Menu
Economia

Dólar acelera à tarde e volta a superar R$ 5,00 com fala de Lula sobre meta fiscal

Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,36%. Levando em conta que a divisa chegou a superar R$ 5,05 na semana passada

Redação Jornal de Brasília

27/10/2023 18h24

O risco fiscal voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico na tarde desta sexta-feira, 27, e levou o dólar à vista a ultrapassar novamente a marca de R$ 5,00 Falas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, admitindo a possibilidade de déficit primário em 2024, na contramão do previsto pelo arcabouço fiscal e defendido reiteradamente pela equipe econômica, levaram a uma deterioração dos ativos domésticos.

Em queda firme pela manhã e no início da tarde, em sintonia com as perdas da moeda americana na comparação a divisas emergentes, o dólar ganhou força rapidamente e não apenas trocou se sinal como correu até a máxima a R$ 5,0191 na segunda etapa de negócios. Pela manhã, a divisa havia registrado mínima a R$ 4,9317 e, por volta das 14 horas, rondava os R$ 4,97.

É verdade que houve uma deterioração do apetite ao risco no exterior à tarde, com piora das Bolsas em Nova York e avanço do petróleo, mas o dólar seguiu com sinal predominante de queda no exterior, em especial em relação aos pares latino-americanos do real e o rand sul-africano. Apesar do agravamento das tensões no Oriente Médio, o mercado de moedas ainda ecoava a perspectiva de que o Fed mantenha a taxa de juros inalterada na semana que vem, após dados mistos de inflação e renda pessoal nos EUA divulgados pela manhã.

Por aqui, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,0131. Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,36%. Levando em conta que a divisa chegou a superar R$ 5,05 na semana passada, o valor de fechamento desta sexta significa uma mudança relevante do nível da taxa de câmbio. Operadores observam, contudo, que a arrancada da moeda à tarde foi súbita e expressiva.

“Vi um grade volume de importadores à tarde aproveitando a baixa da moeda mais cedo. Mas foram as declarações de Lula que acabaram tirando o ânimo do mercado, que tinha comemorado pela manhã a divulgação do superávit das contas públicas em setembro. Lula desautorizou Haddad”, afirma o analista Elson Gusmão, da corretora Ourominas, em referência ao superávit primário de R$ 11,548 bilhões do Governo Central no mês passado.

Em encontro com jornalistas, Lula disse que, embora saiba “das vontades de Haddad”, dificilmente o governo chegará “à meta de zero”. Lula indagou: “Se o Brasil tiver o déficit de 0,5% ou 0,25%, o que é?”. E respondeu: “Nada”. 

O presidente ainda disse que “muitas vezes o mercado é ganancioso demais” ao cobrar cumprimento de metas. “Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse País”, disse.

Analistas já viam o objetivo de zerar o déficit primário em relação ao PIB em 2024 com cerca descrença, mas ressaltavam que os esforços do ministro da Fazenda para tapar o rombo, apesar do chamado “fogo amigo” da ala política do governo, davam credibilidade ao arcabouço fiscal. Diversos economistas ouvidos por repórteres do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) ao longo da tarde viram a fala de Lula com um sinal de enfraquecimento de Haddad e disposição para ampliar os gastos.

Para sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, as declarações do presidente equivalem a “dizer que a regra fiscal não vale nada” e revelam “um tremendo desprestígio ao trabalho” do ministro da Fazenda, que busca, ao lado do Congresso, ampliar as receitas e defende “a meta zero como um mecanismo de convergência entre as políticas monetária e fiscal”. 

Pela manhã, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, havia negado que o governo cogitasse mudar a meta fiscal. “A análise mais macro de 2024 está em curso, mas nada muda na busca por déficit zero”, disse. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, Danilo Forte (União Brasil-CE), engrossou o coro dos economistas e disse que as falas de Lula sobre a meta fiscal causam constrangimento ao ministro da Fazenda.

