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Política & Poder

Classe artística entra em cena na polarizada campanha presidencial no Brasil

Do lado de Bolsonaro, os famosos que o apoiam são sobretudo do Sertanejo, com artistas populares como Gusttavo Lima

Redação Jornal de Brasília

27/09/2022 15h27

Divulgação

Vestindo um macacão vermelho vivo, com o corpo abraçado a uma barra de ‘pole dance’, o olhar sensual, a estrela Anitta dirige-se a seus 60 milhões de seguidores no Instagram e pede para que votem em Lula.

Na polarizada campanha à eleição presidencial de outubro, cada vez mais estrelas do ‘showbiz’ declaram abertamente nas redes sociais suas preferências entre os dois favoritos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), do PT, e o presidente Jair Bolsonaro, do PL.

A lista de artistas que desejam a volta de Lula ao poder é tão grande quanto eclética.

Além de astros do funk e do pop, como Anitta, Ludmilla e Luísa Sonza, estão rappers como Emicida e monstros sagrados da MPB como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, que foi seu ministro da Cultura.

Do lado de Bolsonaro, os famosos que o apoiam são sobretudo do Sertanejo, com artistas populares como Gusttavo Lima.

“Deus, pátria, família”

“Vivemos um momento de muito descrédito, desconfiança, frente às instituições de forma geral”, mas “quando seu artista favorito declara voto (nas redes sociais), há a sensação de que existe uma relação muito mais próxima e isso rompe a sensação de desconfiança”, explica à AFP Issaaf Karhawi, especialista em comunicação digital da Universidade de São Paulo (USP).

Para Paulo César Gomes, historiador da Universidade Federal Fluminense (UFF), o compromisso político de artistas da esquerda existe há tempos, especialmente entre aqueles que se opuseram à ditadura, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados durante os anos de chumbo.

“A participação ativa de artistas que apoiam a extrema direita na esfera pública é muito recente”, acrescenta, lembrando dos protestos multitudinários de 2013 contra a presidente Dilma Rousseff e por seu impeachment em 2016.

Gusttavo Lima, de 33 anos, com mais de 44 milhões de seguidores no Instagram, já tinha declarado apoio a Bolsonaro e sua política pró-armas durante a campanha de 2018, em um vídeo no qual aparecia atirando com um fuzil.

Mais recentemente, durante um show em Brasília, criticou o “comunismo” que, segundo ele, é encarnado por Lula, e defendeu os valores bolsonaristas, “Deus, pátria e família”.

Hollywood intervém

A questão é se estes apoios vão se traduzir em votos. “Dados mostram que, este ano, jovens de 16 a 18 anos representam um número muito significativo e não podemos desconsiderar que esse foi um movimento da classe artística” depois de uma intensa campanha destes artistas nas redes sociais incentivando os adolescentes a tirar o título de eleitor, explica Karhawi.

Anitta, a primeira cantora brasileira a chegar ao topo do ranking global de sucessos do Spotify, anunciou em suas redes que não vai tirar fotos com seus fãs se estes não estiverem registrados para votar em 2 de outubro.

Astros americanos Leonardo Di Caprio, crítico frequente de Bolsonaro nas redes sociais, a quem acusa de destruir a Amazônia, e Mark Ruffalo também aderiram à campanha para incentivar os jovens brasileiros a votar.

O presidente responde às críticas com mensagens irônicas e textos em inglês, apesar de ele falar apenas português.

A campanha de Bolsonaro se alimenta destes ataques para engajar sua base, avalia Thiago Soares, coordenador de um grupo de pesquisas sobre a cultura pop na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A rejeição de uma artista tão “sexualizada” como Anitta pode reforçar a posição de Bolsonaro em suas bases como defensor da moral tradicional e “dos bons costumes”, avalia.

Os cantores sertanejos se dirigem, por sua vez, aos moradores das zonas rurais que vivem do agronegócio, “bolhas conservadoras” e bolsonaristas, diferentemente de Anitta e Ludmilla, “que vêm das favelas”, explica Soares.

Os artistas que apoiam Lula tentam, por sua vez, recuperar a bandeira do Brasil, da qual os seguidores do presidente se apropriaram. Assim, durante seu show no Rock in Rio, em meados de setembro, a funkeira Ludmilla se apresentou com um figurino verde e amarelo.

© Agence France-Presse

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