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Brasília

Refugiada venezuelana, professora trabalha como auxiliar de limpeza em Brasília

Ao chegar ao Brasil, sua primeira  hospedagem foi na casa de um amigo, momentos antes de encontrar o abrigo em Brasília

Redação Jornal de Brasília

08/10/2021 16h41

Foto: João Victor Canizares

Ana Carolina Pessoa e Vinícius Pinelli
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias UniCEUB)

“Eu me sinto muito agradecida, pois cheguei aqui desesperada”, diz Carmen Felicia, de 59 anos, que faz parte do grupo de refugiados de Porlamar, cidade venezuelana. Professora de biologia em sua cidade natal, atualmente trabalha como auxiliar de limpeza de um shopping no Lago Norte. Ela pega dois ônibus por dia para chegar ao trabalho.

Muitas pessoas, sem condições financeiras, vieram da Venezuela ao Brasil caminhando durante meses. Carmen conta que mesmo conhecidos de sua cidade precisaram enfrentar essa situação. Ela, por sua vez, conseguiu vir por meio de transporte devido à deficiência física de seu filho. Ao chegar ao Brasil, sua primeira  hospedagem foi na casa de um amigo, momentos antes de encontrar o abrigo em Brasília.

Além de seu filho, veio da Venezuela com a nora e um neto. Aqui, pôde fazer cursos gratuitamente no Senac, como de português, costura e desenvolvimento profissional, a fim de se adaptar e encontrar uma nova fonte de renda. 

Carmen, apesar da reviravolta em sua vida, diz que se sente acolhida, pois foi muito bem recebida pelos brasileiros. Conseguiu encontrar a casa Bom Samaritano no mesmo dia em que veio para Brasília, há aproximadamente um mês.

Ela temia pela vida filho, já que as condições na Venezuela eram desesperadoras. Com a saúde debilitada e a falta de alimentos, não havia hospitais para atendê-lo. 

“O tempo na Venezuela estava muito difícil. Eu não queria deixar meu trabalho, então sempre viajava para o Brasil para buscar medicamentos para o meu filho em Pacaraima, porque no meu país não era possível. Porém, ano passado ficou impossível, a fome piorou muito e o desespero aumentou”, diz.

Uma casa

A casa Bom Samaritano é onde o projeto “Acolhidos por meio do trabalho” está sendo desenvolvido. Localizada no Lago Sul e cedida pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), foi inaugurada em fevereiro de 2020 com reforma financiada pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do governo dos EUA, e atualmente conta com 24 venezuelanos na residência.

 A ideia do projeto, que tem parceria com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI-Brasil), instituição que organiza os abrigos em Roraima, é realocar venezuelanos refugiados em Boa Vista (RR) para as cidades onde o Acolhidos atua, como Manaus, Florianópolis, Salvador e Brasília, e assim garantir moradia temporária enquanto os refugiados se inserem no mercado de trabalho. 

De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que também apoia o projeto, os refugiados passam por uma seleção antes de serem interiorizados, baseado em seu potencial de conseguir um emprego, que é medido de acordo com suas experiências passadas, e assim sustentar suas famílias. A casa serve de residência por um período de até três meses, enquanto a inserção no mercado ocorre. Desde que o projeto teve início em outubro de 2019, ao menos 1143 venezuelanos foram interiorizados, sendo 41 desses no Distrito Federal.

Foto: João Victor Canizares

Durante a estadia dentro da casa, os venezuelanos podem realizar cursos de português e informática, para facilitar a procura por vagas de emprego, porém outros recursos e espaços são disponibilizados, como sala de leitura, auditório e brinquedoteca. A capacidade máxima estimada da casa é de 90 pessoas.

A visita à casa Bom Samaritano faz parte de uma iniciativa da AVSI que também inclui uma visita à exposição Acolhidos, que tem fotos dos refugiados de autoria do fotógrafo Antonello Veneri, no CCBB Brasília.

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