Bolsa

A fala desconfiada do presidente Lula sobre a meta de déficit zero para as contas públicas em 2024 sobressaltou o mercado à tarde, invertendo o sinal do dólar e dos DIs futuros na sessão, carregando consigo o Ibovespa que, até então, operava entre leves avanços e recuos nesta sexta-feira. Ao fim, o índice da B3 mostrava queda de 1,29%, aos 113.301,35 pontos, renovando mínimas do meio para o fim da tarde, o que limitou a alta da semana a 0,13%, após perda de 2,25% acumulada na anterior.

No piso da sessão, o Ibovespa cedeu nesta sexta 1,59%, aos 112 953,38 pontos. No mês, o índice da B3 cai 2,80%, limitando o avanço do ano a 3,25%. O giro financeiro desta sexta-feira foi a R$ 23,0 bilhões. A queda do Ibovespa sucedeu alta de 1,73% na sessão anterior, que o havia devolvido aos 114,7 mil pontos.

O sinal de Lula vem na semana em que precisou trocar o comando da Caixa Econômica Federal para abrir mais espaço ao Centrão na base de apoio ao governo – em paralelo, a agenda econômica deu passos à frente na semana, na Câmara como no Senado.

As palavras de Lula nesta sexta-feira foram vistas pelo mercado, majoritariamente, como um sinal contrário aos esforços empreendidos pela equipe comandada pelo ministro da Fazenda.

“As palavras do presidente deveriam ser na mesma direção, em apoio ao que o ministro Haddad tem buscado fazer. Haddad tem ajudado inclusive na interlocução com o Congresso. Nesta semana, houve avanços na pauta econômica, na Câmara e no Senado. E o que transparece, na fala do presidente, é a linha conhecida do PT, que se sabe de que forma trabalha com relação a gastos públicos”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

“A fala de hoje não é novidade para ninguém, apenas reforça o discurso de preservação dos investimentos públicos, em linha com as diretrizes do atual governo”, contrapõe o economista-chefe da Warren Rena e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, em nota.

Mikail observa que o ruído doméstico emerge em momento de forte volatilidade nos juros longos dos Estados Unidos, especialmente no vencimento de 10 anos, prazo no qual, nesta semana, as taxas tocaram a marca de 5% – o que espelha não apenas as dúvidas quanto ao espaço adicional para ajuste restritivo da política monetária nos EUA, como também algum incômodo do mercado com relação ao viés, ainda expansionista, da política fiscal por lá

“Além do que reflete a incerteza sobre até onde irá a alta de juros nos Estados Unidos, parte das empresas americanas, como visto nesta semana em números da Alphabet, do Morgan Stanley e do Goldman Sachs, apresentaram resultados trimestrais mais fracos, o que contribuiu também para que o S&P 500 perdesse o nível de 4,2 mil pontos. Há percepção de que uma demanda mais fraca dos consumidores, nesse ambiente de juros altos, esteja começando a bater nas empresas”, acrescenta o gestor, observando também que os juros das hipotecas estão em níveis não vistos desde 2000.

Outro fator de dúvida que tem se imposto desde o ataque do Hamas a Israel no último dia 7 é o efeito que o conflito, ainda sem desfecho previsível, trará aos preços do petróleo, uma das correntes de transmissão mais potentes quando se trata de inflação global.

A principal incerteza ainda diz respeito a eventual envolvimento mais próximo do Irã junto aos seus aliados Hamas, em Gaza, e Hezbollah, no sul do Líbano, não apenas pelo papel do país persa na produção e exportação da commodity, como também pelo controle estratégico do Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% a 30% da oferta global de petróleo. A parte mais estreita da passagem marítima fica inteiramente em águas territoriais do Irã ou de Omã – o correspondente a 12 milhas náuticas em relação ao litoral de um país ou de outro, pelo direito internacional. 

