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Catedral cheia, flores e canhões marcam dia de homenagens a Elizabeth 2ª

A Catedral de St. Paul, no centro de Londres, estava lotada, mas a atmosfera parecia refletir uma nação que ainda tenta assimilar

FolhaPress

09/09/2022 22h16

Figura icônica das terras britânicas comemorou o bicentenário da independência

Marina Izidro
Londres, Reino Unido

Mais de 2.000 pessoas acompanharam nesta sexta-feira (9) o serviço religioso em memória da rainha Elizabeth 2ª, morta na véspera, aos 96 anos. A Catedral de St. Paul, no centro de Londres, estava lotada, mas a atmosfera parecia refletir uma nação que ainda tenta assimilar a perda de sua matriarca.

A cerimônia teve início às 18h10 (14h10 em Brasília), mas sete horas antes já havia grupos formando filas para tentar conseguir alguns dos ingressos distribuídos ao público. Na catedral, estavam autoridades como a primeira-ministra recém-eleita Liz Truss e o prefeito de Londres, Sadiq Khan.

Antes de o serviço começar de fato, os presentes -e toda a nação- pararam para assistir ao primeiro pronunciamento do rei Charles 3º. No discurso, ele reafirmou o legado da mãe, procurou ressaltar a importância dos próprios herdeiros, os príncipes William e Harry, e prometeu servir ao Reino Unido com “lealdade, respeito e amor”, renovando compromissos de Elizabeth.

A bênção final, proferida pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, veio após cerca de uma hora de cerimônia. “Deus dá aos vivos graça. E aos que partiram, descanso.” A igreja então cantou o novo hino britânico, agora personalizado para o reinado de Charles 3º -a expressão “Deus salve o rei” substitui “Deus salve a rainha” e todos os pronomes femininos foram trocados por seus equivalentes masculinos.

“A maioria de nós não conheceu uma vida sem a rainha”, disse a bispa anglicana de Londres, a reverenda Sarah Mulally. A declaração, além de simbólica, é estatisticamente correta. De acordo com a rede britânica BBC, com base em dados das Nações Unidas, 94% da população mundial nasceu depois de Elizabeth 2ª ser coroada rainha.

“Quando ela subiu ao trono, o mundo e o país eram lugares muito diferentes. Por sete décadas, Sua Majestade permaneceu uma constante notável na vida de milhões: um símbolo de unidade, força, paciência e resiliência”, acrescentou Mulally, segundo o jornal The Guardian.

Mais cedo, outra multidão acompanhou a chegada de Charles 3º ao Palácio de Buckingham. As grades da sede da realeza britânica ficaram tomadas pelas flores depositadas em homenagem à mãe do novo rei, assim como por cartas e mensagens de luto e solidariedade.

“Viemos dar o nosso apoio à família real porque eles são importantes para nós. A rainha nos ensinou muito, com seu comportamento e ética. Nós a amamos”, disse à Folha a inglesa Marion Patrick, que se juntou a outros milhares de pessoas do lado de fora do palácio.

Todo o dia foi marcado por muitas homenagens. Sinos tocaram em diversas igrejas do país e uma salva de 96 tiros de canhões, um a cada dez segundos para cada ano de vida de Elizabeth 2ª, foi disparada em locais como o Hyde Park, em Londres, e os castelos de Cardiff, em Gales, e de Edimburgo, na Escócia.

No Parlamento, a pauta conturbada por sucessivas crises políticas dos últimos meses deu lugar a uma série de discursos elogiosos, como os de Truss, a nova chefe de governo, e de seus antecessores Boris Johnson e Theresa May.

Boris contou que não conseguiu segurar as lágrimas quando a BBC pediu que ele falasse sobre a rainha em um obituário pré-gravado. “Simplesmente não conseguir ir adiante. Não sou alguém que chore facilmente, mas fui tão dominado pela tristeza que tive que pedir que a equipe fosse embora”, afirmou.

Ele elogiou o “espírito indomável” de “Elizabeth, a Grande”.

Em seu último encontro com a chefe da monarquia, no qual entregou sua renúncia, o político ainda contou que ela estava “radiante, conhecedora da política e fascinada por ela, como sempre”. May chamou a rainha de “simplesmente a pessoa mais marcante que já conheci” e relatou que suas audiências com a chefe de Estado “não eram encontros com uma grande e poderosa soberana, mas conversas com uma mulher experiente e sábia”.

A nova primeira-ministra exaltou o rei, destacando seu “senso de dever, mesmo em meio ao luto”, e a nova era da monarquia.

O Reino Unido segue sendo palco de uma série de ritos marcando a despedida da rainha e a sucessão no trono britânico. Charles 3º será proclamado rei neste sábado (10) e, ainda sem data divulgada, o caixão com o corpo de Elizabeth deve deixar o Castelo de Balmoral, na Escócia, e passar por Edimburgo antes de chegar à Inglaterra.

O velório, durante o qual o público poderá prestar mais homenagens à rainha, deve ocorrer em Westminster Hall. A expectativa é de longas filas, o que demandará um esquema de segurança similar ao adotado pelo país para as Olimpíadas de Londres, em 2012, segundo a imprensa britânica.

O funeral, com todas as honras de Estado será na tradicional Abadia de Westminster. O corpo, na sequência, será levado em procissão pelo centro de Londres até o Castelo de Windsor, onde Elizabeth 2ª enfim será enterrada junto a outros nomes da família real britânica.

Charles -que, na prática, já é rei- ainda pode ter que esperar até o próximo ano para ser coroado. Sua mãe só vestiu o símbolo maior da realeza britânica 14 meses depois de ter assumido o trono deixado por George 6º.

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