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Economia

EUA e China ainda preocupam, e Ibovespa cai 0,60%, aos 128,5 mil pontos

Agora, o mercado se divide em relação às apostas quanto ao momento em que começará o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos

Redação Jornal de Brasília

17/01/2024 19h20

Foto: Arquivo/Agência Brasil

A reprecificação da chance de corte de juros nos Estados Unidos ainda no primeiro trimestre, que tem afetado o apetite por risco em todo o mundo neste começo de ano, continuou a cobrar tributo da B3 nesta quarta-feira, 17. Hoje, o Ibovespa fechou em baixa de 0,60%, após o mergulho de 1,69% no dia anterior, que havia sido a maior perda para o índice desde 21 de setembro.

Assim, neste meio de semana, o Ibovespa desce mais um degrau, aos 128.523,83 pontos, distanciando-se aos poucos da máxima histórica de 134,1 mil pontos, do fim do ano passado. No piso da sessão, aos 128.311,94 pontos, manteve-se hoje no menor nível desde 13 de dezembro, dia anterior ao início da série de renovações de recordes, no intradia como no fechamento, que se estenderia com poucas interrupções até o fim de 2023. E, como ontem, praticamente operou só em baixa, com a máxima (129 296,43) quase correspondendo à abertura (129.293,35) desta quarta-feira.

O giro financeiro, em dia de vencimento de opções sobre o índice, subiu para R$ 43,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa recua 1,88% e, no mês, cede 4,22%.

Agora, o mercado se divide em relação às apostas quanto ao momento em que começará o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos: a chance de o Federal Reserve (o BC dos EUA) iniciar o corte na taxa de juros de referência já em março – alternativa que havia se fortalecido em dezembro passado, energizando então os mercados globais – recuou ainda mais, conforme a CME, que monitora a curva futura.

No meio da tarde, a plataforma indicava 53,2% de probabilidade de o Fed cortar a taxa básica em março, comparada a 66,9%, ontem A possibilidade de ocorrer manutenção passou para 46,8%, hoje. Antes da divulgação, em 3 de janeiro, da ata da mais recente reunião de política monetária do BC americano, realizada em dezembro, a curva futura chegou a embutir cerca de 80% de chance de que um corte de juros viria em março.

Desde então, a ata, bem como uma nova fornada de dados dos EUA – incluindo a inflação de dezembro (acima do esperado) – e novas declarações de autoridades do Fed, fizeram o otimismo refluir, com realinhamento de rendimentos dos Treasuries – que voltam a se firmar acima do limiar de 4% nos vencimentos de 2 anos (hoje, a 4,37% na máxima do dia), de 10 anos (4,13%) e de 30 anos (4,34%).

Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, destaca nesta quarta-feira a leitura acima do esperado para as vendas do varejo nos Estados Unidos, em alta de 0,6% em dezembro, na margem, frente expectativa de consenso a 0,4% para o mês. Além de dados econômicos resilientes nos Estados Unidos, que afetam diretamente a perspectiva para os juros americanos, a insegurança que tem afetado o tráfego de embarcações de carga pelo Mar Vermelho – muito importante para o comércio global por proporcionar o encurtamento de rotas, especialmente entre Europa e Ásia, pelo canal de Suez – é outro fator de incerteza com implicações diretas para a economia.

“A tensão quanto a conflitos no Mar Vermelho pode impactar a inflação e os juros globais, o que já tem feito preço nos últimos dias, contribuindo para as quedas nas bolsas”, acrescenta Cardozo.

Além dos desdobramentos em torno dos Estados Unidos e do Oriente Médio, os investidores na B3, pela forte exposição da Bolsa a commodities, seguem tomando o pulso da economia chinesa. Embora tenha crescido 5,2% em 2023 – acima da meta oficial, de 5% -, a China mostrou enfraquecimento na ponta, no quarto trimestre. Em dezembro, conforme dados divulgados no fim da noite de ontem, chamaram atenção os dados de varejo, com vendas abaixo do previsto, na base ano a ano.