Nesse contexto, em que o escrutínio dos resultados corporativos se combina ao acompanhamento de cenário macro volátil, especialmente no exterior, as ações de Petrobras (ON -0,72%, PN -0,73%) voltaram a se descolar nesta sexta do sinal do petróleo, em alta na casa de 2% para o Brent e o WTI na sessão, em semana na qual o mercado ponderou mudanças propostas ao Estatuto da empresa, consideradas com desconfiança pelo efeito que podem trazer à governança da estatal. Assim, na semana, Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 5,71% e 6,37% – acima de perdas na casa de 2% a 3% para o petróleo no mesmo intervalo.

Mirando a perspectiva para a mineradora no quarto trimestre, em meio a alguns sinais mais favoráveis sobre a demanda asiática, a ação da Vale fechou nesta sexta em alta de 3,48%, no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre. O papel da mineradora foi um dos sete da carteira de 86 ações do Ibovespa que conseguiram fechar o dia em alta, ao lado de Usiminas (+4,18%) e Bradespar (+2,24%). Na ponta perdedora do índice de referência da B3, destaque nesta sexta-feira para Hypera (-8,25%), Soma (-6,89%) e Gol (-5,59%). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão ficaram entre 1,03% (Bradesco PN) e 2,54% (Banco do Brasil ON).

Com tudo em conta, o mercado financeiro está mais otimista sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 57,14% acreditam que a semana será de ganhos para o Ibovespa; 28,57% esperam estabilidade; e 14,29%, queda. Na pesquisa anterior, estes porcentuais eram, respectivamente, de 42,86%, 14,29% e 42,86%.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam em alta nesta sexta-feira, pressionados por declarações do presidente Lula e uma piora na percepção de risco sobre a guerra Israel e Hamas. O chefe do Executivo mostrou pouca disposição para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, definida no texto do arcabouço fiscal, relativizando ainda o impacto negativo de um déficit entre 0,50% e 0,25% do PIB. 

Lá fora, o temor de uma escalada no conflito em Gaza pressionou os preços do petróleo e enfraqueceu as bolsas, numa aparente busca por segurança nos Treasuries. Mesmo com a alta desta sexta, as taxas ainda conseguiram acumular queda na semana, com desinclinação para a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,990%, de 10,791% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,57% para 10,81%. A do DI para janeiro de 2027, que nas máximas voltou a rodar na casa de 11%, era de 10,97% no fechamento (10,72% na quinta-feira) e a do DI para janeiro de 2029 avançou a 11,37%, de 11,17%. Na semana, as taxas curtas caíam perto de 10 pontos, as intermediárias e as longas, cerca de 25 pontos.

A fala de Lula caiu como uma bomba nos mercados. Ainda que as projeções dos analistas, inclusive no Boletim Focus, não apontem para o cumprimento da meta, a avaliação dos agentes é de que uma vez isso dito pelo presidente tem um peso muito maior e negativo para a imagem e credibilidade do País. “Lula não falou nada de novo, mas quando se abandona o objetivo muito cedo, os agentes ficam desconfiados, numa semana que vinha sendo muito positiva para as aspirações da Fazenda”, afirmou Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, referindo-se sobretudo à aprovação do projeto de lei da taxação dos fundos de alta renda na Câmara.

Para Leal, desde que as declarações não sejam oficializadas ou endossadas por mais gente dentro do governo, a tendência é de que os mercados “voltem um pouco” após a reação inicial fortemente negativa. “Lula tem disso. Faz um ‘bate e assopra’, eventualmente reconsidera e vai testando. Acredito que tanto um sell-off ou um rali nos próximos dias devem partir mesmo de eventos no exterior”, disse.

O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, lembra ainda que pela manhã o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, havia sinalizado possibilidade de cumprimento da meta. “Horas depois, vem o presidente e fala o contrário”, observou.

Ceron disse que o cenário era desafiador para 2024 e, questionado sobre se o alerta significaria que o governo já cogita alterar a meta, negou qualquer sinalização nesse sentido. “Continuaremos buscamos o déficit zero em 2024, mas podemos ter fatores extraordinários. A análise mais macro de 2024 está em curso, mas nada muda na busca por déficit zero”, disse.

