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Brasília

Vida solidária: empresários brasilienses decidem se tornar missionários

A nova missão, segundo eles, tem um caráter de fé. “É levar a mensagem de Jesus ao redor do mundo” e promover a solidariedade

Redação Jornal de Brasília

30/10/2023 16h25

Foto: Arquivo pessoal

Ana Beatriz Cabral Cavalcante
Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB

O casal brasiliense Luis Paulo e Thais Machado fez uma mudança radical em suas vidas, deixando para trás suas carreiras de empresários.

Ao longo da jornada, eles percorreram diferentes países, como Nepal, Quênia, Peru, Filipinas e Tailândia, onde se depararam com realidades e culturas que os desafiaram de maneiras diversas. No entanto, este ano, eles decidiram voltar ao Brasil, determinados a iniciar um novo projeto junto à comunidade.

A nova missão, segundo eles, tem um caráter de fé, embora sem vínculo com denominação religiosa. “É levar a mensagem de Jesus ao redor do mundo” e promover a solidariedade.

Em Petrópolis (RJ), Luis Paulo e Thais irão dar início à ONG “Lugar de Acolhimento e Descanso”. Destinado principalmente aos cristãos e com o objetivo de proporcionar um refúgio de paz e solidariedade para aqueles que buscam apoio espiritual e um lugar de repouso em meio às turbulências da vida.

Dedicados a fazer a diferença, eles estão determinados a transformar pouco a pouco a vida daqueles que os cercam, um ato de amor e serviço que está agora de volta ao solo brasileiro.

Recursos

Muitos se perguntam como o casal sustenta-se nas missões e como eles conseguem realizar tudo o que fazem. A primeira quantia que auxiliou foi da previdência privada que Luis Paulo conquistou por ter trabalhado muitos anos como concursado.

A segunda, como antigos proprietários da filial da Febracis em Brasília, após a venda, recebem uma pequena quantia por mês referente às parcelas. Por fim, a venda do livro de Thaís Machado, 700 Narrativas Poderosas, na qual as vendas são destinadas por completo às missões.

Thais complementa que muito do que está no livro são algumas das afirmações dela utilizando a força das palavras, “existe o poder nas nossas palavras, mesmo. A palavra que sai da sua boca tem o poder de mudar um resultado”, ela afirma. 

Com mais de 7 mil livros vendidos, o material tornou-se um Best-Seller  e “um condutor de bençãos”, segundo ela. 

Maiores dificuldades

Thais Machado conta que decidir onde devem ir ou não é um dos maiores desafios que encontram com frequência. “A necessidade mundial é gigante e nem tudo que parece bom é para nós fazermos”, afirma.

Ela cita que existem quatro grandes áreas que muitas vezes apresentam algum empecilho durante as missões:

  • 🗣️ Barreira linguística: Apesar de falarem o inglês fluentemente. Cada país tem uma linguagem e uma forma de se comunicar que muitas vezes impede de terem assuntos mais profundos. 
  • 🩺 Saúde: Geralmente no início das missões em países diferentes, sentem desconforto digestivo, mas logo se acostumam. Alguns exemplos de desafios foram no Nepal no qual sofreram com a poluição e falta de higiene. Contraíram covid durante a missão em São Gonçalo em 2021 e durante a missão no Quênia, Luis Paulo contraiu Malária. Teve de ir ao hospital que fica a uma hora e meia de distância da aldeia que estavam.
  • 🔒 Segurança: Em alguns países que são mais pobres, quando veem turistas já pensam em se aproveitar. Dois exemplos são de quando moravam na tribo Turkana sozinhos em uma tenda e quando foram perseguidos pelas ruas de Nairóbi (Quênia) e assaltados.
  • 💰 Transferência Monetária: É muito difícil levar uma alta quantia para fora do país e existe muita burocracia em relação a comprovação e envio para pessoa jurídica. Em alguns casos tiveram de envolver muitas pessoas para os ajudarem por causa dos limites diários e poucas formas de envio. Um exemplo disso é de quando no dia que antecedia o início do pagamento da escola que estava sendo construída, a Transferwise interrompeu o envio de dinheiro para o Quênia e restava somente o Western Union que ficava a uma hora e meia de onde estavam e havia um limite pequeno de envio.

Thais Machado complementa que em situações como vivenciaram na África de ficarem em uma aldeia, há muita dificuldade pela demora na resolução de problemas.

Doação

O casal menciona que eles encontraram inspiração em um livro para compreenderem como poderiam se tornar doadores mais eficazes. Eles se basearam em “Dar e Receber” de Adam Grant para explorar maneiras de ajudar os outros.

Thais Machado destaca que, de acordo com o autor, existem dois tipos de doadores: os altruístas e os alteristas. Essa distinção ajuda o casal a definir seu próprio estilo de doação.

Segundo Adam Grant em “Dar e Receber”, os doadores altruístas são aqueles que se concentram principalmente nos interesses dos outros, muitas vezes sacrificando suas próprias necessidades. Em contrapartida, os doadores bem-sucedidos são os alteristas.

Esses doadores se preocupam com os outros, mas também têm ambições pessoais e consideram seus próprios interesses. Ser um alterista envolve dar mais do que se recebe, mantendo um equilíbrio com os interesses pessoais e usando-os como critério para determinar quando, onde, como e para quem doar.

Ela ainda complementa que a dica que dá às pessoas que possuem o coração direcionado às missões e à contribuição, que se envolvam com o projeto e não apenas injetem uma quantia. “Muitas vezes apenas o seu dinheiro ou seu alimento mantém aquela pessoa naquela situação”, acrescenta.

Luis Paulo cita que não é apenas ajudar os outros, pois eles podem se tornar dependentes e sim, ajudar eles a conseguirem suas próprias conquistas.

Por que ajudar

Muitas pessoas questionaram o porquê de eles fazerem missão no exterior e de não irem ao sertão brasileiro, “Vocês ficam fazendo coisas fora do Brasil, e o Brasil?”. Deste modo, incomodados com os questionamentos, decidiram ir visitar o então apelidado “África do Brasil”.

Entretanto, o casal diagnosticou que o apelido era errôneo, a única questão que torna os dois elementos parecidos é a mentalidade de escassez. “Quando você recebe as coisas de graça, você se torna ingrato, você acha que aquela pessoa tem que continuar dando à você”, Luis Paulo conclui.

Experiências

Luis Paulo e Thais compartilham duas experiências que colocam comparativamente Brasil e África, quando, por um período, decidiram residir em São Gonçalo, uma cidade que, conforme suas palavras, ostenta o título de ser a mais perigosa do Rio de Janeiro.

Recordam-se dos questionamentos recebidos de um morador local: “Cara, tu é maluco? Tu tá morando no pior lugar do mundo! Isso aqui é muito ruim, isso aqui é muito perigoso. Tu tá morando ali, no beco, lá na estrada do bichinho, onde a boca de fumo e o comando vermelho dominam”, rememora Luis Paulo.

Ademais, quando optaram por se mudar para a tribo Turkana, no Quênia, foram alertados por diversos missionários sobre os perigos que enfrentariam.

“É muito perigoso ficar morando aqui na tribo, principalmente para mulher”, cita Luis Paulo. Esta advertência estava relacionada ao fato de estarem sozinhos em meio à tribo, onde a presença de feiticeiros e tensões entre tribos vizinhas criava um ambiente de alto risco.

Apesar de todos os alertas e conselhos, o que eles realmente desejavam era auxiliar aquelas comunidades, experimentando de forma genuína o cotidiano de seus habitantes.

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