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Política & Poder

Por que as pesquisas erraram aos subestimar a força do bolsonarismo?

Luiz Inácio Lula da Silva obteve 48% dos votos, contra 50% e 51% que previram, respectivamente, Datafolha e Ipec

Redação Jornal de Brasília

03/10/2022 15h47

Foto: Sérgio Lima/ AFP

O presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro obteve no primeiro turno um forte apoio que nenhuma das principais pesquisas do país detectou. O que saiu errado?

O que mostravam as pesquisas?

Luiz Inácio Lula da Silva obteve 48% dos votos, contra 50% e 51% que previram, respectivamente, Datafolha e Ipec, que acertaram seus prognósticos dentro da margem de erro para o ex-presidente de esquerda.

Mas o que não souberam antecipar foi o sucesso que teria o bolsonarismo: com 99% das urnas apuradas, o presidente conquistou 43% dos votos, contra um máximo de 37% atribuídos pelas pesquisas.

Outros dois aliados do presidente derrubaram as previsões: o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que foi eleito no primeiro turno com mais de 58% (após pontuar 44% e 47% nas pesquisas) e o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas que passou para o segundo turno com 42% dos votos, dez pontos acima dos 31% previstos nas pesquisas.

“Pesquisa é uma foto, não é um filme. Mas as últimas pesquisas de sexta-feira e sábado mostraram que houve grandes erros, não só na presidencial, mas na escolha de senadores, de governadores”, comentou à AFP Leandro Gabiati, doutor em ciência política e diretor da Dominium Consultoria. 

O que saiu errado?

Essa questão dominava o debate nesta segunda-feira. Embora as conclusões possam demorar algum tempo, os analistas consideram um conjunto de razões, que vão desde possíveis problemas com o desenho das pesquisas em captar a intenção de determinados setores até a movimentação de votos indecisos no último momento.

“Houve migração de voto útil (de outros candidatos como Simone Tebet e Ciro Gomes)? uma volatilidade dos votos no último momento? Como as pesquisas estiveram tão distantes da realidade, agora não sabemos se de fato Bolsonaro cresceu ou se já tinha esse apoio” e escapou às pesquisas, aponta Gabiati. 

Para a cientista política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há um “apagão de informação no Brasil”, devido ao atraso de dois anos no censo demográfico, que foi adiado de 2020 para 2022 por conta da pandemia. 

Isso afeta a precisão da amostra, principalmente em segmentos como o evangélico, que representa 30% dos brasileiros e é “um setor popular capaz de dar votos à extrema-direita”, diz Goulart.

“É provável que o censo de 2022 ajude a corrigir algumas dessas inconsistências para futuras eleições”, concorda Guilherme Casarões, cientista político da Fundação Getúlio Vargas.

Consequências para a eleição e para a democracia

“As consultoras de opinião terão que lidar com isso”. “Isso afetará a análise dos jornalistas e especialistas”, comentou à AFP Leonardo Paz, consultor para o Brasil do think tank International Crisis Group.

Essas discrepâncias representam um “grande problema para os institutos e para a própria democracia”, concorda Gabiati.

“As pesquisas são uma peça importante no processo eleitoral e é péssimo para a democracia que esse ator seja tão questionado”, sustenta o especialista, para quem as pesquisas serão um dos principais assuntos.

Bolsonaro vai reforçar seu discurso de que o que importa são as ruas, que ele chama de “DataPovo” e que “a vitória está garantida porque as pesquisas não refletem a realidade”, prevê Gabiati. 

Ele dirá “que os institutos de pesquisa trabalham para a oposição e que a grande mídia que as contrata age de forma enviesada”. 

Goulart também alerta para o risco de que as críticas às pesquisas se transformem em um discurso de negacionismo generalizado.

“Colocar em xeque as pesquisas eleitorais num contexto de populismo de extrema-direita é colocar em xeque a ciência e as fontes balizadas de informação, entre elas a mídia”, alerta. 

O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, anunciou nesta segunda-feira que coletará assinaturas para abrir Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os “institutos de pesquisa” por seus erros.

© Agence France-Presse

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