Ceron fez os comentários em entrevista sobre o números do Governo Central em setembro, que surpreenderam positivamente, o que ajudava a aliviar a ponta longa pela manhã. Após quatro meses no vermelho, as contas voltaram a registrar superávit primário, de R$ 11,548 bilhões. O resultado ficou acima da mediana das expectativas, de saldo positivo de R$ 10,505 bilhões, de acordo com levantamento do Projeções Broadcast.

.

É verdade que houve uma deterioração do apetite ao risco no exterior à tarde, com piora das Bolsas em Nova York e avanço do petróleo, mas o dólar seguiu com sinal predominante de queda no exterior, em especial em relação aos pares latino-americanos do real e o rand sul-africano. Apesar do agravamento das tensões no Oriente Médio, o mercado de moedas ainda ecoava a perspectiva de que o Fed mantenha a taxa de juros inalterada na semana que vem, após dados mistos de inflação e renda pessoal nos EUA divulgados pela manhã.

Por aqui, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,0131. Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,36%. Levando em conta que a divisa chegou a superar R$ 5,05 na semana passada, o valor de fechamento desta sexta significa uma mudança relevante do nível da taxa de câmbio. Operadores observam, contudo, que a arrancada da moeda à tarde foi súbita e expressiva.

“Vi um grade volume de importadores à tarde aproveitando a baixa da moeda mais cedo. Mas foram as declarações de Lula que acabaram tirando o ânimo do mercado, que tinha comemorado pela manhã a divulgação do superávit das contas públicas em setembro. Lula desautorizou Haddad”, afirma o analista Elson Gusmão, da corretora Ourominas, em referência ao superávit primário de R$ 11,548 bilhões do Governo Central no mês passado.

Em encontro com jornalistas, Lula disse que, embora saiba “das vontades de Haddad”, dificilmente o governo chegará “à meta de zero”. Lula indagou: “Se o Brasil tiver o déficit de 0,5% ou 0,25%, o que é?”. E respondeu: “Nada”. 

O presidente ainda disse que “muitas vezes o mercado é ganancioso demais” ao cobrar cumprimento de metas. “Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse País”, disse.

Analistas já viam o objetivo de zerar o déficit primário em relação ao PIB em 2024 com cerca descrença, mas ressaltavam que os esforços do ministro da Fazenda para tapar o rombo, apesar do chamado “fogo amigo” da ala política do governo, davam credibilidade ao arcabouço fiscal. Diversos economistas ouvidos por repórteres do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) ao longo da tarde viram a fala de Lula com um sinal de enfraquecimento de Haddad e disposição para ampliar os gastos.

Para sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, as declarações do presidente equivalem a “dizer que a regra fiscal não vale nada” e revelam “um tremendo desprestígio ao trabalho” do ministro da Fazenda, que busca, ao lado do Congresso, ampliar as receitas e defende “a meta zero como um mecanismo de convergência entre as políticas monetária e fiscal”. 

Pela manhã, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, havia negado que o governo cogitasse mudar a meta fiscal. “A análise mais macro de 2024 está em curso, mas nada muda na busca por déficit zero”, disse. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, Danilo Forte (União Brasil-CE), engrossou o coro dos economistas e disse que as falas de Lula sobre a meta fiscal causam constrangimento ao ministro da Fazenda.

Bolsa

A fala desconfiada do presidente Lula sobre a meta de déficit zero para as contas públicas em 2024 sobressaltou o mercado à tarde, invertendo o sinal do dólar e dos DIs futuros na sessão, carregando consigo o Ibovespa que, até então, operava entre leves avanços e recuos nesta sexta-feira. Ao fim, o índice da B3 mostrava queda de 1,29%, aos 113.301,35 pontos, renovando mínimas do meio para o fim da tarde, o que limitou a alta da semana a 0,13%, após perda de 2,25% acumulada na anterior.

