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Mundo

Ucrânia quer negociar paz em seus termos com China e Sul Global na mesa

O governo de Vladimir Putin não aceita a proposta, que exige a retirada de forças russas de todas as áreas ora ocupadas no vizinho

FolhaPress

24/02/2023 14h36

Foto: Reprodução

Igor Gielow
São Paulo, SP

No dia em que a invasão russa de seu país completou um ano, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que quer discutir um acordo de paz com Moscou envolvendo a China e países da América Latina e a África, além da Índia -em outras palavras, o chamado Sul Global.


Só que ele quer fazer isso em seus termos, segundo o plano de dez pontos apresentado no fim do ano passado por Kiev para pôr um fim às hostilidades. O governo de Vladimir Putin não aceita a proposta, que exige a retirada de forças russas de todas as áreas ora ocupadas no vizinho, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.


Jornalista azeri sobe no palco em que Zelenski concedia entrevista coletiva para tirar selfie com o presidente, em Sem citar o Brasil, Zelenski fez com a fala um aceno à ideia ainda incipiente de formação de um “clube da paz” de países neutros no conflito apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi rejeitada pelos EUA e seus aliados, mas vista com simpatia pelo Kremlin.


Ao mesmo tempo, ao dizer que quer debater a sua proposta, o ucraniano mantém o debate interditado na prática.


A Ucrânia e Ocidente também comentaram a proposta de negociação de paz feita pela China nesta sexta (24, noite do dia 23 no Brasil). O texto chinês é genérico, falando em respeito a fronteiras nacionais sem determiná-las e também exigindo o fim do regime de sanções ocidentais a Moscou, o que não irá acontecer tão cedo.


No caso de Kiev, a encarregada da embaixada do país em Pequim , Leschinska Zhanna, disse que a via como “um bom sinal” a disposição chinesa, mas afirmou que “gostaria de ver a China do seu lado, já que neste momento não está apoiando os esforços ucranianos”.


Zelenski, por sua vez, afirmou que estava “aberto a alguns dos pontos” do acordo proposto, sem especificar.


Já a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, desprezou a proposta. “A China não tem muita credibilidade porque eles não foram capazes de condenar a invasão ilegal da Ucrânia e também assinaram dias antes da invasão um acordo de amizade ilimitada entre o presidente Xi [Jinping, líder chinês] e o presidente Putin”, afirmou seu secretário-geral, Jens Stoltenberg.


Ele já havia, assim como os EUA, acusado a China de querer fornecer armas para os russos, o que Pequim negou. Os chineses são o ponto mais sensível de qualquer discussão de paz, dado que mantêm uma forte aliança com a Rússia e, ao mesmo tempo, querem se posicionar como mediadores pelo fim do conflito. O principal diplomata de Pequim, Wang Yi, esteve com Putin na quarta (22).


A Índia também tem boas relações com o Kremlin, e ambos os países se recusaram a condenar a guerra em votações da ONU em 2022 e nesta quinta (23).


O Brasil, que condenou a guerra nas duas ocasiões, também se coloca como mediador por não ter aderido ao sistema de sanções e defender uma saída negociada. Também na quinta, o vice-chanceler russo Mikhail Gazulin disse que tinha “tomado nota” da sugestão de negociação feita por Lula e fez elogios ao Brasil por sua neutralidade na prática.


Zelenski falou em uma entrevista coletiva para marcar o primeiro ano da guerra. Antes, ele havia participado de cerimônias em Kiev e sido convidado para participar virtualmente de um encontro do G7.


Diferentemente do que observadores esperavam, por sua vez o Kremlin adotou discrição com a data. Não houve grandes ondas de ataques com mísseis e drones, e os combates seguiram o padrão usual, feroz, em pontos da frente no leste da Ucrânia.


Há um novo ponto de tensão que preocupa analistas: a Transdnístria, encrave separatista pró-russo na Moldova, pequeno país ensanduichado entre Ucrânia e Romênia. Lá há cerca de 1.000 soldados russos desde os anos 1990, e o Kremlin disse que ataques a suas forças lá serão vistos como um ataque à Rússia, elevando o temor de que possa intervir na região.


Do lado ucraniano, os quatro primeiros tanques Leopard-2 da Polônia chegaram ao país nesta sexta. A Suécia afirmou que poderá doar dez desses blindados, e a Alemanha elevou de 14 para 18 o número que pretende enviar. Já o Pentágono informou que os 31 tanques M1 Abrams prometidos podem demorar até dois anos para poderem entrar em ação na Ucrânia.

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