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Política & Poder

Zema tenta com Bolsonaro superar histórico de cabo eleitoral pé-frio

Além da fama de ser o termômetro do que ocorre na eleição presidencial como um todo, MG tem convivido com outro mistério nos últimos anos

FolhaPress

28/10/2022 12h54

Foto: Reprodução/Agência Brasil

RANIER BRAGON
BELO HORIZONTE, MG

Além da fama de ser o termômetro do que ocorre na eleição presidencial como um todo, Minas Gerais tem convivido com outro mistério nos últimos anos. O seu governador, Romeu Zema (Novo), é destinatário de um caminhão de votos ao mesmo tempo em que coleciona um notório histórico negativo como cabo eleitoral.

Ele tenta agora sepultar esse passado com o engajamento de corpo e alma na campanha de Jair Bolsonaro (PL).

Dono de um conglomerado empresarial e alçado à política na onda bolsonarista, Zema se elegeu governador com 71,8% dos votos válidos em 2018, no segundo turno. Agora, se reelegeu no primeiro turno com 56,2%.

Em 2018, o Novo teve um desempenho razoável em Minas, considerando que ainda dava os primeiros passos: além do governador, elegeu três deputados estaduais e dois federais.

O senador da chapa de Zema, Rodrigo Paiva, ficou em quinto e não se elegeu naquele pleito.

Dois anos depois, na disputa municipal de 2020, o partido de Zema decidiu lançar candidatos a prefeito em apenas três cidades importantes e simbólicas do único estado governado pelo partido: Belo Horizonte, a capital, Contagem, a terceira maior do estado, e Araxá, terra natal de Zema.

Em nenhuma delas o partido chegou perto de vencer.

Na Araxá de Zema, seu candidato, Emilio Neumann, ficou em terceiro, com apenas 9,1% dos votos válidos. Em Contagem, Márcio Bernardino foi o quinto (4,6% dos votos).

Na capital, Rodrigo Paiva também ficou em quinto (3,6%). Este ano, ele tentou se eleger deputado federal, mas voltou a passar longe: recebeu apenas 7.697 votos.

A má fase de Zema como cabo eleitoral se repetiu no primeiro turno das eleições deste ano.

O Novo não conseguiu emplacar em Minas nenhum deputado federal. Para estadual, elegeu dois, contra três em 2018. O candidato do governador ao Senado, Marcelo Aro (PP), ficou em terceiro.

Apesar de contar com nove partidos, a coligação de Zema elegeu menos deputados para a Assembleia Legislativa de Minas (22) do que a chapa do adversário Alexandre Kalil (PSD). Embora derrotado no primeiro turno e contando com apenas cinco partidos, Kalil viu 27 deputados estaduais da sua aliança serem eleitos.

O candidato do partido à Presidência da República, Luiz Felipe D’Ávila, teve 0,47% dos votos no país. Em Minas, o desempenho foi um pouco menos inexpressivo (0,82%), mas o candidato só conseguiu superar 1% dos votos válidos em Santa Catarina e no conjunto das seções eleitorais do exterior.

Assim que o resultado do primeiro turno foi anunciado, Zema foi a Brasília selar o apoio a Bolsonaro, o que foi tratado pela campanha do atual presidente como um dos trunfos dessa segunda etapa.

A tarefa encomendada ao governador mineiro é a de reverter a vantagem de 563 mil votos obtida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno em Minas, quando o petista marcou 48,3% contra 43,6% de Bolsonaro.

Desde então, o governador organizou e participou de eventos ao lado de Bolsonaro ou bolsonaristas –como em Divinópolis, na segunda (24), reduto do senador eleito Cleitinho (PSC)–, ligou para prefeitos em busca de apoio, gravou vídeos para serem compartilhados nas cidades e atuou junto a entidades empresariais.

“Eleição é sempre imprevisível, tudo pode mudar na véspera, no último dia, mas nós estamos aqui em Minas assistindo a um crescimento do eleitor pró-Bolsonaro e sabemos que isso pode continuar nos próximos dias, pode se intensificar, pode dar uma paralisada e pode até recuar”, disse o governador à reportagem na segunda-feira (24).

“Mas estamos otimistas. Sabemos que a grande maioria dos prefeitos de Minas, 80% ou mais, sofreram muito na época do PT e de [Fernando] Pimentel [ex-governador do PT no estado], que é cria do Lula, e sabem como o PT é capaz de fazer estragos.”