No piso da sessão, o Ibovespa cedeu nesta sexta 1,59%, aos 112 953,38 pontos. No mês, o índice da B3 cai 2,80%, limitando o avanço do ano a 3,25%. O giro financeiro desta sexta-feira foi a R$ 23,0 bilhões. A queda do Ibovespa sucedeu alta de 1,73% na sessão anterior, que o havia devolvido aos 114,7 mil pontos.

O sinal de Lula vem na semana em que precisou trocar o comando da Caixa Econômica Federal para abrir mais espaço ao Centrão na base de apoio ao governo – em paralelo, a agenda econômica deu passos à frente na semana, na Câmara como no Senado.

As palavras de Lula nesta sexta-feira foram vistas pelo mercado, majoritariamente, como um sinal contrário aos esforços empreendidos pela equipe comandada pelo ministro da Fazenda.

“As palavras do presidente deveriam ser na mesma direção, em apoio ao que o ministro Haddad tem buscado fazer. Haddad tem ajudado inclusive na interlocução com o Congresso. Nesta semana, houve avanços na pauta econômica, na Câmara e no Senado. E o que transparece, na fala do presidente, é a linha conhecida do PT, que se sabe de que forma trabalha com relação a gastos públicos”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

“A fala de hoje não é novidade para ninguém, apenas reforça o discurso de preservação dos investimentos públicos, em linha com as diretrizes do atual governo”, contrapõe o economista-chefe da Warren Rena e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, em nota.

Mikail observa que o ruído doméstico emerge em momento de forte volatilidade nos juros longos dos Estados Unidos, especialmente no vencimento de 10 anos, prazo no qual, nesta semana, as taxas tocaram a marca de 5% – o que espelha não apenas as dúvidas quanto ao espaço adicional para ajuste restritivo da política monetária nos EUA, como também algum incômodo do mercado com relação ao viés, ainda expansionista, da política fiscal por lá

“Além do que reflete a incerteza sobre até onde irá a alta de juros nos Estados Unidos, parte das empresas americanas, como visto nesta semana em números da Alphabet, do Morgan Stanley e do Goldman Sachs, apresentaram resultados trimestrais mais fracos, o que contribuiu também para que o S&P 500 perdesse o nível de 4,2 mil pontos. Há percepção de que uma demanda mais fraca dos consumidores, nesse ambiente de juros altos, esteja começando a bater nas empresas”, acrescenta o gestor, observando também que os juros das hipotecas estão em níveis não vistos desde 2000.

Outro fator de dúvida que tem se imposto desde o ataque do Hamas a Israel no último dia 7 é o efeito que o conflito, ainda sem desfecho previsível, trará aos preços do petróleo, uma das correntes de transmissão mais potentes quando se trata de inflação global.

A principal incerteza ainda diz respeito a eventual envolvimento mais próximo do Irã junto aos seus aliados Hamas, em Gaza, e Hezbollah, no sul do Líbano, não apenas pelo papel do país persa na produção e exportação da commodity, como também pelo controle estratégico do Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% a 30% da oferta global de petróleo. A parte mais estreita da passagem marítima fica inteiramente em águas territoriais do Irã ou de Omã – o correspondente a 12 milhas náuticas em relação ao litoral de um país ou de outro, pelo direito internacional. 

Nesse contexto, em que o escrutínio dos resultados corporativos se combina ao acompanhamento de cenário macro volátil, especialmente no exterior, as ações de Petrobras (ON -0,72%, PN -0,73%) voltaram a se descolar nesta sexta do sinal do petróleo, em alta na casa de 2% para o Brent e o WTI na sessão, em semana na qual o mercado ponderou mudanças propostas ao Estatuto da empresa, consideradas com desconfiança pelo efeito que podem trazer à governança da estatal. Assim, na semana, Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 5,71% e 6,37% – acima de perdas na casa de 2% a 3% para o petróleo no mesmo intervalo.

