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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Julia: a carência de uma mulher na relação a dois

Saiba como o autoconhecimento e a busca pelo amor-próprio podem contribuir para uma vida íntima mais estimulante e feliz.

Lu Miranda

28/03/2024 15h17

Uma mulher seminua segura flores, escondendo os seios.

Julia (nome fictício) pode representar muitas mulheres. Ela buscou ajuda em meu consultório devido à uma condição sexual feminina chamada vaginismo, que consiste em contrações involuntárias na região pélvica, causando muito desconforto ou impossibilidades de intimidade física. Ela sentia saudade de uma vida sexual com o marido, todavia, foram estabelecidas, entre eles, inúmeras barreiras durante os anos: físicas, emocionais e sexuais.

Casada há uma década, Ju não vivencia intimidades com o parceiro há seis anos. Convivendo todo esse tempo sob o mesmo teto, o casal dorme em quartos separados. A escolha, que começou como uma solução temporária para garantir sua qualidade de sono devido aos roncos do marido Maurício (nome fictício), acabou virando regra. Maurício nunca tentou resolver seu problema e Julia cansou de pedir. Eles, que eram um casal, tornaram-se gerenciadores e colegas de casa, cada um com suas responsabilidades do lar.

Julia desejava reviver a paixão e a intimidade, e manter a relação, mas não sabia como empoderar-se sem frustrar o marido. Ela também ansiava ter mais voz e expressar seus desejos, mas não queria assustá-lo nem afastá-lo. Sim, apesar de tudo, Julia ainda tinha medo de perder o marido. Por isso, durante nossas sessões de terapia, exploramos como a sociedade muitas vezes nos ensina a priorizar o conforto dos outros em detrimento do nosso próprio bem-estar, um desafio para a preservação da nossa identidade, ou seja, para não deixarmos de ser quem somos. E eu afirmo isso como base em nossa história.

Julia e eu trabalhamos juntas, na terapia, para fortalecer sua autoestima e encontrar esse lugar de voz, de autodescoberta, amor-próprio, acolhimento e cuidado, incluindo a capacidade de fazer escolhas que a beneficiem, e tem sido simplesmente lindo de ver. O vaginismo está sendo abordado em paralelo, visto que todos esses sintomas trazidos por Julia são favoráveis à disfunção. Ou seja, está intimamente ligado as suas preocupações emocionais e de relacionamento, pois se sentir pouco ouvida pela parceria, não desejada nem vista e reconhecida afeta nossa sexualidade e gera conflitos internos sobre quem somos. É isso é brochante para todo mundo.


Embora ainda se sinta solitária, Julia está encontrando seu poder pessoal – para fazer escolhas melhores para si mesma. Tem saído mais com as amigas e se permitido vivenciar novas experiências, reconectando-se consigo mesma, ainda que isso signifique passar um tempo sozinha. A carência pode até ser pela presença, carinho e atenção de outro alguém, mas nunca dela para com ela mesma. Esse é o nosso maior defeito: terceirizar e achar que receberemos o mesmo de volta.

Eu e Ju estamos em processo terapêutico contínuo. Embora reconheçamos a importância de envolver Maurício – e estejamos trabalhando para isso –, visto que seu papel é absolutamente relevante, o foco principal é apoiar Julia em sua jornada de autodescoberta e autocuidado, porque terapia é isso, né?! Um lugar para aprender a olhar pra si com amor, mesmo quando ninguém olha.

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