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Brasília

Dengue tem taxa de mortalidade maior entre idosos

Quase três quintos das mortes são de pessoas com mais de 60 anos

Guilherme Pontes

13/03/2024 22h26

Foto: Shammiknr/Pixabay

A epidemia de dengue avança no Distrito Federal e ceifou até então 109 vidas, das quais a maioria são de pessoas idosas, segundo o último boletim epidemiológico publicado no dia 10 de março. De acordo com o boletim, 59,63% das mortes por dengue no DF foram de pessoas com mais de 60 anos. Especialista geriatra explica que fatores fisiológicos fazem com que essas pessoas fiquem mais expostas a tipos graves da doença e tenham pouca resposta a vacinas virais, como a Qdenga.

Até então, a Secretaria de Saúde confirmou a morte de 6 pessoas com 19 anos ou menos, 12 entre 20 e 39 anos, 25 entre 50 e 59 anos e 65 pessoas com 60 ou mais, além de 52 óbitos que estão sob investigação. Como ocorreu com a Covid-19, e tende a ocorrer com outras doenças virais, pessoas idosas costumam apresentar uma mortalidade maior ao enfrentá-las.

Segundo Priscilla Mussi, geriatra e coordenadora de Geriatria do Hospital Santa Lúcia, o corpo da pessoa idosa dispõe de características que o dificultam enfrentar agentes invasores, como vírus e bactérias. “Os idosos têm uma característica que se chama imunossenescência, que é o envelhecimento natural do sistema imunológico. É como se o sistema imunológico percebesse mais atrasado que tem uma infecção”, afirma.

Segundo diz, é esse mesmo fator que faz com que a atual vacina para a dengue, Qdenga, não seja recomendada para pessoas acima de 60 anos. “Não vai ter eficácia. O sistema imunológico não vai entender o que são 4 vírus juntos. A gente tem alguns estudos que mostram que a eficácia de 60 a 65 é menos de 20%, e acima de 65 não tem eficácia nenhuma”, explica. O corpo não reage da mesma forma, no entanto às vacinas de covid-19 e gripe, que carregam apenas uma pequena parte do vírus e apresentam maior efetividade com idosos.

Outro fator levantado pela geriatra é a baixa hidratação. Segundo explica, a pessoa idosa tende a ficar mais desidratada naturalmente, por ter um corpo que retém menos água, além de ter, em geral, o hábito de se hidratar pouco. “Quem convive com alguém que é idoso sabe o quão é difícil dar água para eles. Eles já são um pouco mais desidratados, então quando uma pessoa assim se infecta com a dengue, que exige muita hidratação, tende a ficar com o quadro de saúde mais debilitado”, afirma. O recomendado para um paciente com dengue é de 3 a 4 litros por dia.

Os remédios tomados pelas pessoas idosas para tratar quadros de saúde posteriores a um AVC, infarto, pressão alta ou diabetes, de uso comum para pessoas nessa faixa etária, podem ser um fator de complicação justamente por serem remédios antiagregantes, que facilitam o sangramento. Seriam essas as aspirinas, que tendem a vir com o aviso “não indicado em caso de suspeita de dengue” na caixa. Mussi explica que um dos efeitos da dengue é a diminuição do nível de plaquetas, estruturas no sangue que promovem a coagulação, o que, combinado com o efeito colateral desses remédios, pode facilitar o aparecimento da dengue hemorrágica.

A epidemia de dengue,no presente momento, apresenta um aumento de 1.575,9% no número de casos prováveis em residentes no DF se comparado ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 8.209 casos prováveis da doença no DF, segundo o boletim epidemiológico. Os grupos etários com maior incidência são de 20 a 29 anos, seguido 50 a 59 anos e 70 a 79 anos, com a incidência de, respectivamente, 4.931,2 casos por 100 mil habitantes, 4.763,6 casos por 100 mil habitantes e 4.648,4 casos por 100 mil habitantes.

Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, as recomendações para evitar contágio são, além de uso de repelente, uso de telas nas janelas e repelentes em área de reconhecida transmissão, remoção de recipientes nos domicílios que possam se transformar em criadouros de mosquitos, vedação dos reservatórios e caixas de água, desobstrução de calhas, lajes e ralos e participação na fiscalização das ações de prevenção e controle da dengue executada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Importante destacar que, segundo Mussi, não há qualquer contraindicação ao uso de repelente em pessoas idosas, independente dos remédios tomados.

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