O governador diz que os resultados pífios do Novo em 2022 se devem ao caráter de polarização da disputa. “Uma eleição majoritária, como a minha, é muito diferente de uma eleição proporcional como a de um deputado estadual ou federal. O que aconteceu em Minas aconteceu no Brasil todo. Os partidos mais aos extremos, tanto à direita quanto à esquerda, cresceram. Partidos que não estão tanto aos extremos deram uma enxugada.”

De acordo com pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (27), Lula segue à frente em Minas, com 48% das intenções de voto contra 43% de Bolsonaro.

Após o ingresso de Zema na campanha bolsonarista, a sua longa lista de adversários no estado também organizou um plano de contenção e aposta que ele não conseguirá entregar ao presidente a promessa de virada.

A linha de frente é formada pelo deputado federal Reginaldo Lopes, pelo senador Alexandre Silveira (PSD)–derrotado na tentativa de reeleição– e por Kalil.

“Ele [Zema] já se já se empenhou muito na campanha dele. Muita gente do Lula, por não saber que ele era um Bolsonaro, votou nele. Talvez se ele tivesse falado o que ele está falando agora, ele não teria tanto voto do pessoal do Lula”, diz Kalil, que tem participado de atos e se reunido diariamente com aliados de Belo Horizonte e da região metropolitana.

Kalil afirma se dedicar integralmente à capital e ao entorno, que teria deixado de lado no primeiro turno diante da necessidade de cabalar votos no interior do estado.

O senador Alexandre Silveira vai na mesma linha: “O Zema teve 40% dos seus votos casados com os do presidente Lula. Ele ter a petulância e a arrogância de achar que é dono do voto desse eleitor, isso não vai acontecer.”

Deputados federais do PT também dizem avaliar que a fama de pé-frio de Zema como cabo eleitoral vai continuar.

“O Zema é aquele político sem sal e sem tempero, não consegue transferir nada”, afirma Paulo Guedes, deputado do PT com reduto eleitoral no norte do estado, região que proporcionalmente deu a maior vitória a Lula. “A última vez que alguém achou que era imperador de Minas perdeu aqui”, reforça Odair Cunha, em referência à derrota de Aécio Neves (PSDB) para Dilma Rousseff (PT) no estado, em 2014.

“Efeito zero [o apoio de Zema], com todo o carinho ao governador. Antes do voto ser do Zema, ele foi Lula. O Zema sabe disso, se não ele teria apoiado o Bolsonaro já no primeiro turno”, diz Reginaldo Lopes.

O deputado André Janones (Avante), que comanda informalmente a estratégia digital de Lula e é de Minas, diz que o governador cometeu um erro de avaliação sobre o eleitorado do estado.

“É dos dois lados. Eu também não consegui virar votos contra o Zema no primeiro turno. O mineiro pensa por si só. Ele confundiu ter voto com ter fãs. Ele achou que tinha um monte de fãs que se ele falasse: ‘votem todo mundo aqui’ todo mundo ia votar aqui.”

Eleito vice-governador na chapa de Zema, Mateus Simões (Novo) diz considerar satisfatória a eleição de deputados federais e estaduais pela coligação de nove partidos. Ele ironiza as projeções feitas por adversários de que Zema não conseguirá “virar” Minas para o lado de Bolsonaro.

“Vamos esperar para ver o resultado. Isso é reclamação de gente que está com medo. O pessoal tá com medo, tá vendo o governador se movimentar, e fica com essa reclamação bobinha. ‘Ah, o governador não vai conseguir ajudar’. Então, ótimo, o PT pode ficar tranquilo, não tem motivo para o ex-presidente Lula visitar Minas Gerais.”

Minas virou alvo das duas campanhas por ter o segundo maior eleitorado do país, só atrás de São Paulo, e também pelo retrospecto. Desde a redemocratização, todos os eleitos também triunfaram nas urnas mineiras.

O desempenho de Zema como cabo eleitoral

2018

  • 2 deputados federais
  • 3 deputados estaduais
  • Nenhum senador

2020

  • Nenhum prefeito

2022

  • Nenhum deputado federal
  • 2 deputados estaduais
  • Nenhum senador
  • Candidato a presidente do Novo, Luiz Felipe D’Ávila teve 0,82% dos votos válidos em Minas
  • Coligação de Zema, com 9 partidos, elegeu 22 deputados estaduais; a de Alexandre Kalil (PSD), com 5 partidos, elegeu 27

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