Menu
Opinião

Ações preventivas garantem envelhecimento mais saudável  

Cuidado com a saúde viabiliza vantagens para idosos e contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde

Redação Jornal de Brasília

23/01/2023 16h51

Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

A área da Saúde enfrenta inúmeros desafios e um deles certamente está relacionado ao envelhecimento populacional. No Brasil, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente temos cerca de 215.487.000 de habitantes, sendo 10,49% de idosos (65 anos ou mais). Em 2060, estima-se que nossa população será de 228.286.000 brasileiros, com uma taxa de 25,5% de idosos1.

Com o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida, as doenças degenerativas vão se tornando cada vez mais prevalentes. Este cenário demonstra a necessidade de implementar cuidados específicos para a população idosa, além de planejar ações que contribuam para a prevenção de doenças e garantam mais qualidade de vida para as pessoas durante o processo de envelhecimento físico e cognitivo.  

Precisamos nos nutrir adequadamente, nos exercitar e deixar o nosso corpo saudável, mas apesar dos cuidados, passamos por uma redução da absorção de micronutrientes, como minerais, vitaminas e proteínas. O cálcio e a vitamina D fazem parte dos dois primeiros grupos e estão intimamente relacionados com a saúde óssea e muscular, além de outras funções extra-esqueléticas, como a ação neuroprotetora, ação antioxidante, a defesa antimicrobiana, a imunorregulação, a defesa cardiovascular e as ações anti-inflamatória e anticâncer2,3.

Níveis baixos da vitamina D prejudicam a absorção intestinal do cálcio, que somada a uma dieta pobre deste mineral, podem agravar a perda da massa óssea, pois o cálcio dos ossos é retirado para ser usado em inúmeras outras ações bioquímicas no nosso organismo, aumentando a fragilidade óssea e o risco da osteoporose4-6.

É importante ressaltar ainda que os brasileiros têm hábitos alimentares com baixa ingestão de nutrientes importantes. Segundo o estudo BRAZOS, 99% da população brasileira não está ingerindo quantidades necessárias de cálcio e 99,3% de vitamina D7. Boa parte da nossa vitamina D depende da sua síntese na pele com a exposição ao sol, pois nossos alimentos normalmente são pobres desta vitamina4-6.

E em relação às proteínas um estudo americano apontou que aproximadamente 38% dos homens e 42% das mulheres ingerem proteínas abaixo das recomendações mínimas, de 0,8g/kg/dia, levando uma preda progressiva da massa muscular na vida adulta, enquanto a média de ingestão recomendada é de 1,2g a 2g/kg/dia8.

As populações sujeitas à deficiência de vitamina D e nas quais recomenda-se dosar a vitamina D (25 hidroxivitamina D) são: pessoas acima de 60 anos, pacientes com osteoporose, os que apresentam quedas frequentes e fraturas, osteomalácia/raquitismo, hiperparatireoidismo, síndromes com diarreias crônicas (doença celíaca, após cirurgia bariátrica), doença renal crônica, além de gestantes e indivíduos com contraindicação de exposição solar 6.

Apesar de vivermos em um país tropical, vários estudos mostram que uma boa parte da nossa população apresenta uma deficiência de vitamina D, sendo mais encontrada na região Sul. Mesmo considerando 20 ng/mL como ponto de corte (valor mínimo definido) para deficiência de vitamina D, níveis inferiores a este valor foram encontrados em 17% das 1.993 mulheres brasileiras estudadas entre 60-85 anos, e em 24,5% das residentes em Porto Alegre, em 42% de idosos da comunidade e em 71 % dos institucionalizados residentes em São Paulo, em 27% das mulheres pós-menopausa residentes no Rio de Janeiro e, em Recife, essa prevalência foi descrita em 24% das pacientes pós-menopausa e em 31,5% dos homens idosos6.

