conseguiu arrecadar R$630,00 e acredita que conseguirá os R$ 870 restantes para conseguir comparecer ao evento.

“É uma conquista muito importante, não só para a Ceilândia e o Riacho Fundo II, como para a periferia como um todo a partir do momento que você tem essa conexão com outros estados, conectando, trocando ideias, e aprendendo, principalmente. Só quem é mesmo do movimento vai entender o quão gratificante é isso”, explica.

O encontro internacional que Jedi foi convidado é o Acre Grafitti – Descolonizando Pensamentos, onde, além do ceilandense, as grafiteiras Síria e Camz também irão representar o Distrito Federal. O evento será realizado entre os dias 24 e 27 de março em Rio Branco, e vai contar com artistas nacionais provenientes de vários estados do país, e também de grafiteiros vindos da Argentina, Colômbia e Peru.

Jediael Lucas conta agora com a coletividade, que segundo ele é tão importante para a construção da cultura do graffiti, para conseguir meios financeiros para ir até ao seu primeiro encontro internacional como convidado. A vaquinha do ceilandense está sendo feita através do PIX: 61 98679-3327 (Caixa Econômica), e está sendo divulgada junto com os seus trabalhos em seu Instagram, no perfil @o_jedi1.

“O movimento hip-hop sempre teve essa ideia de mobilização e de incentivo de conhecer a própria história. O graffiti, como algo que surge na periferia, traz essa ideia de que a periferia é muito mais do que a galera conhece. A periferia também é arte e cultura, e o graffiti não iria chegar onde chegou se não fosse de maneira coletiva”, conclui o grafiteiro.

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