Menu
Torcida

Flamengo e São Paulo dividem histórias de ‘Reis’ de um futebol pré-Pelé

A coroa de Rei do Futebol é de Pelé, mas antes do eterno camisa 10 surgir e desabrochar, o futebol brasileiro teve outros jogadores dignos da realeza

Redação Jornal de Brasília

23/09/2023 12h20

Foto: AFP

ALEXANDRE ARAUJO E EDER TRASKINI
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS)

A coroa de Rei do Futebol é de Pelé, mas antes do eterno camisa 10 surgir e desabrochar, o futebol brasileiro teve outros jogadores dignos da realeza, e alguns deles passaram por Flamengo e São Paulo, clubes que disputam a final da Copa do Brasil neste domingo (24), às 16h (de Brasília).

Arthur Friedenreich, Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, e Zizinho, o Mestre Ziza, vestiram rubro-negro e tricolor e foram estrelas em uma época de registros mais raros, mas não menos importante para a história do esporte bretão no país.

“Todos eles foram muito badalados no período em que viveram e jogaram. Sem dúvida alguma, foram jogadores dos mais importantes na nossa história, os astros de suas épocas”, afirma Roberto Assaf, jornalista e historiador.

A PRIMEIRA ESTRELA

Friedenreich nasceu em São Paulo, em 1892, atuou como atacante e é apontado como o primeiro ídolo do futebol brasileiro. Defendeu o clube do Morumbi entre 1930 e 1935, marcando 102 gols em 124 jogos. É o 18º maior artilheiro tricolor.

“Mesmo na casa dos 40 anos, foi o maior nome da linha ofensiva tricolor na primeira fase de existência do clube, sendo campeão paulista logo na segunda disputa, em 1931, e se tornando o maior artilheiro da equipe, com 102 gols, feito que somente foi desbancado por Luizinho, em 1943”, conta Michael Serra, historiador do São Paulo FC.

Pelo clube da Gávea, o “El Tigre” ou “Fried” atuou em apenas seis partidas, e com passagem mais importante em 1935, quando foi a campo em quatro oportunidades.

“Friedenreich não chegou a atuar muito tempo no Flamengo, fez poucas partidas. Jogou em 1917 e, depois, retornou para se aposentar, em 1935. Fez suas últimas partidas no Flamengo”, lembra Guilherme Tardelli, responsável do Educativo Museu Flamengo.

Ao longo da carreira, El Tigre conviveu também com questões raciais. Mestiço, foi um dos jogadores excluídos do Sul-Americano de 1921, na Argentina, após Epitácio Pessoa, então presidente do Brasil, se reunir com os diretores da CBD e recomendar que apenas jogadores brancos representassem a seleção no exterior.

O Brasil não foi bem na competição. Diante do desempenho, a CBD, em 1922, voltou a convocar os atletas negros.

DIAMANTE NEGRO

Leônidas da Silva nasceu em 1913, no Rio de Janeiro, e começou no Bonsucesso. Chegou ao Flamengo em 1936 e ficou até 1941. Artilheiro da Copa de 1938, na França, era ágil e foi chamado de “Homem de Borracha” pela imprensa francesa.

Foi em um desses momentos de contorcionismo que inventou a “bicicleta”, em um duelo entre Bonsucesso e Carioca, pelo Estadual de 1932.

“Leônidas foi importantíssimo para a história do Flamengo. Foi um dos representantes do time que moldou a identidade do clube, na década de 30, junto à gestão do José Bastos Padilha, que foi um presidente que pensou essa questão da popularidade. Parte dessa popularidade depende também de figuras representativas como foi o Leônidas. Tinha uma personalidade única, sabia transitar em diversas camadas da sociedade, um típico carioca”, ressalta Tardelli.

Leônidas teve um problema com a junta militar e chegou a ser detido, ficando afastado do Fla por alguns meses, o que fez alguns considerarem que ele havia “acabado” para o futebol.

Em 1942, ele foi para o São Paulo em uma transação que mexeu com o futebol brasileiro. A negociação foi concretizada por 200 contos de réis, uma fortuna à época.

“Leônidas chegou ao Tricolor como uma aposta. Estava quase esquecido quando foi recepcionado por mais de 10 mil pessoas em uma estação de trem de São Paulo. Maior contratação da história do futebol sul-americano até então, foi chamado de Bonde de 200 contos após a estreia dele. Não deixou barato: entre 1943 e 1949, faturou cinco Paulistas, elevando o patamar do São Paulo, tanto em resultados como em número de torcedores, para o cenário nacional”, salienta Serra.

Há uma famosa foto do Ademir [Menezes], Leônidas e Friedenreich, esses dois com roupa comum, já aposentados, em uma volta olímpica no Maracanã. Ali é como se fosse uma consagração da passagem deles pelo futebol Roberto Assaf

MESTRE ZIZA

Zizinho foi nada menos que o ídolo de Pelé, o Rei do futebol. Nascido em 1921, chegou ao Flamengo em 1939 e foi considerado o sucessor de Leônidas. Foi eleito o melhor jogador da Copa de 1950.
No clube rubro-negro, Mestre Ziza foi referência no time que conquistou o primeiro tri do Carioca da história do clube.

“Zizinho foi um dos maiores jogadores que o Flamengo já revelou e, não à toa, é conhecido como ‘mestre’. Marcou uma geração e foi ídolo dos principais jogadores do Flamengo que vieram posteriormente. Tem uma representatividade enorme para a história”, ressaltou Tardelli.

O meia deixou a Gávea para o Bangu. Desembarcou em São Paulo em 1957, onde ficaria até 1959.

“A passagem do craque, ainda que meteórica, foi inesquecível. O time comandado pelo revolucionário Béla Guttmann, em 1957, era bom, mas faltava alguma peça no sistema para engrenar de vez. Mal chegou e golearam o Palmeiras. Aliás, nos primeiros cinco jogos dele com a camisa tricolor, só vitórias com mais de 4 gols. Na verdade, com ele em campo, o time não perdeu mais no Estadual de 1957 e se tornou campeão na famosa Tarde das Garrafadas, com uma inesquecível vitória sobre o Corinthians no Pacaembu”, relembrou Michael Serra.

Em 1999, Zizinho foi apontado como quarto maior jogador brasileiro de todos os tempos pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado