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Política & Poder

Mandetta diz que já havia previsto número de mortes por covid em 2020

Cenário mais pessimista feito pelo Ministério da Saúde era de 180 mil mortes até 31 de dezembro de 2020. Brasil bateu a marca no dia 11 de dezembro

Willian Matos

04/05/2021 13h11

Foto: Reuters

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta relembra que já havia previsto e passado para o presidente Jair Bolsonaro o número de mortes por covid-19 que o Brasil atingiria caso não adotasse medidas de prevenção contra a doença. Em sessão na CPI da Covid, Mandetta relembra que fez três cenários enquanto foi ministro.

O mais otimista dos cenários previa apenas de 30 a 40 mil mortes até 31 de dezembro de 2020. O realista, que considerava as dificuldades do país de se promover um completo isolamento social e levava também em conta a “característica de abraço, de beijo, de vínculo familiar, de almoço, enfim”, que citou Mandetta, era de 80 a 90 mil óbitos. E o mais pessimista, que o Brasil só atingiria se não promovesse testagem e outras medidas de prevenção, era de 180 mil óbitos.

“Eu levei, expliquei [ao presidente]”, disse Mandetta. O Brasil atingiu o número de 180 mil vidas perdidas antes mesmo do dia 31. No dia 11 de dezembro de 2020, o país chegou ao cenário mais pessimista previsto pelo ex-ministro.

Mandetta reafirmou que levou a situação a Bolsonaro e comentou que o presidente sempre levava suas falas em consideração, mas que, dias depois, mudava de ideia. O ex-ministro criticou ex-secretários de saúde e parlamentares que falavam que a doença duraria apenas seis semanas e não faria nem 2 mil mortos. “Eu acho que naquele momento que o presidente entendeu que aquelas outras previsões poderiam ser mais apropriadas naquele momento”, disse.

“Eu não era uma voz solitária no governo, não. Eu tinha a concordância de um número enorme de pessoas. O presidente, no mais das vezes, compreendia, falava ‘olha, então dê segmento [às medidas de prevenção’. Eu achava que estava fazendo um bom trabalho. Mas passavam-se dois, três dias, ele voltava para aquela situação de quem não havia, talvez, compreendido, acreditado, apostado”, relembrou Mandetta, negando qualquer discussão acalorada com o presidente durante reuniões.

Não recomendou cloroquina

Mandetta disse que, enquanto esteve à frente do Ministério, não mandou aumentar a produção de cloroquina, medicamento recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro no combate à covid-19. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou diversas vezes que a droga não tem efeito frente ao novo coronavírus.

“A única coisa em relação à cloroquina que o Ministério da Saúde fez, após consulta ao Conselho Federal de Medicina (CFM), era para uso compassivo. O uso compassivo é uma utilização que se faz quando não há outro recurso terapêutico para os pacientes graves em ambiente hospitalar”, explicou.

Depois, Mandetta reforçou que não recomendou o aumento da produção do remédio e sinalizou que a ordem não passou pelo Ministério da Saúde. “Provavelmente foi uma determinação feita, na minha época como ministro, à margem do Ministério da Saúde”. O ex-ministro disse ainda que não era necessário aumentar o estoque de cloroquina mesmo se ela fosse ministrada a pacientes com covid.

“Mesmo porque a cloroquina nos é produzida regularmente para uso a que se convém, que é malária ou lúpus, pela Fiocruz, e nós tínhamos já a quantidade necessária para aquilo que se presta. Ela não é um medicamento difícil de ser comprimido. Nós tínhamos um estoque muito bom de cloroquina para atravessarmos aquele momento no que dizia respeito ao que ela necessitava, mesmo que usássemos para os pacientes de ambientes hospitalares.”

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