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Brasil

Tráfico não comprou armas furtadas do Exército por falta de peça, diz polícia

A negociação das armas foi feita em um grupo de WhatsApp do qual participam lideranças do Comando Vermelho, maior facção do Rio de Janeiro

Redação Jornal de Brasília

20/10/2023 12h23

Foto: Divulgação/PCRJ

Bruna Fantti
Rio de Janeiro, RJ (Folhapress)

Lideranças do Comando Vermelho do Rio de Janeiro não chegaram a comprar as metralhadoras furtadas do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, devido à falta de uma peça: fita metálica para munição.

A informação foi confirmada à Folha de S.Paulo por investigadores da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes). A fita é necessária para inserir munição nas armas. Na tarde desta quinta (19), 8 das 21 armas furtadas foram recuperadas no Rio.

“Essas metralhadoras são modernas, são municiadas com fitas de elos metálicos. A munição fica fora da arma, presa em uma fita metálica. Quando é feito o disparo, para um lado fica o cartucho vazio, no outro os elos desmontam. Depois, os elos são remontados por uma máquina, numa outra fita que recebe novas munições. Ninguém vai ter fita metálica ou elo desmontável e montável, só quem é usuário da arma, no caso, o Exército”, disse o especialista em armas Vinícius Cavalcante.

O Exército chegou a dizer que as armas estavam “inservíveis”, sem utilidade. A negociação das armas foi feita em um grupo de WhatsApp do qual participam lideranças do Comando Vermelho, maior facção do Rio de Janeiro, segundo a DRE. Um fornecedor postou no grupo um vídeo em que apareciam as quatro metralhadoras .50 desviadas do Arsenal de Guerra. A delegacia teve acesso ao vídeo.

Nas conversas no grupo, os traficantes do Rio teriam pedido para analisar as armas pessoalmente, de acordo com informações da polícia. O armamento foi levado, inicialmente, para o Complexo da Penha, depois para a Nova Holanda, na Maré, ambas na zona norte da cidade. Depois para a Rocinha, na zona sul, e por fim para a Cidade de Deus, na zona oeste.

Segundo a polícia, entre os que avaliaram as armas na Penha estava Wilton Quintanilha, o Abelha, que já serviu ao Exército quando tinha 18 anos. Ele é chamado de presidente do Comando Vermelho, apesar de dizer a interlocutores, ainda de acordo com a polícia, que quer deixar o tráfico. Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, os mandados de prisão em nome dele foram retirados do banco nacional de mandados, o que possibilitaria uma possível fuga do país -os documentos foram reinseridos após questionamentos da reportagem ao Tribunal de Justiça.

Segundo fontes, Abelha teria dito ao fornecedor das armas que elas iriam servir somente para serem colocadas em cima de um jipe ou tanque para assustar rivais e que, assim, não teriam utilidade para a quadrilha.

R$ 350 mil por metralhadora antiaérea

Segundo a polícia, o fornecedor chegou a pedir R$ 350 mil por cada metralhadora .50 (antiaérea) e R$ 180 mil para os fuzis. A facção tomou conhecimento de que uma operação seria realizada para a captura das armas e determinou a retirada das mesmas das comunidades, de acordo com agentes da delegacia.

Assim, os fornecedores buscaram o equipamento e foram em direção à Gardênia Azul. Quando perceberam a presença da polícia, abandonaram o veículo, segundo investigadores.

Em entrevista coletiva, o secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, afirmou que os investigadores decidiram não tentar apreender o material no trajeto porque havia risco de tiroteio durante o horário de maior trânsito na cidade.

A polícia apura agora se outro lote de armas foi enviado para Minas Gerais, onde traficantes da mesma facção também teriam pedido para analisar os armamentos pessoalmente.

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