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Política & Poder

Indeciso sobre sucessão de Dodge, Bolsonaro equipara PGR à Presidência da República

O indicado substituirá a atual chefe do Ministério Público Federal, Raquel Dodge, cujo mandato expira em 17 de setembro

Lindauro Gomes

15/08/2019 11h40

Foto: Adriano Machado/Reuters

Ao falar sobre a sua dificuldade para escolher o futuro procurador-geral da República, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta quinta-feira (15) que o cargo de chefe do Ministério Público Federal pode ser até mais importante que o seu no Palácio do Planalto.

“Tudo passa pelo PGR também. De vez em quando, o PGR é para ser mais importante que o presidente. Esse que é o problema”, afirmou ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta quinta-feira (15).

Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo nesta quarta (14), com uma corrida embaralhada por um grande número de candidatos, Bolsonaro decidiu adiar o anúncio para as próximas semanas.

Ele tem repetido que tem muitos candidatos para a PGR (Procuradoria-Geral da República), mas que é preciso encontrar um perfil que atenda várias exigências. A indicação de Bolsonaro precisa ser aprovada depois pelo Senado.

Não basta uma pessoa que tenha uma só virtude. Como um todo, nós temos que botar o Brasil para frente. Você bota um cara, por exemplo, que a especialidade é o combate à corrupção. Daí tem a questão ambiental, como é que fica? Vai continuar como alguns no passado, atrapalhando essa área, que é importantíssima para o desenvolvimento do Brasil? Como fica a questão de minorias, questão indígena?

Ao dizer que pelo cargo de procurador-geral passam todos os assuntos, o presidente lembrou do caso recente de dois navios iranianos que ficaram mais de 50 dias no Brasil por falta de abastecimento.

As empresas responsáveis pelas embarcações tiveram de levar o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal) para a resolução do caso. Havia um temor de que o abastecimento dos navios pudesse gerar sanções econômicas à Petrobras por parte dos EUA, que tem restrições com o Irã.

Questionado sobre a possibilidade de indicar o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, para o cargo, disse que ele nunca o procurou. “Nunca me procurou, o Deltan. Quem quer ser candidato e quer entrar na lista tem que me procurar“, disse. “O nome dele, lá atrás, já foi cogitado por alguém. Eu não lembro quem foi, lá trás, no início do mandato.”

Nesta semana, Bolsonaro fez um um gesto ao subprocurador-geral da República José Bonifácio de Andrada, com quem se reuniu no Palácio do Planalto.

Na semana passada, o presidente recebeu os subprocuradores-gerais Marcelo Rabello e Paulo Gonet e o procurador regional Lauro Cardoso.
Ele teve audiências privadas com os subprocuradores-gerais Mário Bonsaglia, José Bonifácio Andrada e Antonio Carlos Soares na terça.

Bonsaglia, primeiro colocado na lista da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), foi o único nome da lista tríplice a ter encontro com Bolsonaro.

Já Andrada, católico e de perfil conservador, é integrante da Opus Dei. Durante a campanha pela lista tríplice, ele declarou, por exemplo, ser contra o aborto.

Para além da agenda de costumes em sintonia com a de Bolsonaro, o subprocurador também tem bom relacionamento com as Forças Armadas. Ele estudou na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena (MG), e até hoje se encontra com os colegas que seguiram carreira na Força Aérea Brasileira.

Andrada foi vice-procurador-geral de Rodrigo Janot de 2016 a 2017. À época, sua indicação foi vista como uma sinalização do então procurador-geral à ala mais conservadora do MPF (Ministério Público Federal).

De acordo com relatos feitos à reportagem, Andrada teria dito ao presidente que só poderia aceitar um eventual convite formal depois de consultar seus colegas do Ministério Público Federal. A expectativa era a de que ele se reunisse com os pares ainda nesta quarta-feira.

O subprocurador foi um dos dez candidatos à lista tríplice da PGR. Com 154 votos, acabou na sétima posição. Desde que saiu o resultado, em 18 de junho, Andrada submergiu -cumprindo um acordo informal feito entre os postulantes.

A ordem era a de que, definida a lista tríplice, os demais nomes tirariam o time de campo e não trabalhariam por fora para conquistar Bolsonaro -embora o presidente não seja obrigado a respeitar o resultado da lista.

Mário Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul foram os três mais votados na eleição que é organizada desde 2001 pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Auxiliares do presidente no Planalto apontam como empecilho a ligação de Andrada com o PSDB. Ele foi advogado-geral da União durante o último ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, e advogado-geral de Minas Gerais de 2003 a 2010, quando o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) era governador do estado.

Descendente do patriarca da independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, é filho do ex-deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) -que, no ano passado, aos 88 anos, decidiu não disputar a reeleição após 15 mandatos legislativos. As informações são da FolhaPress.

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