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Brasília

Caso Bernardo: menino morreu ainda em casa, aponta investigação

Para a Polícia Civil, Paulo Osório teve intenção de matar o garoto desde o início. “No mínimo, ele é um psicopata”, afirma delegado

Willian Matos

08/12/2019 21h48

Atualizada 09/12/2019 9h25

Willian Matos
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Após a confirmação de que o corpo encontrado na BR-242 na última sexta-feira (6) é mesmo o do menino Bernardo, garoto morto pelo próprio pai, Paulo Osório Chagas de Lima, 45 anos, o Departamento de Repressão a Sequestros da Polícia Civil do DF (DRS/PCDF) dá como concluída a investigação a respeito do caso. Para a PCDF, Bernardo morreu no dia 26, ainda em Brasília, por conta da dose de medicamentos controlados que Paulo lhe forneceu.

Como explica o delegado-chefe da DRS, Leandro Ritt, Paulo tinha o desejo de tirar Bernardo da mãe, Tatiana da Silva, 30, e da avó materna. “Ficou concluído que ele agiu sozinho nesse homicídio e que a criança foi morta ainda dentro de casa . Comprova aquela linha inicial da investigação de que ele tinha por objetivo matar a criança e fazer com que os familiares nunca mais vissem nem mesmo o corpo. Ele tinha por objetivo perpetuar esse sofrimento na família”, afirma Ritt.

O delegado também elucida o passo a passo do crime, questão que era incerta até então. Paulo chegou a ficar hospedado em um hotel em Luís Eduardo Magalhães-BA com Bernardo já morto. O garoto ficou no carro, enquanto ele pernoito no quarto. “Às 20h52 [de sexta-feira (29)] ele deixou a residência em direção a Bahia. Às 21h20 ele passa por um radar na Ponte do Bragueto sentido saída norte. Dirige já com o menino morto dentro do carro até Luis Eduardo Magalhães-BA, onde chega entre 2h e 3h de sábado (30). Pernoita num hotel, deixando o cadáver no carro. De lá, ele sai do hotel às 7h de sábado e dirige até a região da cidade de Palmeiras-BA, mas precisamente no povoado de Campos de São João, onde abandona o corpo de Bernardo à beira da pista juntamente com a cadeirinha do bebê”, explica o agente. 

Segundo as investigações, a versão de Paulo de que ele queria apenas dar “um susto” na família sem a intenção de matar Bernardo é falsa. “Temos a certeza que o plano inicial era o homicídio de Bernardo, até pela quantidade de remédio que ele forneceu ao garoto, uma dose extremamente letal.”

Roupas novas

Paulo chegou a comprar roupas novas para Bernardo, para que quando ele fosse encontrado, a família tivesse dificuldades em identificar o corpo, como explica o delegado. “A avó, ao visualizar as roupas que Bernardo vestia, não as reconheceu como sendo compradas por ela ou pela mãe. Isso mostra que o plano inicial era que o Bernardo nunca mais fosse encontrado.”

Psicopatia

As investigações seguem a hipótese de que Paulo tem, de fato, traços de psicopatia. “No mínimo, ele é um psicopata. Por horas de depoimento ele não apresenta nenhuma reação emocional, extremamente frio”, afirma o delegado. “Quem viaja com o filho prepara as malas, leva os brinquedos, as comidas… Ele saiu desesperadamente de casa, deixando até a TV e as luzes ligadas. Não levou nenhuma roupa para o menino e nem para ele mesmo”, comenta, refutando a ideia de que o assassino confesso queria apenas viajar com Bernardo.

A psicopatia de Paulo é atestada por Tatiana, mãe de Bernardo. “Na época da igreja, tínhamos uma psicóloga que tinha conseguido o laudo dele, e lá estava constatado a psicopatia”, afirmou Tatiana ao JBr. Eles se conheceram em 2002, ano em que Paulo saiu da ala psiquiátrica da Papuda por ter matado a mãe em 1992.

Identificação do corpo

O diretor do Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil do DF, Samuel Ferreira, explica como foi o trabalho de reconhecimento do corpo. Para comprovar que o cadáver era mesmo do garoto, foi necessário exame de DNA. O exame foi realizado através de amostras do perfil genético colhidas da cartilagem de Bernardo e confrontadas com células da mucosa oral (saliva) de Paulo e Tatiana, pai e mãe do menino.

Ainda segundo o diretor, o exame é extremamente preciso e não deixa dúvidas. “Para se ter uma ideia, a probabilidade de uma pessoa ter o mesmo perfil genético de Bernardo é de uma em 53 septilhões de pessoas na face da Terra. Considerando que o planeta Terra tem 7 bilhões de pessoas, precisaríamos de cerca de 3 trilhões de planetas Terras para haver uma outra pessoa com o mesmo DNA de Bernardo. Portanto, o corpo encontrado na Bahia é de fato o do garoto”, crava Samuel.

O caso

O desaparecimento de Bernardo mobilizou a Polícia Civil e chocou os brasilienses na última semana. Paulo Osório, pai do garoto, sumiu com ele no dia 29 de novembro, com a intenção de tirá-lo da mãe, Tatiana da Silva. Ele foi preso dois dias depois, mas foi encontrado sem o garoto.

Perguntado, ele deu uma versão diferente da realidade. Afirmou que deixou o garoto em um local diferente do encontrado, fazendo a polícia mobilizar uma equipe para procurar Bernardo, sem sucesso. Disse também que a intenção era dar “um susto” em Tatiana, afirmação que, para a investigação, é falsa.

Enquanto isso, os dias se passavam e a família de Tatiana sofria sem notícias de Bernardo. Como o caso ganhou notoriedade rapidamente, os palpites de espectadores eram variados. Muitos chegaram a acreditar que Bernardo ainda estava vivo, o que confundia ainda mais a mãe do garoto.

No entanto, no último sábado (7), a Polícia Civil confirmou a morte de Bernardo

Agora, Paulo Osório responderá por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, podendo pegar até 30 anos de prisão. Neste momento, ele está na carceragem da PCDF.

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