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Ucrânia atinge navio em ataque inédito a porto na Rússia

A operação foi conduzida pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) e confirmada pelo Ministério da Defesa da Rússia

Redação Jornal de Brasília

04/08/2023 9h46

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Pressionada pela dificuldade em sua contraofensiva e pela campanha de bombardeio contra seus portos, a Ucrânia conseguiu sucesso em uma ação ousada e inédita na madrugada desta sexta (4): atacou com drones marítimos uma base naval na Rússia, danificando um grande navio de transporte do adversário.

A operação foi conduzida pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) e confirmada pelo Ministério da Defesa da Rússia. O que difere foi o resultado divulgado: Moscou afirma que repeliu o ataque abatendo dois drones marítimos, enquanto Kiev clamou sucesso ao abalroar o navio de transporte de tropas Olenegorski Gorniak no mar Negro.

Imagens e relatos de analistas apoiam a versão ucraniana. O SBU divulgou um vídeo gravado de dentro do drone marítimo, essencialmente um barco carregado com 450 kg de explosivos do mesmo tipo que já havia atingido a ponte que liga a Crimeia anexada à Rússia no mês passado.

O aparelho se aproxima e atinge o centro de um navio com perfil semelhante ao do Olenegorski Gorniak.

Ao longo desta manhã, emergiram vários vídeos em redes sociais feitas por russos da embarcação adernando, sendo rebocada em Novorossisk. A Folha falou com um analista militar em Moscou, próximo da Defesa, que confirmou o dano do ataque.

Mais importante do que a avaria é a natureza da ação. Novorossisk é um porto por onde passam 2% da produção mundial de petróleo, e fica a 850 km por mar da região de Odessa, principal área portuária da Ucrânia. Os drones são muito difíceis de detectar, pois são quase submersíveis, ficando apenas parte de sua estrutura para fora da água, mas o alcance impressiona.

O Olenegorski Gorniak, com 112 metros de comprimento, pertence à Frota do Norte russa, baseada no Ártico, mas desde o começo da Guerra da Ucrânia em 2022 apoia as ações no mar Negro. Ele serve de transporte para soldados e equipamentos da Rússia continental para os portos ocupados na costa do mar de Azov, um ramo do mar Negro.

O terminal comercial de Novorossisk carrega petroleiros com produto russo e também do Cazaquistão, que chegam lá pelo Consórcio do Oleoduto do Mar Cáspio. Segundo o órgão, não houve danos à sua infraestrutura ou a navios fundeados lá. Para driblar as sanções ocidentais, a Rússia aumentou vertiginosamente a exportação, com preço mais barato, de óleo para países como Índia e China.

Os ucranianos vinham tentando atingir navios russos desde a semana passada, segundo Moscou, que sempre divulgou sucesso em afundar os drones. Como não tem mais uma Marinha operante, Kiev passou a apostar nas embarcações de controle remoto para infligir danos. No ano passado, haviam conseguido a mais simbólica vitória na guerra ao afundar o cruzador pesado Moskva, nau capitânia da Frota do Mar Negro, usando mísseis disparados de terra.

A ação confirma o mar Negro como palco renovado das hostilidades desde que Vladimir Putin abandonou o acordo que permitia o escoamento da produção de grãos de Kiev pelo corredor marítimo que liga sua costa ao estreito de Bósforo, na Turquia, para dali ganhar o Mediterrâneo.

Putin passou a bombardear a infraestrutura portuária da região, inclusive terminais no estuário do rio Danúbio, que eram secundários em volume, mas que ficam a poucas centenas de metros da Romênia, país membro da Otan. A aliança militar do Ocidente aumentou a vigilância aérea na região, mas navios seguem impedidos de passar com segurança, o que eleva ainda mais a tensão.

Nesta sexta, o Ministério da Defesa do Reino Unido afirmou que as ações mostram que a Rússia “aumentou seu apetite pelo risco de conduzir ataques perto do território da Otan” .

A Ucrânia também acusou a Rússia de planejar um ataque de bandeira falsa, ou seja, feito por ela mesmo contra uma refinaria em Belarus. O objetivo, disse o SBU, seria o de culpar sabotadores ucranianos para provocar Minsk, que já está em atrito com a Polônia no contexto da guerra.

Desde que os mercenários do Grupo Wagner foram realocados para a aliada de Moscou Belarus, na esteira do motim fracassado contra a cúpula militar russa, os poloneses acusam o risco de incursões contra seu território. Varsóvia disse que seu espaço aéreo foi invadido por helicópteros belarrussos e reforçou as fronteiras, além de promover uma reunião de emergência com a vizinha Lituânia.

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