A suplementação de vitamina D deve ser individualizada, considerando-se o nível basal (antes da suplementação) e visando valores da 25(OH)D entre 30 e 60 ng/ml. Lógico que existem variações porque que pessoas diferentes têm necessidades diferentes de reposição, entre os principais fatores, a sua exposição regular ao sol e a capacidade de cada organismo de absorver a vitamina D no intestino e de armazená-la nos tecidos6.

Em relação a quedas e fraturas, em um estudo em conjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro com o Instituto Nacional de Traumatologia, observamos que as fraturas mais graves ocorriam nos idosos com os níveis de vitamina D abaixo de 20 ng/mL. Evidenciamos ainda, que esforços para aumentar os níveis da vitamina D, para aumentar a massa corporal (musculatura) e a densidade mineral óssea poderiam reduzir a incidência dessas fraturas9.

Uma simples e eficaz suplementação combinada com doses pequenas da vitamina D (doses diárias de 400 UI – 800 UI) com o cálcio (doses diárias de 1.000 mg – 1.200 mg) já são capazes de reduzir a incidência de quedas e de fraturas. Num estudo anterior foi observada uma redução de 6% do risco de qualquer fratura e de 16% do risco da fratura de quadril10.

Quanto às ações não esqueléticas da vitamina D, um aspecto a ser considerado é em relação à diminuição da cognição e até mesmo à demência. O envelhecimento favorece quadros associados à perda das capacidades cognitivas referentes à memória e à linguagem. Porém, há mecanismos de promoção à saúde que agem de forma preventiva.  Um estudo realizado pela Universidade do Sul da Austrália demonstrou que a carência de vitamina D está associada a menores volumes cerebrais. Os cientistas observaram que até 17% dos casos de demência poderiam ter sido evitados em pessoas com níveis muito baixos de vitamina D, com o aumento dos seus níveis para faixa mínima de 20 ng/mL11.

Outra constatação muito relevante foi a de um estudo que avaliou a relação entre a taxa de mortalidade por determinadas doenças e os níveis da vitamina D. Os autores demonstraram um aumento de 25% na taxa de mortalidade para o câncer, doença cardiovascular e doenças respiratórias nas pessoas com propensões genéticas e com níveis muito baixos de vitamina D (10 ng/mL), quando comparadas com pessoas de mesmo risco, porém com a vitamina D em 20 ng/mL de vit D12.

Outro aspecto a ser considerado é a proteção da vitamina D contra Covid-19. Um estudo com veteranos nos Estados Unidos evidenciou uma redução nas taxas de infecção pela Covid-19 ao serem suplementados com a vitamina D2 (origem vegetal) e a vitamina D3 (origem animal) em 28% e em 20%, respectivamente. Mas os benefícios não pararam por aí. Houve uma redução na taxa de mortalidade dentro dos primeiros trinta dias de infecção, de 33% com a vitamina D3 e de 25% com a vitamina D213.

Ações preventivas, como acompanhamento médico, suplementação de vitamina D se for necessária para manter níveis adequados no sangue, exposição ao sol e dieta balanceada, podem reduzir os riscos de desenvolver essas doenças ou ajudar a conter o avanço delas em idosos que já apresentam sintomas.  

Ter uma alimentação saudável é fundamental neste processo, já que a combinação de vitamina D e cálcio ajuda a manter a saúde óssea e mantém o equilíbrio do mineral no organismo, evitando a retirada do cálcio da reserva nos ossos.   

Ações de promoção à saúde permitem que a população idosa sinta menos dor, tenha mais autonomia para fazer atividades e aumente a longevidade ativa. Essas iniciativas contribuem ainda para a manutenção da saúde mental dos idosos.  

Atender as necessidades especiais do corpo durante o processo de envelhecimento traz vantagens para todos!  

Dr. Francisco Paranhos, professor colaborador do Serviço de Pós-graduação em Endocrinologia da UFRJ, vice-presidente da ABOOM?e membro da Diretoria Científica e do Departamento de Ortopedia da ABRASSO 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado