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Política & Poder

Comandante tenta unir Exército em meio a crises e prega legalismo militar

As medidas incluem um esforço para afastar a imagem de que o Exército atua fora da legalidade e estudar uma proposta de aumento salarial

Redação Jornal de Brasília

21/08/2023 15h38

Foto: Exército Brasileiro/ Divulgação

CÉZAR FEITOZA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, enviou uma ordem interna para todos os militares com uma série de medidas para intensificar o processo de “fortalecimento da coesão” e valorização da “família militar”.

As medidas incluem um esforço para afastar a imagem de que o Exército atua fora da legalidade e, com foco nas patentes mais baixas, estudar uma proposta de aumento salarial para os militares.

A ordem fragmentária nº 1 foi assinada por Tomás em meio ao turbilhão de críticas que o Exército tem recebido pelo envolvimento das cúpulas militares no governo de Jair Bolsonaro (PL), na atuação diante dos acampamentos golpistas e na participação de membros da Força em casos de corrupção investigados pela Polícia Federal.

“Os quadros da Força devem pautar suas ações pela legalidade e legitimidade, mantendo-se coesos e conscientes das servidões da profissão militar, cujas particularidades tornam os direitos e os deveres do cidadão fardado diferentes daqueles dos demais segmentos da sociedade”, escreve Tomás no início do documento, em trecho que analisa o cenário atual.

A situação do Exército, prossegue o texto, apresenta a necessidade de consolidar o “sentimento de pertencimento” dos militares à Força e a vontade de melhorar a comunicação diante do “desconhecimento, por parte da sociedade, das ações desenvolvidas pela Força Terrestre”.

Com a ordem, Tomás tenta solucionar dois problemas identificados pelo comando do Exército, segundo generais ouvidos pela reportagem.

O primeiro é um problema interno. Com o aparecimento de dezenas de militares em investigações da Polícia Federal e na CPI do 8 de Janeiro, acrescida pela decepção de parte dos militares pela vitória eleitoral de Lula (PT), a cúpula do Exército percebeu a necessidade de aumentar a satisfação dos militares.

Para isso, o comandante criou grupos de trabalho para apresentar propostas para aumentar o salário dos militares -em especial, os de baixa patente-, aperfeiçoar o Sistema de Saúde do Exército e o Sistema Colégio Militar do Brasil e aumentar o número de moradias militares.

Especialmente com o reajuste salarial, a cúpula do Exército tenta arrefecer críticas de que os militares de alta patente, especialmente os oficiais-generais, têm dezenas de benefícios que inflam os salários em detrimento dos praças e suboficiais.

O segundo problema é externo. Na avaliação da cúpula militar, a imagem da Força tem sido degradada por crimes e manifestações de oficiais que não representam o Exército. Seria o caso do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que segue preso por mais de 3 meses, e o coronel Jean Lawand, que incentivou um golpe contra Lula.

Para inverter a situação, a Força busca criar pautas positivas e criar uma associação nacional de “amigos do Exército Brasileiro” para proporcionar a “interlocução com personalidades e autoridades civis”.

A ordem fragmentária foi divulgada nos canais internos do Exército na última sexta-feira (18). Seu teor é um avanço da ofensiva de Tomás para ampliar a comunicação com as tropas e reverter um cenário de piora na percepção pública sobre as Forças Armadas.

O ato também precede uma reunião dos comandantes das três Forças com o ministro José Múcio Monteiro (Defesa) e Lula, no Palácio da Alvorada, no último domingo (20). No encontro, segundo relatos feitos à reportagem, os chefes militares disseram estar comprometidos com a punição de oficiais envolvidos com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Militares de variadas patentes, de sargentos a oficiais-generais, das três Forças Armadas, mas sobretudo do Exército, são investigados por suspeita de corrupção e malfeitos durante e depois do governo Bolsonaro.

Revelações de dois de seus antigos colaboradores, um mais fiel e outro esporádico, colocaram o ex-presidente nas cordas das investigações da Polícia Federal e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os responsáveis por esse novo acuamento são o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens na Presidência, e o programador Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, chamado por bolsonaristas na campanha eleitoral para atuar na cruzada contra as urnas eletrônicas.

Tanto Cid como Delgatti estão presos -o primeiro sob suspeita de adulterar o seu cartão de vacinação, o de Bolsonaro, o de sua esposa, Gabriela Cid, e de uma de suas filhas; e o segundo por uma trama para prejudicar o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Já Bolsonaro foi recentemente condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por mentiras e ataques ao sistema eleitoral, ficando assim inelegível pelos próximos oito anos, e ainda enfrenta uma série de ações na Justiça, como a suspeita de responsabilidade nos ataques golpistas do 8 de janeiro.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, nos bastidores do Exército, é dado como certo que Cid “vai pro barro”. A gíria da caserna, usada por um oficial que comentou a situação, é sinônimo de que um militar será punido.

No caso do ex-ajudante de ordens de Bosonaro, a aposta é que ele será excluído da corporação e perderá sua patente caso condenado na Justiça comum -hipótese também considerada muito provável diante dos fatos já revelados nas investigações em que Cid está envolvido.

Cid está preso há três meses e meio num batalhão da Polícia do Exército em Brasília sob suspeita de ter falsificado cartões de vacinação de Bolsonaro e familiares e é investigado em outros casos, como o do vazamento de dados sigilosos sobre a urna eletrônica e os ataques golpistas do 8 de janeiro.

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