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Economia

Com Petrobras, Ibovespa resiste à queda da Vale e sobe 0,28%, aos 128,1 mil

Do meio para o fim da tarde, contudo, como ontem o Ibovespa perdeu fôlego, e mais uma vez por conta de Vale

Redação Jornal de Brasília

25/01/2024 19h01

Foto: Divulgação

A combinação de PIB bem acima do esperado no quarto trimestre nos Estados Unidos – em alta de 3,3%, ante mediana de projeções a 2% para o período – e de núcleo da inflação ao consumidor pelo PCE (métrica preferida do Fed) em desaceleração a 2% ao ano no mesmo intervalo deu suporte a que os investidores voltassem a comprar ações moderadamente, no Brasil e no exterior, nesta quinta-feira.

O cenário de que a economia americana continua resiliente ao prolongado período de juros altos, e de que a inflação enfim parece convergir para a meta do BC dos Estados Unidos, dá suporte adicional ao apetite por risco desde o exterior, no momento em que ações de tecnologia já surfavam o entusiasmo da IA, em Nova York.

Do meio para o fim da tarde, contudo, como ontem o Ibovespa perdeu fôlego, e mais uma vez por conta de Vale, a ação de maior peso no índice e entre as que mais recuaram no fechamento desta quinta-feira. Até o meio da tarde, Vale ON cedia em torno de 1,5%, e aprofundou a correção com a notícia de que a Justiça Federal condenou a mineradora, a BHP e a Samarco a pagar multa de R$ 47,6 bilhões como indenização por danos morais coletivos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Hoje, faz cinco anos da ruptura de outra barragem ligada à Vale, a do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

A mineradora brasileira é sócia da BHP na Samarco, que explorava a mina de Mariana – cabe recurso da decisão. O juiz federal substituto Vinicius Cobucci determinou que os recursos da multa sejam destinados a um fundo administrado pelo governo federal para ser aplicado nas áreas impactadas pelo rompimento.

Assim, no cabo de guerra entre os dois carros-chefes da B3, Vale (ON -2,20%) e Petrobras (ON +4,64%, PN +3,70%), o Ibovespa obteve leve alta de 0,28%, aos 128.168,73 pontos, colocando os ganhos da semana até aqui em 0,42% que, preservados amanhã, podem constituir a primeira progressão do ano. No agregado das três semanas inaugurais de 2024, o índice da B3 apenas caiu, colocando as perdas do intervalo, até a última sexta-feira, em 4,88%. Agora, cede 4,48%, contido ainda pela fraca perspectiva de demanda chinesa por commodities e, também, pela postergação das expectativas de corte de juros nos Estados Unidos, de março para maio.

Nesta quinta-feira de feriado municipal em São Paulo, o Ibovespa andou pouco, e sem tropeços até que o noticiário sobre a Vale voltasse a assustar os investidores. Quase no fim da sessão, o índice chegou a mostrar perda de 0,01%, na mínima do dia aos 127 803,05, tendo chegado no melhor momento, mais cedo, aos 128 696,68 pontos – de toda forma, uma variação estreita, de menos de 900 pontos, entre o piso e o teto do dia. Mesmo com o feriado dos 470 anos da cidade, o giro foi de R$ 19,9 bilhões, pouco abaixo ao de ontem.

O desempenho positivo do Ibovespa era assegurado desde a manhã por Petrobras, com ambas as ações da estatal à frente do petróleo na sessão, após terem perdido contato no dia anterior: hoje, Brent e WTI fecharam em alta de cerca de 3%. Na ponta da carteira teórica na sessão, além de Petrobras ON, destaque também para Magazine Luiza (+7,81%), Azul (+6,03%) e Assai (+4,87%). No lado oposto, Yduqs (-4,41%), Gol (-3,16%) – após a empresa ter dado início à reestruturação financeira na Justiça dos Estados Unidos -, Pão de Açúcar (-2,61%) e Vale.

Após ter limitado ganhos ontem – em dia que havia sido muito positivo para o setor metálico -, Vale ON mais do que devolveu, hoje, a alta de 1,01% que havia computado na quarta-feira – na contramão do minério de ferro na China, que subiu nesta quinta-feira 1,6% em Dalian, perto de US$ 138 por tonelada. Além das dúvidas sobre o nível de preços da commodity e da demanda chinesa pela matéria-prima – somadas agora a uma multa bilionária recomendada pela Justiça -, a gestão da empresa segue sob os holofotes do mercado, com a expectativa para a definição, na próxima semana, da permanência ou não de Eduardo Bartolomeo no comando da companhia.

Hoje, em post na rede social X, a presidente do PT, Glesi Hoffmann, entrou na discussão. Ela argumentou que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega – que estaria sendo defendido para o comando da Vale pelo presidente Lula por intermédio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em contatos com acionistas de referência – é um bom nome para o conselho de administração. O cenário de Mantega com assento inicial no conselho da mineradora, e de que Bartolomeo continue por um tempo na presidência executiva, é o que prevalece até agora, no mercado.

No quadro mais amplo, o desempenho das bolsas mundo afora foi favorecido, hoje, pela boa leitura do PIB americano, acompanhada por inflação em arrefecimento, no momento em que os agentes de mercado já tinham colocado na conta de que os juros americanos vão demorar um pouco mais para cair – provavelmente, não antes de maio. “O Fed tem mantido a perspectiva de que sua ação sobre juros dependerá do comportamento dos dados econômicos, mas a leitura de hoje sobre o PIB, com a atividade ainda aquecida nos Estados Unidos enquanto a inflação mostra arrefecimento gradual, ajudou as bolsas”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Com a agenda macro doméstica relativamente esvaziada nesta quinta-feira, os negócios acabaram sendo direcionados pelos sinais sobre os juros no exterior: na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu, pela manhã, manter a orientação da política monetária e o nível atual das taxas de referência no bloco.

