Em desempenho muito consistente ao longo de novembro, o Ibovespa fechou o mês com ganho de 12,54% no intervalo, o maior avanço do índice desde o salto de 15,90% em novembro de 2020, quando a B3 ainda refletia os avanços e recuos extremos do auge da pandemia de covid-19. Três anos depois, o índice da B3 registrou em novembro de 2023 apenas seis perdas – a pior delas, no dia 24, de 0,84% – em 20 sessões, uma retomada que alçou o Ibovespa aos maiores níveis desde julho de 2021.
No fechamento desta quinta-feira, aos 127.331,12 pontos, em alta de 0,92% na sessão, atingiu o maior nível de encerramento desde 15 de julho daquele ano (127.467,88). Hoje, oscilou dos 126 168,35, mínima da abertura, até os 127.398,69 pontos, na máxima da sessão, em alta de 0,98%. Na semana, o Ibovespa sobe 1,45% e, no ano, 16,04%. Reforçado, o giro desta quinta-feira foi a R$ 33,8 bilhões, como há muito tempo não se via em uma sessão sem vencimento de opções sobre o índice.
“O avanço do Ibovespa nesta última sessão do mês foi puxado por boas leituras sobre a taxa de desemprego, no Brasil, e de inflação, nos Estados Unidos, pelo PCE em outubro, que mostrou o melhor desempenho no acumulado em 12 meses desde março de 2021. O comportamento da inflação nos EUA ajuda o mercado a manter o cenário de manutenção dos juros de referência do Federal Reserve por mais três ou quatro reuniões até que se iniciem os cortes por lá, o que favorece o fluxo de ingresso de recursos para emergentes como o Brasil”, diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Por sua vez, no Brasil, a taxa de desemprego no trimestre até outubro de 2023 ficou em 7,6%, em queda de 0,7 pontos porcentuais ante o mesmo período do ano passado e de 0,1 ponto porcentual em comparação ao mês precedente, observa o economista Rafael Perez, da Suno Research. “O dado veio em linha com o esperado, e mostra um mercado de trabalho resiliente e aquecido”, acrescenta. A leitura de outubro foi a menor para a taxa de desemprego desde fevereiro de 2015, então a 7,5%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Do meio para o fim da tarde, declarações consideradas ‘dovish’ do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, tiveram efeito sobre a curva de juros doméstica, contribuindo para que o Ibovespa mostrasse ganhos próximos a 1%, no pico da sessão. Ele disse que a autoridade monetária está confortável com o ritmo de cortes de 50 pontos-base na taxa Selic, e que se chegou a um ponto do ciclo de afrouxamento em condições de observar a evolução do cenário.
Nesse contexto de recuperação do apetite por ativos de risco, movido por fatores internos e externos, o avanço de mais de 12% acumulado pelo Ibovespa em novembro sucedeu perda de 2,94% em outubro e leve alta de 0,71% em setembro, que havia se intercalado à queda de 5,09% em agosto. A retomada da trajetória positiva em novembro fica bem evidente quando comparada ao desempenho, no ano, acumulado até outubro (alta de 3,11%) e até agosto, quando registrou apenas cinco altas em 23 sessões (ganho de 5,47%) – os dois meses mais recentes de ajuste negativo.
Em outubro, com o dólar a R$ 5,04 no fechamento da última sessão do mês, o Ibovespa, na moeda americana, foi a 22.442,90 pontos, abaixo dos níveis registrados nos dois meses anteriores. Em outubro, o dólar teve variação contida em relação ao real, em alta de 0,29% no intervalo. Por sua vez, em novembro, a moeda americana acumulou perda de 2,50% frente ao real, encerrando o mês a R$ 4,9152.
Assim, em dólar, o Ibovespa encerrou novembro a 25.905,58 pontos, superando o ponto mais alto do ano, no fim de julho, então aos 25.783,48 pontos, e também o ponto mais forte, em junho de 2021 (25.496,99), do período de recuperação iniciado em março daquele ano, ainda no contexto da pandemia. No encerramento de maio de 2021, na então marca nominal recorde de 126.215,73 pontos, em dólar o Ibovespa estava em 24.156,58 pontos. E em novembro de 2020, quando o índice nominal avançou 15,90%, na moeda americana apontava 20.368,35 pontos.
Com isso, em dólar, o Ibovespa se reaproxima agora do nível em que se encontrava em janeiro de 2020, aos 26.548,55 pontos no fim daquele mês, quando a covid-19 ainda se insinuava como um fator de preocupação global, mas já contribuía para que o dólar atingisse então “nova máxima histórica”, a R$ 4,2850 – com Ibovespa a 113.760,57 naquele fechamento.
Entre os componentes da carteira Ibovespa, destaque nesta última sessão do mês para Cielo (+7,77%), Magazine Luiza (+7,45%) e Embraer (+5,44%), com Marfrig (-6,54%), Braskem (-6,45%) e Klabin (-3,67%) na ponta oposta nesta quinta-feira. Entre as ações de maior peso no índice, o desempenho foi majoritariamente positivo na sessão, com Petrobras em alta de 0,94% (ON) e de 1,93% (PN), e Vale ON, de 0,54%. Os ganhos foram bons também entre os grandes bancos na sessão, com BB (ON +2,92%) e Itaú (PN +1,54%) à frente.
Dólar
O dólar à vista subiu nesta sexta-feira, 30, no mercado doméstico de câmbio e fechou acima da linha de R$ 4,91, em dia marcado por fortalecimento global da moeda americana. Apesar de leitura benigna da inflação nos EUA em outubro, investidores apararam as apostas em torno do início do processo de queda de juros pelo Federal Reserve em 2024.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar chegou a superar o nível de R$ 4,94 pela manhã, algo que não acontecia desde o último dia 11, ao registrar máxima a R$ 4,9456. Segundo operadores, as cotações foram turbinadas na primeira etapa de negócios pela disputa em torno da formação da última taxa ptax de novembro. Houve também rolagem de contratos futuros e ajuste de posições de fundos típicos de fim de mês.
Após passar a tarde orbitando os R$ 4,92, a moeda reduziu o ritmo de alta na reta final, quando renovou mínima a R$ 4,9142. No fim da sessão, era cotada a R$ 4,9152, em alta de 0,56%. Apesar do avanço de 0,34% na semana, o dólar à vista encerra novembro com queda de 2,50%. Trata-se da maior desvalorização mensal desde junho deste ano (-5,59%). Entre pares latino-americanos do real, peso mexicano liderou os ganhos no mês, com alta de mais de 3,5% em relação à moeda americana. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY encerrou o mês com perdas ao redor de 3%.
“O dólar subiu hoje com ajustes e a disputa pela Ptax, além de uma correção dos exageros nas apostas para os juros nos EUA”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que vê ainda desconforto fiscal doméstico e alerta para possível impacto no fluxo de recursos em razão da taxação de fundos offshore. “Por enquanto, a taxa de câmbio deve continuar na faixa entre R$ 4,80 e R$ 5,00”.
Novembro foi marcado por uma inflexão nas apostas em torno da política monetária americana. Índices de inflação ao consumidor e ao produtor divulgados no início do mês, ao lado de indicadores de atividade abaixo do esperado, não apenas enterram as chances de alta adicional dos juros pelo BC americano neste ano como abriram espaço para apostas em afrouxamento monetário no primeiro semestre de 2024.
Pela manhã, o Departamento de Comércio dos EUA informou que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos ficou estável em outubro, quando se esperava alta de 0,1%. Na comparação anual, o índice subiu 3%, também aquém das expectativas (3,1%). Já o núcleo do PCE – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – avançou 0,2% e outubro e 3,5% na comparação anual, em linha com as projeções.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Oliveira, observa que a leitura anual do índice cheio do PCE, de 3%, é a menor desde março de 2021. “A desinflação continua. Comunicação recente do Federal Reserve evidencia que os membros do Comitê de Política Monetária (Fomc) estão se sentindo mais confiantes de que a inflação entrou definitivamente em trajetória de queda”, afirma, em nota, Olivares.
Apesar do PCE benigno, investidores refrearam as apostas mais ousadas para o início do processo de redução de juros nos EUA. Monitoramento de plataforma do CME Group mostra que o mercado voltou a apontar a reunião do Fed em maio como a data mais provável de redução dos juros. Ontem, a expectativa era de corte inicial em março. Após quedas seguidas, as taxas dos Treasuries subiram hoje, com o retorno da T-note de 10 anos voltando a superar 4,30%. No fim de outubro, a taxa chegou a se aproximar dos 5%.
Juros
Declarações consideradas “dovish” do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, retiraram pressão dos juros futuros durante a tarde, juntamente com a virada do petróleo para baixo. O movimento inicial de realização de lucros na curva, amparado no avanço dos retornos dos Treasuries, foi neutralizado e as taxas curtas e intermediárias encerraram em baixa e as longas, estáveis. Todas elas terminaram novembro em níveis bem abaixo do fechamento de outubro, refletindo, de modo geral, a descompressão das curvas nos EUA e fatores internos, como a manutenção da meta fiscal e melhora do cenário inflacionário.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de 10,414% para 10,320%, e a do DI para janeiro de 2026, de 10,03% para 9,98%, voltando a encerrar abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde o fim de agosto. O DI para janeiro de 2027 terminou em 10,09%, estável, e a do DI para janeiro de 2029 passou de 10,50% para 10,53%.
As taxas estiveram em alta na primeira parte dos negócios, acompanhando trajetória dos yields americanos, que subiram mesmo com o índice de preços dos gastos com consumo (PCE, em inglês) levemente abaixo do esperado em outubro, tanto na leitura cheia, como no núcleo. “O principal dado da agenda hoje não justificou o comportamento da curva americana, então foi uma correção. Independentemente do PCE, o mercado ia mesmo fazer ajustes”, disse a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.
Na sua avaliação, as apostas de que o ciclo de corte de juros nos EUA começariam em março estavam exageradas pois os dados de atividade ainda estão fortes, como indicou hoje o PMI medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) de Chicago, que subiu de 44,0 em outubro para 55,8 em novembro. Com os ajustes, o mercado voltou a enxergar maior probabilidade de alívio monetário em maio.
À tarde, o avanço das taxas locais começou a perder força, inicialmente com a inversão da alta do petróleo, apesar da série de anúncios de corte na produção de vários países que, juntos, totalizam 2,2 milhões por dia. “O mercado já vinha trabalhando ontem com esse número, então não foi uma novidade. Além disso, a sensação é que a demanda pela commodity realmente está baixa”, disse um economista. O barril do tipo Brent para fevereiro caiu 2,43%, voltando aos US$ 80.
O recuo nas cotações da commodity reforça a percepção de que o governo poderá anunciar um ajuste em baixa nos preços da gasolina ainda este ano, o que pode acelerar o processo de desinflação em curso, considerado lento.
Na esteira do petróleo, as falas de Galípolo passaram a ditar a dinâmica das taxas, definindo um “bull steepening” na curva. “Aí é total precificação de política monetária”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
Em evento do JPMorgan, o diretor citou que o BC tem tentado “não se emocionar muito” com dados, especialmente os de alta frequência e que, ao dar um ‘forward guidance’ na condução da política monetária, mencionando a preferência por manter o ritmo de queda de 0,50 ponto porcentual para a Selic “nas próximas reuniões” – no plural -, acabou levando a discussão no mercado mais para o orçamento total dos cortes do que para o ritmo de baixa.
Mas relatou que tem sentido no mercado, em conversas recentes, um sentimento de que haveria espaço para acelerar. Comentou ainda que o BC observa os dados para balizar as decisões, mas se mudarem, as suas próprias opiniões sobre a condução da política monetária também podem mudar. Vale destacar que o diretor é tido como o sucessor de Roberto Campos Neto no comando do BC, cujo mandato termina no fim de 2024.
“Embora o Copom esteja sinalizando que vai seguir com 0,50 ponto, as falas sugerem uma discussão incipiente para acelerar o ritmo. Se não for um ritmo mais acelerado, vai ser mais longo, pelo menos”, diz Borsoi.
Outro comentário dele visto como “dovish” foi de que a política fiscal foi retirada do balanço de riscos do Copom, uma vez que o novo arcabouço foi aprovado no Senado, mas que o BC segue atento ao tema.
A curva a termo já mostra apostas marginais na ampliação do ritmo nas reuniões de dezembro e janeiro, com -52 pontos cada uma delas. Para o fim de 2024, a projeção é de Selic em 9,50%, ante 9,75% nos últimos dias. Os cálculos são do banco Bmg.
No balanço do mês, as taxas longas cederam em torno de 100 pontos e as curtas, cerca de 80 pontos. A desinclinação expressiva tem elementos internos e externos. “Os dados de inflação global vieram mais baixos, consolidando a ideia de fim de aperto de juros e gerando alívio gigantesco nas curvas de longo prazo. E aqui ainda tivemos a decisão do governo por não mexer na meta fiscal e o Congresso aprovando a taxação do fundos de alta renda”, explicou Veronese, acrescentando ainda leitura mais benigna do quadro inflacionário. Nos Treasuries, a taxa da T-Note de dez anos devolveu no mês 55 pontos-base
Estadão Conteúdo