Mirando a perspectiva para a mineradora no quarto trimestre, em meio a alguns sinais mais favoráveis sobre a demanda asiática, a ação da Vale fechou nesta sexta em alta de 3,48%, no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre. O papel da mineradora foi um dos sete da carteira de 86 ações do Ibovespa que conseguiram fechar o dia em alta, ao lado de Usiminas (+4,18%) e Bradespar (+2,24%). Na ponta perdedora do índice de referência da B3, destaque nesta sexta-feira para Hypera (-8,25%), Soma (-6,89%) e Gol (-5,59%). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão ficaram entre 1,03% (Bradesco PN) e 2,54% (Banco do Brasil ON).

Com tudo em conta, o mercado financeiro está mais otimista sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 57,14% acreditam que a semana será de ganhos para o Ibovespa; 28,57% esperam estabilidade; e 14,29%, queda. Na pesquisa anterior, estes porcentuais eram, respectivamente, de 42,86%, 14,29% e 42,86%.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam em alta nesta sexta-feira, pressionados por declarações do presidente Lula e uma piora na percepção de risco sobre a guerra Israel e Hamas. O chefe do Executivo mostrou pouca disposição para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, definida no texto do arcabouço fiscal, relativizando ainda o impacto negativo de um déficit entre 0,50% e 0,25% do PIB. 

Lá fora, o temor de uma escalada no conflito em Gaza pressionou os preços do petróleo e enfraqueceu as bolsas, numa aparente busca por segurança nos Treasuries. Mesmo com a alta desta sexta, as taxas ainda conseguiram acumular queda na semana, com desinclinação para a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,990%, de 10,791% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,57% para 10,81%. A do DI para janeiro de 2027, que nas máximas voltou a rodar na casa de 11%, era de 10,97% no fechamento (10,72% na quinta-feira) e a do DI para janeiro de 2029 avançou a 11,37%, de 11,17%. Na semana, as taxas curtas caíam perto de 10 pontos, as intermediárias e as longas, cerca de 25 pontos.

A fala de Lula caiu como uma bomba nos mercados. Ainda que as projeções dos analistas, inclusive no Boletim Focus, não apontem para o cumprimento da meta, a avaliação dos agentes é de que uma vez isso dito pelo presidente tem um peso muito maior e negativo para a imagem e credibilidade do País. “Lula não falou nada de novo, mas quando se abandona o objetivo muito cedo, os agentes ficam desconfiados, numa semana que vinha sendo muito positiva para as aspirações da Fazenda”, afirmou Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, referindo-se sobretudo à aprovação do projeto de lei da taxação dos fundos de alta renda na Câmara.

Para Leal, desde que as declarações não sejam oficializadas ou endossadas por mais gente dentro do governo, a tendência é de que os mercados “voltem um pouco” após a reação inicial fortemente negativa. “Lula tem disso. Faz um ‘bate e assopra’, eventualmente reconsidera e vai testando. Acredito que tanto um sell-off ou um rali nos próximos dias devem partir mesmo de eventos no exterior”, disse.

O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, lembra ainda que pela manhã o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, havia sinalizado possibilidade de cumprimento da meta. “Horas depois, vem o presidente e fala o contrário”, observou.

Ceron disse que o cenário era desafiador para 2024 e, questionado sobre se o alerta significaria que o governo já cogita alterar a meta, negou qualquer sinalização nesse sentido. “Continuaremos buscamos o déficit zero em 2024, mas podemos ter fatores extraordinários. A análise mais macro de 2024 está em curso, mas nada muda na busca por déficit zero”, disse.

Ceron fez os comentários em entrevista sobre o números do Governo Central em setembro, que surpreenderam positivamente, o que ajudava a aliviar a ponta longa pela manhã. Após quatro meses no vermelho, as contas voltaram a registrar superávit primário, de R$ 11,548 bilhões. O resultado ficou acima da mediana das expectativas, de saldo positivo de R$ 10,505 bilhões, de acordo com levantamento do Projeções Broadcast.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado