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Brasília

Coronavírus: médicos denunciam falta de equipamentos

Profissionais da saúde contam que máscaras sumiram do Hospital do Guará e do Hospital Universitário

Pedro Marra

23/03/2020 5h52

Em meio à pandemia do novo coronavírus, médicos e residentes denunciam que equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, máscaras cirúrgicas e até capotes estão em falta em alguns hospitais públicos do DF. O Instituto Hospital de Base (IHBDF), Hospital Regional da Asa Norte (Hran), e Hospital Universitário de Brasília (HUB) são as unidades citadas ao Jornal de Brasília pelos profissionais de saúde que, por medo de represália, pediram para não serem identificados.

No Hospital Regional do Guará (HRGu), médicos e enfermeiros relatam que passaram a receber máscaras contadas para atender os pacientes na unidade após o sumiço do estoque.

“Começaram a sumir as máscaras. O que a gente suspeita é que tem servidor levando para casa em pacotes. Agora, as máscaras ficam trancadas e são entregues com número certo por pessoa no plantão. E só são liberadas com autorização da chefe”, conta a enfermeira.

De acordo com uma médica do HUB, faltam equipamentos também. “Passaram um dado de que gastaram o estoque de um mês no atendimento normal em uma semana. Possivelmente, parte disso foi roubada. Pessoas começaram a levar para casa. Estava falando luva, máscara cirúrgica. N95 (máscara apropriada contra o coronavírus) eu nunca consegui ver no hospital. Parece que tem para o pessoal da UTI e só. A situação está muito grave, a gente está muito exposto. Começamos uma campanha, feita pelos residentes, para arrecadação de doações para o HUB. Não estão nos entregando os equipamentos básicos de proteção: máscaras, óculos e capotes”, diz sem querer se identificar.

Ela acrescenta que atendeu uma paciente com suspeita de coronavírus no plantão noturno de terça-feira (17). “Nesse atendimento, eu estava sem EPI adequado, e a paciente tinha febre alta e tosse. Eu chamei o pessoal do centro de pronto atendimento, que era a referência, eles não responderam ao chamado. Eu fiquei atendendo com a paciente ao meu lado. Na sexta-feira (20), comecei a ter febre e muita cefaleia. Já melhorei. Mas ainda estou com suspeita, pode ser um resfriado ou coronavírus. Estou em isolamento em casa, informei aos meus chefes. Pedi para fazer os exames, já que profissional de saúde tem prioridade para fazer exames para não ficar sem a força de trabalho. Mas a minha chefe disse que mesmo se vier negativo, eu teria que repetir uma semana antes de voltar, e era melhorar eu ficar em isolamento”, esclarece.

Oftalmologia do Base solicita máscaras N95

Uma outra médica disse que os equipamentos estão sendo racionados, mas que não chegou a faltar. “A gente precisa garantir a segurança dos residentes. Então compramos o material com dinheiro próprio”, declara.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) enviou uma nota por meio de assessoria de imprensa negando a falta dos materiais.

“A Secretaria de Saúde informa que não há falta de Equipamentos de Proteção Individual na rede. Há uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso racional dos equipamentos, pois diante da pandemia, há dificuldade de compra destes itens. Assim sendo, a pasta pede que os profissionais sigam as orientações do Plano de Contingência”, diz o texto.

O JBr teve acesso a uma manifesto enviado ao Iges-DF pela chefe da oftalmologia do Instituto Hospital de Base (IHB).

“Solicitamos, com urgência, que sejam disponibilizados equipamentos de proteção individual para todos os médicos oftalmologistas do Hospital de Base, principalmente as máscaras N95, para uso constante em todos os atendimentos, devido às características especiais do tipo de atendimento e exames da nossa especialidade, que se expõem a secreções, independente da exigência da atual definição de caso suspeito, uma vez que uma grande porcentagem de pacientes são assintomáticos ou sem febre, e na iminência de transmissão comunitária para a qual estamos caminhando a passos largos, qualquer síndrome gripal deve ser considerada suspeita de covid-19, se houver a real intenção de se proteger os colaboradores do hospital, e a intenção de bloquear a transmissão por contágio e tentar diminuir o contínuo surgimento de novos casos da covid-19”, comunica o setor do hospital, que menciona a quantidade necessária de equipamentos.

A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do Iges-DF sem sucesso.

Apoio psicológico

A presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, diz que a associação está prestando apoio aos servidores do setor.“Estamos trabalhando na linha de contribuir, pois estamos preocupados com a crise. Precisamos manter a população informada, e o bem estar das famílias, precisamos ter calma.”

 

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