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Rússia traça linha vermelha para os EUA na Guerra da Ucrânia

A Rússia afirmou que os EUA irão cruzar uma linha vermelha e serem considerados parte do conflito na Ucrânia

FolhaPress

15/09/2022 12h43

Foto: Maxim Shemetov/Reuters

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP

A Rússia afirmou nesta quinta (15) que os Estados Unidos irão cruzar uma linha vermelha e serem considerados parte do conflito na Ucrânia se fornecerem mísseis de longo alcance para as forças de Kiev.

A ameaça foi feita pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, ao falar sobre a especulação de que os americanos possam fornecer mísseis táticos ATACMS, com alcance de até 300 km, para os ucranianos.

Essas armas podem ser empregadas pelos 16 lançadores Himars já entregues pelos EUA a Kiev, que oficialmente só usam a munição de alta precisão GMLRS -foguetes guiados por GPS que atingem alvos a até 80 km.

“Se Washington decidir fornecer mísseis de maior alcance para Kiev, então estará cruzando uma linha vermelha e será parte direta do conflito. A Rússia tem o direito de defender seu território”, afirmou Zakharova.

O tom não é novo: Zakharova e seu chefe, o chanceler Serguei Lavrov, já haviam acusado os EUA de se envolverem diretamente no conflito devido ao enorme influxo de material bélico e dados de inteligência para a Ucrânia. Mas o momento atual e o estabelecimento da tal linha vermelha dão dramaticidade à fala.

A Rússia está vivendo seu momento de maior dificuldade na guerra iniciada há mais de seis meses, com o avançou recente da Ucrânia, que retomou áreas da província de Kharkiv (nordeste do país). A contraofensiva pegou as forças de Moscou de surpresa, mas a situação parece mais estabilizada na frente agora.

O uso do termo linha vermelha é complexo, pois expõe o acusador ao ridículo caso tal linha seja ultrapassada –e, no caso, a Rússia teria de declarar guerra aos EUA, o que equivaleria a um namoro com o apocalipse nuclear.

Nos anos 2010, o americano Barack Obama passou por isso ao estabelecer linhas vermelhas para o regime sírio: se houvesse ataques químicos na guerra civil do país, os EUA iriam intervir. Tais bombardeios ocorreram repetidamente, e o presidente não fez nada decisivo.

Até aqui, os EUA já empenharam US$ 15 bilhões (R$ 76 bilhões) em armas para Kiev, quase quatro vezes o orçamento militar anual do país no pré-guerra. Houve um incremento: inicialmente eram mísseis portáteis antitanque, úteis para conter o ataque inicial russo, mas hoje são lançadores de foguetes, artilharia e até sistemas antiaéreos.

Nesta semana, Kiev apresentou um plano para virar uma verdadeira potência militar, visando conter os russos: quer ser armada por décadas pelo Ocidente e estabelecer pactos de assistência mútua bilaterais, mesmo sem entrar na Otan (aliança militar ocidental). Moscou viu na ambiciosa proposta o “prólogo da Terceira Guerra Mundial”.

Por óbvio, isso dá o caráter de guerra por procuração que Moscou acusa o Ocidente de fazer, mas sempre houve limites: aviões de combate não foram enviados, nem sistemas de longa distância que pudessem atingir o território russo.

No mês passado, uma base aérea da Frota do Mar Negro na Crimeia foi atingida por explosões, que dizimaram talvez metade dos 24 caças e aviões de ataque ali sediados. Imagens de satélite sugeriram um ataque com mísseis, embora eles não tenham sido vistos e a região era bastante populosa.

Uma suspeita recaiu sobre os ATACMS, o que Kiev não confirmou nem negou. Com a retomada de quase todo o território de Kharkiv, os russos podem temer ataques à sua região vizinha de Belgorodo, algo que só ocorreu na forma de envio de drones e sabotadores, para evitar uma escalada local.

Também nesta quinta, o governo da cidade de Krivii Rih disse que conseguiu conter o aumento do nível de rio da região após o estouro de barragens por um ataque com mísseis de cruzeiro feitos pela Rússia, como parte das ações de contenção após o sucesso inicial da tropa de Kiev no nordeste.

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