Menu
Brasília

Creche na Estrutural cuida de 97 crianças e ajuda famílias da comunidade

Aos 24 anos, Maria teve sua filha de apenas dois meses diagnosticada com cardiopatia, doença que afeta o coração e o sistema vascular

Redação Jornal de Brasília

28/10/2022 16h40

Foto: Késia Alves

Anna Borges, Késia Alves e Mariana Haun
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

“Minha vida. Sem elas, eu não posso continuar. Elas são meu pilar. Sem elas, eu não dou conta de ficar de pé”. As palavras são de Maria de Jesus, de 37 anos de idade, dona de casa. Ela fala sobre as 97 crianças, que possuem idade entre 5 meses de vida a 8 anos de idade, atendidas na Creche Alecrim, na Cidade Estrutural, fundada há 13 anos. Mãe de seis filhas, três biológicas e três adotadas, Maria não mediu esforços e se tornou uma verdadeira mãe para a comunidade.

O ano era 2009. Aos 24 anos, Maria de Jesus Pereira teve sua filha de apenas dois meses diagnosticada com cardiopatia, doença que afeta o coração e o sistema vascular. Ao se deparar com a necessidade de largar o emprego no lixão para se dedicar em casa à recuperação de sua filha, Maria teve a ideia de ajudar outras mães que precisavam deixar seus filhos para irem ao trabalho.

“Naquele momento eu me senti na obrigação de fazer algo para não ficar parada. Comecei a cuidar dos filhos das vizinhas para que elas continuassem no trabalho. O intuito era cuidar apenas no período de recuperação da minha filha. Mas, quando ela melhorou, não tive mais como parar porque a casa estava cheia”.

Barraco de madeira

Logo no início, 12 crianças ficavam sob seus cuidados em seu barraco de madeira de dois cômodos, no Setor de Chácaras Santa Luzia, eram todos filhos de vizinhas da comunidade que precisavam sair para trabalhar e não tinham com quem deixar os filhos. Com o passar do tempo e com a divulgação boca a boca, Maria foi procurada por outras mães. Logo precisou encontrar um espaço maior.

Após três anos do início das atividades, os apoiadores se juntaram e alugaram o espaço que a creche está hoje. De lá para cá, o ambiente passou por melhorias, como divisão de cômodos, reforma da cozinha, pintura e decoração infantil.

De mãe para mãe

Além do trabalho com as crianças atendidas, Maria de Jesus cumpre papel de amiga com as mães da comunidade que se encontram em situação de vulnerabilidade. Ajuda com alimentos, dá conselhos e faz visitas frequentes a elas. A maternidade precoce é uma protagonista na Cidade Estrutural e Maria tenta quebrar esse ciclo com conselhos e ações.

“Atendemos muitas mulheres violentadas e realizamos um acolhimento com aquelas que passaram por esse tipo de situação. A minha luta não para, o nosso maior problema são as mulheres que engravidam cedo, como suas mães e avós. Um ciclo vicioso. A nossa meta é quebrá-lo”.

Entre as 14 voluntárias da creche, a maioria foi resgatada após sofrer violência doméstica. Uma delas, Bárbara Ribeiro, 39 anos, na época com três filhos, estava à procura de um trabalho, pois estava passando por dificuldades. Agora com quatro filhos, Bárbara completa sete anos como voluntária e amiga de Maria.

“Eu apanhava muito do meu marido e a Maria sempre me ajudou e me alertava. Na minha casa faltava muita coisa, hoje ela é mobiliada e com telhado novo graças à ajuda dela.”

Após os conselhos e ajuda de Maria, Bárbara exerce várias funções na creche e se sente parte da grande família que ganhou ao se voluntariar. Ela é uma das mulheres que Maria conseguiu mudar a vida.

Apesar de ser uma mulher influente na comunidade, Maria não se vê dentro da política. “ Eu voto e incentivo a todos votarem. E acredito principalmente em políticas públicas voltadas para o incentivo e proteção às mulheres. Na minha opinião, o voto é a arma mais importante que temos para um cenário político que realmente faça a diferença no nosso país. Porém, não consigo me imaginar dentro dele”.

Frutos

Maria encontra-se com frequência crianças de quem já cuidou. Ela diz que sente como se fosse um pedaço do seu coração ao vê-las em sua frente. As histórias fazem parte da vida da fundadora, que as relembra com carinho e orgulho do trabalho que exerce.

Maria acabou se tornando parte das famílias. Ela já precisou ir até a um Instituto de Medicina Legal (IML) para identificar o corpo do pai de uma das crianças da creche que foi assassinado.

Essa história marcou Maria. O tio da criança, aos 12 anos, decidiu que iria vingar a morte do irmão mais velho. Decidida a lutar pelo futuro do garoto, Maria interviu e o acolheu na creche, mesmo tendo idade superior às outras crianças.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado