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Brasília

Hospitais do DF estão à mercê da criminalidade

Arquivo Geral

31/10/2018 7h00

Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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Aconteceu de novo. Graziele Souza de Carvalho foi vítima de um crime dentro de um hospital público da capital do País. Ela aguardava atendimento na pediatria do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) quando o companheiro entrou, discutiu e a atingiu com dois tiros. Desde junho do ano passado, este é ao menos o quarto caso que ocorre sob as asas da gestão pública. Não há clareza em relação ao sistema de segurança das unidades de saúde do DF.

Desde agosto de 2011, a Lei Distrital 4.635 determina monitoramento permanente de áudio e vídeo, abrangendo as áreas de circulação internas e externas dos hospitais. Entretanto, o descumprimento é evidente. Em 2012, o GDF comprou 900 câmeras, mas pouco mais de 10% foram instaladas.

No passado, a pasta informou que a empresa contratada não finalizou o serviço após pagamento de 80% dos R$ 5,3 milhões previstos. O Tribunal de Contas suspendeu o contrato e o restante da verba foi retido. Sem acordo, câmeras e filmagens, a insegurança aumenta.

A Secretaria de Saúde diz que todo o serviço de monitoramento por câmeras passou por reestruturação e segue um cronograma de instalação em todas as unidades. No entanto, não detalha a situação atual, com a justificativa de preservar pacientes, servidores e acompanhantes. Assim, não se sabe quantos ou quais hospitais já contam com o serviço, o que prevê a reestruturação e, principalmente, quanto tudo isso custa aos cofres públicos da capital.

Insegurança

Com a filha de três anos adoentada, Maria Antônia procurou a pediatria do HRC por volta das 7h dessa terça-feira (30). Naquele momento, o acesso ainda era limitado por conta do crime que acontecera ali na noite anterior. A moradora do Sol Nascente não tinha ideia do que havia ocorrido e aguardou cerca de uma hora até a situação normalizar.

“Estamos à mercê da criminalidade. Poderia ter atingido qualquer um”, afirma. A mulher não esconde a insegurança. “Nem todos os guardas podem ficar armados, não há detectores de metais. É lamentável que seja tão largado. O certo seria ao menos colocar mais seguranças para parecer que há mais controle e inibir a ação de pessoas assim”, acredita.

Espalhados pelas unidades médicas da capital estão 2.526 profissionais de vigilância patrimonial. De acordo com Paulo Quadros, presidente do Sindicato dos Vigilantes, o efetivo ideal teria 50% a mais. “Nosso trabalho em hospitais é estressante, requer muita atenção e o efetivo é pouco. Não dá para fazer segurança completa. A gente faz triagem de visitantes, carrega maca, chama ficha, é vigilante”, diz.

“A insegurança está em todo lugar, mas é preocupante que crimes ocorram dentro de um local em que deveríamos nos sentir seguros”, desabafa a secretária Susana Vieira, 36 anos. Moradora do Riacho Fundo, ela buscou atendimento no Hran – palco de outro crime importante. “A gente mal consegue entrar nos hospitais quando quer atendimento, mas essa gente maldosa consegue acesso fácil assim, ainda mais armado”, reclama.

O presidente do Sindicato dos Vigilantes defende o profissional que estava na hora do crime em Ceilândia. “Ele teve tanto cuidado que foi consultar a vítima antes de liberar a entrada do homem. Vigilante só é lembrado quando acontece uma tragédia”, lamenta.

“Poderia ter atingido qualquer um. Nem todos os guardas podem ficar armados, não há detectores de metais. É lamentável que seja tão largado”.
Maria Antônia, com a filha. Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasília

Polícia caça suspeito de atirar na companheira

As Polícias Civil e Militar permanecem em busca de Fabrício Claudino Machado, 24 anos. Segundo testemunhas, o suspeito se apresentou na portaria da pediatria e encontrou Graziele, que aguardava atendimento ao filho. Ele deu um beijo na criança e os dois começaram a discutir pela posse do menino, contou o sargento da PMDF, Jacy da Silva e Sá.

Então, Fabrício buscou a arma em um carro, entrou na sala e disparou. Dois tiros atingiram a vítima, que, segundo a Secretaria de Saúde, segue internada, mas clinicamente estável. A criança caiu no chão, mas não se feriu. Uma terceira bala atingiu uma auxiliar de laboratório que teve alta na manhã de ontem. Após o crime, o homem fugiu. Os vigilantes correram atrás, mas não o alcançaram.

O caso é apurado pela 15ª Delegacia de Polícia.

Ponto de Vista

“O que aconteceu é uma tragédia anunciada”, dispara Marli Rodrigues, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde (SindSaúde). De acordo com ela, pacientes e funcionários vivem em “constante exposição”. “Não existe algo planejado para enfrentar a segurança nas unidades de saúde e o governo nunca se preocupou com isso. Tratam como casos isolados, mas acontece sempre. O estado é de abandono”, afirma. Em relação à reestruturação, a sindicalista rebate: “Faz oito anos que a secretaria diz que está reestruturando. Agora não dá mais tempo”.


Consequências

Enquanto isso, o DF registra casos emblemáticos. Em junho do ano passado, um bebê foi sequestrado da maternidade do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e nenhuma gravação ajudou as buscas da Polícia Civil.

Em abril, um vigilante foi baleado no Hospital Regional do Gama (HRG) após discussão com um adolescente. Em julho, um paciente foi agredido por um policial militar no Instituto Hospital de Base (IHB).

Novamente, as câmeras instaladas na unidade serviram de enfeite. Sem funcionar, nem um segundo foi registrado. Agora, a ação no HRC é contada apenas por testemunhas.


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