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Economia

Preços de grãos caem de seu máximo após 6 meses de guerra na Ucrânia

O mercado de grãos está encontrando “um ponto de equilíbrio” e o pior cenário, com “ondas de fome”, tal como temia a ONU, foi evitado

Redação Jornal de Brasília

24/08/2022 15h29

Foto: CNA/ Wenderson Araujo/Trilux

O preço dos cereais “quase” retornou ao “ponto de partida”, segundo especialistas, seis meses depois do início da invasão russa à Ucrânia, um conflito que multiplicou exponencialmente o custo desses produtos básicos, contribuindo para uma crise alimentar mundial.

O mercado de grãos está encontrando “um ponto de equilíbrio” e o pior cenário, com “ondas de fome”, tal como temia a ONU, foi evitado, mas os preços continuam muito elevados, enfatizam os analistas.

O preço do trigo disparou até quase 440 euros por tonelada no mercado europeu em meados de maio, o dobro em comparação com o ano anterior, enquanto o trânsito de mercadorias estava praticamente paralisado no Mar Negro. Mas, em agosto, o preço voltou a cair para a casa dos 330 euros.

“Seis meses depois da invasão russa, é quase um retorno ao ponto de partida. Os mercados aprenderam a viver com a crise. O relaxamento começou no fim de maio-início de junho com as primeiras estimativas de produção tranquilizadoras na Europa e a retomada das exportações da Ucrânia, primeiro por rodovias e ferrovias, depois por mar”, explica Gautier Le Molgat, analista da consultoria Agritel.

A Ucrânia vai “exportar quase quatro milhões de toneladas de produtos agrícolas em agosto”, aproximando-se dos cinco milhões mensais de antes da guerra, anunciou na terça-feira (23) um alto responsável do Departamento de Estado americano.

‘Um rublo forte’

A aceleração das exportações da Ucrânia, superpotência agrícola que, junto com a Rússia, era responsável por 30% do comércio mundial de trigo no fim de 2021, é fruto do acordo firmado em 22 de julho entre Kiev e Moscou, sob mediação de ONU e Turquia.

O acordo permitiu abrir um corredor marítimo para escoar mais de 20 milhões de toneladas de milho, trigo e girassol armazenadas na Ucrânia. Segundo o Centro de Coordenação Conjunto que supervisiona o corredor, já saíram do país 721.449 toneladas por via marítima.

Por ora, essa flexibilização beneficia mais a Ucrânia do que a Rússia, que prepara seu retorno aos mercados graças a uma safra excepcional de trigo, estimada em 88 milhões de toneladas.

As exportações russas de trigo para julho e agosto caíram 27% em estimativa anual, segundo a consultoria russa SovEcon.

O trigo russo ainda é muito caro e tem duros competidores, como o trigo francês, por vários motivos: os elevados gastos de transporte, um “rublo forte”, uma taxa russa de exportação em queda, mas ainda “muito alta” (em torno de 80 dólares a tonelada), o que faz com que “os agricultores fiquem reticentes a vender”, explica Andrey Sisov, diretor-geral da SovEcon.

As baixas exportações russas são um dos principais fatores que explicam os preços elevados, considera Sisov, em uma crise que tem sido menos sobre disponibilidade do que sobre preço e logística.

Problemas de abastecimento

Os preços continuam muito altos, porque as causas do aumento ainda estão presentes: a elevação dos custos de energia, fertilizantes e transporte.

A isso se soma a “espada de Dâmocles da inflação” que pesa sobre as economias mais frágeis, dependentes em mais de 50% das importações no caso dos cereais, enfatiza Edward de Saint-Denis, corretor da bolsa em Plantureux & Associés, citando os países do Chifre da África, Egito, Iêmen e Líbano.

No entanto, apesar de o trigo estar recuperando seu preço habitual, o mesmo não se pode dizer do milho: a seca onipresente preocupa.

A União Europeia estima que sua produção de milho caiu 16%, enquanto os Estados Unidos revisaram para baixo as safras de certas regiões, especialmente Nebraska e Dakota do Sul (-21,7%).

“Se não racionarmos a demanda, especialmente no caso do gado, vamos ter problemas de abastecimento”, afirma Michael Zuzolo, presidente da Global Commodity Analytics and Consulting.

E especialmente porque a China, que também está assolada pela seca, voltou a importar cereais.

© Agence France-Pressev

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