Em nota, Robert Schramm-Fuchs, gestor de portfólio de ações europeias na Janus Henderson Investors, avalia que o resultado da reunião deste mês do BCE é positivo para o mercado de ações – e vê possibilidade de cortes nas taxas de juros pelo Banco Central Europeu em abril; antes, portanto, do que o mercado tem precificado recentemente para os juros do Federal Reserve, nos Estados Unidos. Ele menciona a desaceleração da inflação anualizada na zona do euro, e antecipa que a inflação deve atingir a meta de 2%, do BCE, no segundo semestre.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 25, em baixa de 0,19%, cotado a R$ 4,9229, com mínima a R$ 4,9073 pela manhã. Foi o terceiro pregão seguido de queda da moeda americana, que agora passa a acumular leve baixa (0,08%) na semana. Com a agenda doméstica esvaziada e sem novidades relevantes nas tratativas da pauta econômica entre governo e Congresso, os negócios foram mais uma vez guiados pelo ambiente externo, marcado por alta das commodities e queda das taxas dos Treasuries.

A safra carregada de indicadores americanos hoje reforçou a leitura de que a economia dos EUA caminha para o almejado “pouso suave”, com continuidade do processo de desinflação em meio a um nível de atividade ainda saudável. Tal ambiente ratifica as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) pode começar um ciclo de redução dos juros ainda no primeiro semestre, com mais de 80% de chances de corte em maio, segundo plataforma da CME Group. Já as apostas para março, que chegaram a superar 80% no fim do ano passado, agora estão na faixa de 40%

O PIB americano cresceu a ritmo anualizado de 3,3% no quarto trimestre, acima do teto (2,8%) e da mediana (2%) de Projeções Broadcast, mas mostrou desaceleração significativa em relação quarto trimestre, quando houve expansão anualizada de 4,9%. Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), desacelerou de 2,6% no terceiro trimestre para 1,7% no quarto. O núcleo do PCE se manteve em 2% no período. Amanhã, sai o PCE referente a dezembro, que pode mexer com as expectativas em torno condução da política monetária pelo Fed.

“Os números de hoje foram bons, com PIB para cima e índice de preços para baixo. Temos um clima mais otimista do mercado, com bolsa e commodities para cima, o que ajuda o real”, afirma o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, para quem havia um otimismo exagerado do mercado no fim do ano passado com a possibilidade de corte de juros nos EUA em março.

No exterior, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em alta firme, acima da linha dos 103,600 pontos, com ganhos de mais de 0,5% da moeda americana em relação ao euro. Como esperado, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxas de juros inalteradas Em entrevista coletiva, a presidente da instituição, Christine Lagarde, reafirmou comentário que os juros podem ser reduzidos no verão europeu (de junho a setembro).

A moeda americana caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em meio à valorização do minério de ferro e das cotações internacionais de petróleo, que atingiram os maiores níveis desde fins de novembro Além da força da economia americana, contribuiu para avanço nos preços a cautela com a tenção geopolítica no Oriente Médio. O contrato do tipo Brent para abril avançou 2,93%, a US$ 81,96 o barril.

Juros

Os juros futuros terminaram a sessão em baixa, comportamento que prevaleceu ao longo de toda a sessão. Os dados de atividade e inflação que saíram ainda pela manhã apontaram para um pouso suave da economia dos EUA, atraindo fluxo para ativos emergentes e favorecendo ainda a colocação de prefixados do Tesouro. A liquidez, porém, foi mais fraca nesta quinta-feira de feriado na cidade de São Paulo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,030%, de 10,05% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,76% para 9,69%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 9,83% (de 9,92% ontem) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,26%, na mínima, de 10,35%.

Com a agenda e noticiário esvaziados, o mercado voltou-se aos eventos externos, num dia carregado de indicadores nos EUA e reuniões de política monetária pelo mundo. A grande expectativa era pelo PIB americano, que subiu 3,3% no quarto trimestre em termos anualizados, superando não só o consenso de 2% como também o teto das estimativas (2,8%). Porém, houve significativa desaceleração em relação ao terceiro trimestre de 2023 (4,9%). Além disso, a inflação do período medida pelo índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE, em inglês) desacelerou quase 1 ponto, com taxa anualizada passando de 2,6% para de 1,7%.

“O PIB acima do esperado poderia jogar os juros para cima, mas com a desaceleração da inflação o mercado se acalmou. Teve ainda a reação mais dovish ao BCE”, afirma o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, Daniel Leal.

Além do PIB, outros dados de atividade que saíram hoje, abaixo do esperado, endossaram a percepção de que a economia já pode estar esfriando neste primeiro trimestre. Nesse contexto, os juros dos Treasuries recuaram, também em função de um leilão de T-Notes com demanda acima da média. No fim da tarde, o rendimento da T-Note de dez anos marcava 4,128%.

Nas decisões de política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) manteve os juros inalterados pela terceira vez consecutiva O Banco Central da África do Sul também manteve os juros, em 8,25%, em decisão unânime. Já o Banco Central da Turquia elevou sua principal taxa de juros em 2,5 pontos porcentuais, para 42,5%, mas também sinalizou o fim do atual ciclo de aperto monetário.

O alívio na curva local também estaria decorrendo da entrada de fluxo externo, o que ajuda a explicar ainda o sucesso do leilão de prefixados hoje. O Tesouro colocou integralmente a oferta de 13,5 milhões de LTN e de 2,5 milhões de NTN-F, mesmo com um DV01 (risco) de US$ 755 mil que pode ser considerado elevado.

Estadão Conteúdo

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