“Parte dos dados da China decepcionou de certa forma os analistas, principalmente quando se olha para o mercado imobiliário do país, em sua maior retração em nove anos”, diz Erik Sala, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos. Ele acrescenta que a falta de estímulos significativos, que induzam retomada de ritmo na economia chinesa, tem trazido inquietação, com efeito direto na precificação de ativos correlacionados à demanda do país asiático, como os do setor metálico.

Assim, com o prosseguimento na correção dos preços do minério de ferro na China, Vale ON, a ação de maior peso individual no Ibovespa, caiu hoje 1,66%, em piora ao longo da tarde que contribuiu para que o índice da B3 seguisse colado às mínimas na etapa vespertina – no pior momento, Vale cedia mais de 2% na sessão. Entre as siderúrgicas, destaque nesta quarta-feira para a queda de 2,91% em CSN ON.

Petrobras ON e PN também pesaram hoje, embora tenham suavizado perdas em direção ao fechamento, com a ON ainda em baixa de 0,83% e a PN, de 0,58%. Os grandes bancos, por sua vez, chegaram a perder força à tarde, mas se recuperaram no encerramento, com Santander (Unit +1,04%) à frente na sessão.

Na ponta vencedora do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para SLC Agrícola (+3,87%) – único papel a ter subido ontem entre os 87 da carteira teórica do índice -, à frente hoje de Natura (+2,63%), MRV (+1,80%) e Locaweb (+1,66%). No lado oposto, 3R Petroleum (-3,97%), Pão de Açúcar (-3,78%) e Vamos (-3,55%).

Dólar

O dólar à vista emendou nesta quarta-feira, 17, a terceira sessão seguida de alta no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de fortalecimento da moda americana no exterior e o avanço das taxas dos Treasuries. Dados fortes do varejo nos EUA divulgados pela manhã reforçaram a percepção de que há menos espaço para início de corte de juros pelo Federal Reserve ainda em março.

Ao rearranjo das apostas em torno da política monetária nos EUA somam-se temores de aumento das tensões geopolíticas e a preocupação com o fôlego da economia chinesa. Embora o crescimento da China em 2023, de 5,2%, tenha superado a meta oficial estabelecida pelo governo (5%), houve sinais de deterioração da atividade no quarto trimestre – o que se reflete nos preços das commodities, como minério de ferro.

Pela manhã, o dólar chegou a ultrapassar o teto de R$ 4,95 e registrou máxima a R$ 4,9547. A febre compradora já havia amainado no início da tarde, levando o dólar até a operar, de forma bem restrita e pontual, em terreno negativo, com mínima a R$ 4,9237. No fim da sessão, o dólar avançava 0,09%, cotado a R$ 4,9301 – maior valor de fechamento desde 15 de dezembro. A divisa já acumula valorização de 1,49% na semana.

A desaceleração da alta da moeda ao longo da tarde foi atribuída por operadores a ajustes técnicos e a movimentos de realização de lucros, dado que o dólar já havia subido 1,22% ontem e ultrapassado pela manhã os R$ 4,95 – nível técnico que costuma atrair vendedores.

“Quando o dólar chega próximo de 4,95 e R$ 4,96, há uma força vendedora bastante grande, com desmonte de posições e realização de lucros. Vejo a taxa de câmbio trabalhando em intervalo entre R$ 4,80 e R$ 5,00”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem, além das perspectivas para os juros nos EUA, o aumento das tensões geopolítica também contribui pela busca global à moeda americana. Ele cita os ataques recentes de rebeles Houthis, do Iêmen, a embarcações americanas na região do Mar Vermelho, e a reação negativa de autoridades chinesas a cumprimentos de países como os EUA ao novo presidente de Taiwan. “Aqui, no Brasil, ainda temos esse atrito entre o Congresso e o Governo na questão das desonerações, o que também prejudica o apetite pelo real.”

