Após dois dias inteiros de combate às chamas, o incêndio na Floresta Nacional de Brasília foi controlado. Por volta das 21h da última quarta-feira (4), as equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) cercaram a área atingida e mantiveram o fogo sob controle.
De acordo com Fábio dos Santos Miranda, chefe da Flona de Brasília, após um levantamento do drone na manhã desta quinta-feira (5), foi verificado que não havia pontos quentes significativos fora da região já controlada, o que indica menos risco de uma reignição do fogo em áreas além do perímetro de controle dos órgãos de combate ao incêndio.
“Estamos numa situação muito melhor do que a de ontem. Foi um trabalho árduo, mas conseguimos trabalhar de maneira efetiva. Utilizamos as melhores técnicas e táticas possíveis”, destacou o chefe da Flona.
Segundo a última atualização, a área queimada total é de cerca de 38,58% da reserva, pouco mais de 2,1 mil hectares – um crescimento de 81% no segundo dia de chamas. Na área que costuma ser a mais visitada, cerca de 68% foi consumida pelo fogo. “Isso vai nos imputar um esforço muito grande para recuperar a área”, afirmou Fábio.
O trabalho desta quinta no combate às chamas é para conter focos na área que já foi controlada, além de monitorar possíveis reignições. Hudson Coimbra, coordenador das atividades de manejo do fogo na Flona de Brasília, do ICMBio, detalhou as ações previstas.
“Vamos trabalhar nos focos que estão próximos a matas de galeria [ao longo do curso de rios], e as zonas de conservação prioritárias. Hoje é um trabalho de extinção de cada um desses focos, que envolve cavar, revirar matéria que ainda queima, troncos de árvores que persistem em queimar e monitorar qualquer outro foco que queira passar do nosso perímetro”, explicou Hudson.
Resgate de animais
Além disso, equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), do Jardim Botânico e do Zoológico de Brasília continuam as buscas por animais silvestres sobreviventes ou que tenham sido vitimados pelo fogo.
Ontem, alguns animais foram resgatados, como uma jararaca e um rato silvestre. Outros, porém, foram encontrados mortos. Nenhum deles de grande porte. A maior preocupação é com a alimentação dos que sobreviveram e estão próximos ou dentro das áreas queimadas. Uma vez que o fogo consumiu mais de um terço da vegetação, árvores frutíferas e outros tipos de fonte de alimento para diversos dos animais também foram perdidas no incêndio.
“Muitos animais pequenos também foram queimados, então isso também impacta muito a cadeia alimentar. O trabalho de resgate vai continuar hoje”, afirmou Fábio. “Também avistamos muitos animais vivos em movimentação. Avistamos no primeiro dia um lobo guará, ontem avistamos uma anta e seu filhote e também veados transitando pela unidade, ainda um pouco perdidos, mas vivos. Isso nos dá muita esperança para a recuperação dessa unidade de conservação”, disse.
Nesta quinta, as operações prosseguem com a distribuição de alimentos e água para os animais nas áreas afetadas. Entre os itens distribuídos estão frutas e um mix de sementes, que estão sendo colocados em pontos estratégicos para garantir a sobrevivência da fauna local.
Fogo criminoso
Em continuidade ao inquérito da Polícia Federal para investigar as causas do fogo, será feita uma perícia onde o incêndio florestal começou. A corporação procura os responsáveis pela queimada criminosa. A suspeita é que três pessoas em atitude suspeita pouco antes do fogo se alastrar tenham iniciado as chamas.
A maneira como o fogo iniciou, segundo o CBMDF, difere da convencional, quando o fogo se espalha sozinho e de maneira linear. No local, porém, as chamas começaram em três focos diferentes, com distância de cerca de um quilômetro um do outro, o que indica a ação humana na ocasião. O que se pretende descobrir é se houve ou não a intenção de atear fogo na floresta.