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Agência que abrigou espião russo no Brasil já foi alvo de investigação nos EUA e na Alemanha

Ele estaria recrutando jovens americanos que viajavam à Rússia para supostos fins acadêmicos, mas que na volta atuariam como espiões

Redação Jornal de Brasília

09/04/2024 13h23

Foto: Reprodução

RENATO MACHADO E FABIO SERAPIÃO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A entidade cultural que abrigava o espião Serguei Chumilov no Brasil, assim como a agência à qual ela é ligada, já foram acusadas nos Estados Unidos e na Europa de usar sua estrutura e funcionários em ações de espionagem –tal como no caso de Chumilov, revelado pela Folha de S.Paulo.

Ainda em 2013, o FBI, a polícia federal americana, passou a investigar um diplomata russo que era o diretor em Washington de um programa de intercâmbio da Rossotrudnichestvo, agência federal que busca difundir a cultura russa e aumentar a “influência humanitária” do país em todo o mundo, segundo o site da entidade. Ele estaria recrutando jovens americanos que viajavam à Rússia para supostos fins acadêmicos, mas que na volta atuariam como espiões.

Os agentes iniciaram uma série de interrogatórios com americanos que teriam participado desses programas de estudo oferecidos pelo representante local da Rossotrudnichestvo, Iuri Zaitsev. A Rússia, à época, negou as acusações de espionagem.

A agência também deixou em alerta a União Europeia por sua suposta interferência em eleições de países membros do bloco, como a Holanda.

Em janeiro de 2023, uma investigação da agência de notícia Reuters indicou que ativistas pró-Moscou em Berlim seriam financiados pelos órgãos culturais e estudantis russos no país. Eles organizavam manifestações em algumas cidades alemãs.

Também foi mostrado que a Rossotrudnichestvo pagou a passagem de avião para um dos ativistas viajar para uma conferência em Moscou, cujo principal palestrante seria o presidente Vladimir Putin. Esse mesmo agente também teria viajado para áreas controladas pela Rússia em território ucraniano.

Procuradores alemães abriram uma investigação sobre a atuação da Rossotrucnichestvo no país.

A entidade já foi alvo de sanções da União Europeia por causa da Guerra da Ucrânia. Em 2022, após a invasão russa, o Conselho Europeu aprovou uma regulamentação na qual aumentou a lista de pessoas russas e entidades sancionadas -a primeira relação datava de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. O novo documento incluiu a Rossotrudnichestvo.

O documento classifica a agência como o principal instrumento de “soft power” e “influência híbrida” para promover o conceito de Russkiy Mir, que significa a unificação da população de língua russa em todo o mundo.

“Por muitos anos, ela tem atuado como uma organização ‘guarda-chuva’ que reúne uma rede de compatriotas russos e influenciadores, além de financiar vários projetos de diplomacia e propaganda, consolidando as atividades de agentes pró-Rússia e disseminando as narrativas do Kremlin, incluindo revisionismo histórico”, afirma o texto.

A regulamentação ainda acrescenta que a agência organiza eventos para consolidar a visão de que as áreas da Ucrânia ocupadas são territórios russos.

“Assim, a Rossotrudnichestvo é responsável por apoiar ou implementar ações ou políticas que minam ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia ou a estabilidade do país”.

Em 2016, o Parlamento Europeu já havia aprovado uma resolução na qual associava a agência federal com desinformação e guerra de propaganda. O texto criou uma estratégia de comunicação para a União Europeia reagir à propaganda contra o bloco executada por terceiros.

Procurada, a embaixada da Rússia em Brasília não respondeu aos questionamentos.

A Rossotrudnichestvo administra as Russky Dom (Casas Russas), entidades culturais que Moscou mantém em diversos países, para difundir a cultura e o idioma russos. São as equivalentes russas do British Council, do Reino Unido. Como a agência gerencia cursos de idioma, programas de cooperação e intercâmbios culturais, seus representantes costumam circular em universidades nos países onde atuam.

Governos ocidentais suspeitam que essa movimentação seja usada justamente para recrutar jovens espiões estrangeiros, como era o caso de Serguei Chumilov no Brasil. Após a Abin “queimar” o agente -descobrir a sua atuação clandestina-, houve uma articulação política, e a própria embaixada russa solicitou a retirada de sua acreditação diplomática ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil.

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