Referência do comportamento do dólar em relação a seis divisa fortes, o índice DXY operava em leve alta quando o mercado local fechou, aos 103,454 pontos, após 103,692 pontos na máxima. O dólar subia em bloco na comparação com divisas emergentes e de países produtores de commodities mais relevantes, à exceção do peso chileno.

O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, vê uma contenção do otimismo excessivo do mercado em relação ao início do afrouxamento monetário nos Estados Unidos como principal responsável pela alta recente do dólar para o nível de R$ 4,90. Segundo Maciel, pelo menos 70% da valorização do real entre dezembro de 2023 e o início deste ano está relacionada a queda dos juros futuros americanos, refletindo apostas crescentes de corte de juros pelo Fed em março deste ano.

Ele observa que o discurso ontem do diretor do BC americano Christopher Waller, que tem direito a voto nas reuniões de comitê de política monetária, alertando para o nível elevado do núcleo da inflação ao consumidor e dos preços de serviços levaram a uma alta dos Treasuries, em especial a da taxa de 2 anos. “Essa foi a tônica do recado de Waller, que levou o juro de 2 anos de quase 4,10% há uma semana para 4,33% atualmente, desvalorizando o real”, diz Maciel, que estima valor justo para a taxa de câmbio no curto prazo em R$ 4,95, dado o fluxo cambial negativo neste início de ano.

Juros

Os juros futuros fecharam próximos dos ajustes, mas com viés de baixa ao longo de toda a curva. Sem fundamentos expressivos, o dia foi marcado por ajustes técnicos após a forte alta de ontem, de até 20 pontos. As taxas aqui ficaram mais descoladas dos Estados Unidos, onde os rendimentos dos Treasuries subiram em bloco, até 14 pontos no caso do papel de dois anos.

Os contratos de depósito interfinanceiro (DI) passaram a manhã em alta, acompanhando as taxas americanas, enquanto o mercado ajustava apostas no início do ciclo de cortes de juros do país. À tarde, viraram para o negativo, em um movimento atribuído por profissionais do mercado a um ajuste de posições e à moderação na alta do dólar ante o real.

No fim do dia, o DI mais negociado da sessão, para janeiro de 2025, tinha taxa de 10,105%, contra 10,125% no ajuste anterior. Os juros dos outros DIs mais líquidos também cederam ante os ajustes: janeiro de 2026 (9,792% para 9,760%), janeiro de 2027 (9,948% para 9,930%) e janeiro de 2029 (10,352% para 10,345%).

Segundo o gerente de renda fixa e distribuição de fundos da Nova Futura Investimentos, André Alírio, o forte aumento das taxas, ontem, criou um cenário convidativo a ajuste técnico nos DIs, hoje, o que explica o descolamento entre os juros brasileiros e os americanos nesta sessão. “Estava na cara que o movimento de ontem foi forte demais e hoje, à medida que o mercado vai aumentando o volume, vai fechando um pouco esse gap”, afirma.

O economista da Pezco Helcio Takeda lembra que a queda dos juros futuros brasileiros foi menor do que a dos Treasuries no fim do ano passado, devido à limitação imposta pela incerteza fiscal doméstica. Agora, ele diz, a reprecificação das taxas americanas tem sido mais intensa, já que a curva doméstica tem mais gordura para queimar e os dados do Brasil sugerem um cenário menos pessimista.

“Ontem tivemos dados de serviços e, hoje, do varejo, mostrando que novembro aparentemente foi um mês bom para a atividade econômica. Combinado à surpresa com a inflação de dezembro, talvez isso mostre que estamos próximos de um ponto mínimo de atividade e, se isso for verdade, coloca uma limitação para uma desinflação adicional”, afirma.

Para o gestor de multimercados e renda fixa da Mag Investimentos, Ricardo Jorge, o fato de que dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) evitaram tratar da política monetária ajudou a limitar o movimento dos DIs. Ontem, a curva dos Estados Unidos e a brasileira abriram após declarações de um diretor da autoridade.

Estadão Conteúdo

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