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Vizinha que denunciou agressões sai de casa com medo de retaliação

Após ameaças vizinha que denunciou advogado e esposa que espancaram três crianças em Ceilândia, sai de casa.

Redação Jornal de Brasília

21/07/2022 1h22

Por Tereza Neuberger
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Após ouvir intensos episódios de agressão por parte da mãe e do padrasto de três crianças de 12,9 e 7 anos, em Ceilândia, uma vizinha resolveu denunciar. Após ameaças por parte do padrasto das crianças, a vizinha saiu de casa. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso grave de maus-tratos.

Os espancamentos constantes e a violência psicológica sofridos pelas crianças, além de deixar hematomas severos pelo corpo provocaram crises de pânico nas vítimas. Em uma das ocasiões uma vizinha chegou a encontrar uma das crianças agachada tremendo de medo no corredor do condomínio.

As intensas agressões foram ouvidas e por vizinhos que, revoltados, denunciaram a violência ao Conselho Tutelar da região administrativa. No grupo do condomínio, o padrasto das crianças, que é advogado, chegou a fazer ameaças a uma das vizinhas por meio de áudio.

“Se a senhora postar mais alguma coisa no grupo, a senhora pode ter certeza de que eu vou rachar tua cara na porrada. E tu pode ter certeza disso. Eu vou mandar logo aqui no grupo para esculachar essa porra. Porque, se tu postar mais alguma coisa e eu me sentir ofendido ou exposto, você pode ter certeza que eu vou lhe quebrar na porrada. Pode ir na polícia registrar um boletim de ocorrência, porque crime de ameaça é de menor potencial ofensivo e não dá nada”, disse o advogado e padrasto das crianças no áudio.

O advogado reafirmou ainda a ameaça em outro áudio. “Basta postar novamente. Se eu me sentir ofendido, eu vou te arregaçar na porrada. Posta aí, se você tem coragem”, disse. Em outro episódio o padrasto pegou uma faca para o irmão e para o ex-marido da condômina e disse em tom de ameaça: “Vai ter morte, pode esperar”. A mulher resolveu então registrar boletim de ocorrência sobre a ameaça.

“Eu vou rachar a tua cara na porrada” diz advogado em áudio.

Com medo, após a repercussão do caso, a vizinha resolveu não voltar para casa. “Como eu fui ameaçada de morte eu tive que sair de casa com as minhas filhas. Achei que era uma forma de me resguardar e resguardar as crianças“, revela a vizinha.

Cansada de ouvir as agressões sem poder fazer nada, a vizinha resolveu procurar o pai biológico das crianças. Na terça-feira (19), o pai biológico das crianças, de 33 anos, foi encontrado através das redes sociais e tomou conhecimento sobre as sessões de espancamento cometidas contra os filhos.

O consultor tributário tenta conseguir a guarda dos filhos na Justiça há um ano, porém o processo está parado. Após tomar conhecimento das agressões que se intensificaram nos últimos meses, o pai solicitou à mãe que pudesse buscar os filhos para assistir ao jogo do Flamengo. O genitor registrou o caso na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam 2), inclusive com exame de corpo de delito feito pelas crianças no Instituto Médico Legal (IML) da PCDF.

As crianças devem ser devolvidas à mãe no próximo domingo (24). “Se até lá não tiver nenhuma decisão da Justiça, infelizmente eu tenho que devolver pro padrasto e pra mãe”, afirma o pai. Segundo o homem, existe um processo judicial no qual a mãe é ré e que as agressões contra os filhos se intensificaram.

O genitor revelou também que as crianças confirmaram as agressões corriqueiras. “Cascudo do padrasto, que a mãe agrediu com um cabo de vassoura na segunda-feira”, relata o pai das crianças. Ele conta ainda que há cerca de um ano foi ameaçado pelo padrasto das crianças: “ele falou pros meus filhos que ia mandar os clientes dele pra me pegar na rua, inclusive já foi até no portão da minha casa me ameaçar.”

O pai relatou aos policiais que teme pela vida dos filhos. O fato também chegou ao conhecimento do Conselho Tutelar e aparece na ata de ocorrências do condomínio onde moram os envolvidos.

Em um episódio registrado pela PCDF em 10 de junho do ano passado, a avó das crianças tenta intervir para que a neta de 12 anos não seja surrada dentro de um quarto. A idosa precisou arrombar a porta e, quando entrou, viu a menina sendo espancada e segurada pelos cabelos pela mãe. Quando tentou apartar, a avó foi empurrada, estapeada e levou uma surra do padrasto, que usou um cabo de vassoura para atacá-la. O homem é advogado e tem carteira da Ordem ativa.

A mãe das crianças acusou a vizinha e o ex-marido de denunciação caluniosa. Segundo ela, a vizinha os perseguia por conta da sujeira que as crianças faziam no corredor e do barulho que as crianças fazem em casa.

Já em relação ao pai das crianças, a mulher diz ter provas judiciais de que o homem fez alienação parental e que, desde a separação, ele a inferniza. Sobre as fotos que mostram supostas marcas de agressão no corpo da filha, a genitora diz serem antigas de um momento em que, por não querer tomar banho, a menina se jogou no chão e se machucou.

As denúncias de casos de maus-tratos e negligência a crianças e adolescentes podem ser feitas aos Conselhos Tutelares, às Polícias Civil (197) e Militar (190) e ao Ministério Público, podendo ser noticiadas também aos serviços de disque-denúncia (Disque 100, nacional; Disque 181, estadual; e Disque 156, municipal).

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