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Brasília

Escolas estão cada vez mais focadas na conscientização ambiental

Cenário climático atual é pauta de projetos que visam formar cidadãos politizados

Mayra Dias

30/09/2021 17h50

Crédito: Escola Eleva de Brasília

“Se a gente informa a criança, explica para ela o papel daquela formiguinha, daquela grama, isso a transforma em um indivíduo politizado ambientalmente”, argumenta Stefano Aires, biólogo professor do CEUB. É pensando nisso, que algumas instituições de ensino do DF já adotam programas que incentivam a conscientização de estudantes sobre a importância da preservação da natureza. É o caso, por exemplo, da Escola Eleva de Brasília. “O objetivo final é criar ações para tornar a escola cada vez mais sustentável”, explica Christian Prendergast, mestre em administração de escolas e coordenador do projeto na instituição.

Intitulado “Student Reps”, os alunos representantes das turmas de 4º, 5º e 6º ano do Ensino Fundamental, escolhidos pelos colegas, irão liderar o debate e buscar soluções em temas relacionados ao meio ambiente, consumo sustentável, reciclagem, entre outros. Cada sala de aula elegeu dois porta-vozes, que representarão os colegas nas discussões e assembléias organizadas pelos próprios alunos. “O foco está em representar os colegas de sala para fazer mudanças positivas, não em ‘vencer’ para conseguir o que se deseja”, pontua o coordenador. Através da formação de comitês, revisão escolar, planos de ações e avaliações, cada série irá abordar uma importante questão ecológica.

Na avaliação do professor universitário e mestre em botânica, projetos como os desenvolvidos pela instituição são de extrema importância para o futuro ambiental do país. “Ensina-las é importante para que, nas próximas gerações, a gente consiga um modo de vida mais sustentável. Muita gente não sabe a importância do meio ambiente, por isso não o valorizam tanto”, afirma Stefano. Conforme esclarece Christian, os temas foram distribuídos da seguinte forma: 4º ano – uso de energia; 5º ano – água e 6º ano – gestão de resíduos.

“Os alunos eleitos vão ter o resto do ano para trabalhar, pensar em ideias de programas e projetos relacionados aos temas. Devem trazer sugestões e um plano de melhorias não só para a escola, mas para a comunidade”, finaliza. As chapas, como ele desenvolve, gravaram um vídeo de 45 segundos que foi exibido em sala antes da votação. Após o pleito das classes, os líderes partem para as assembleias de grau completo que ocorrem duas vezes por mês.

O objetivo final do Student Reps, como sintetiza o dirigente do projeto, é entender a atual situação climática e implementar um projeto viável, que trate sobre cada área. Os projetos específicos serão definidos pelos estudantes. “O mais impressionante, para mim, tem sido o engajamento dos alunos em problemas reais do mundo, e a possibilidade de, ativamente, aplicar a aprendizagem a projetos que farão a diferença em suas vidas e contribuirão para um mundo melhor”, comenta, satisfeito. Os 12 alunos eleitos, ajudaram a montar e liderar a primeira assembleia, apresentando uma série de questões relevantes relacionadas a energia, água e resíduos Tais pontos, serão discutidos e pesquisados com maior profundidade antes da próxima assembleia, que acontecerá no final de outubro.

Com 4 milhões de árvores plantadas, o DF detém a média de 120 metros quadrados de área verde por habitante, quatro vezes mais do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante disso, a relação dos habitantes com as áreas de preservação e a biodiversidade local deve ser incentivada desde cedo. “É muito importante educar as crianças, os jovens e adolescentes sobre a importância dos serviços que o Cerrado oferece para todos. Muito do calor que estamos enfrentando é por causa do impacto na vegetação do bioma, o desmatamento e alterações ecológicas. Então a destruição da floresta aumenta a temperatura, retém menos umidade e o clima fica mais seco”, opina o biólogo.

Para Christian Prendergast, o Student Reps é o tipo de projeto mais importante que podemos desenvolver hoje. “Nossa geração atual de adultos fracassou em reconhecer limites, e escolheu ganhos econômicos sobre ganhos físicos, emocionais, sociais e ecológicos”, acredita. “Alunos de 10 a 12 anos chegaram à conclusão que vidas não-humanas têm um valor inato de existirem, e que a vida selvagem, a saúde e ecossistemas funcionais são muito valiosos. Eles compreenderam que nós somos parte da natureza e não algo a parte”, acrescenta Christian. O coordenador entende ainda que, sem essa compreensão, crianças e adultos não estarão dispostos a fazerem sacrifícios e a tomarem decisões necessárias para mudanças e transformações positivas em nosso planeta.

O Cerrado atual

Conforme destaca o professor Stefano Aires, cerca de 25% da área original do bioma já foi desmatada. “Essas ocupações, vindas, principalmente, da atividade agropecuária, geram um grande problema não apenas na supressão da vegetação, mas também na degradação dos componentes vivos que sobram”, observa o especialista. Isto, aliado a produção de metano, o uso excessivo de recursos como a água, erosão do solo, queimadas etc, provocam sérios danos ambientais como, por exemplo, a diminuição de indivíduos de determinadas espécies animais. “Se essa exploração tivesse sido planejada de forma mais racional e com políticas mais sustentáveis e uma grande fiscalização, talvez não estivéssemos nesse ponto. Todavia, a falta de consciência ambiental da população também cria um agravante”, expõe.

Considerado o segundo maior bioma brasileiro, ocupando, aproximadamente, 22% do território brasileiro, o Cerrado contempla uma riquíssima variedade de plantas e animais nativos. Mesmo com sua importância biológica, o Cerrado é o bioma com a menor porcentagem de áreas sobre proteção, sendo estas apenas 8,21% de seu território protegido, legalmente, por unidades de conservação. Desse acumulado, 2,85% são unidades de conservação de proteção integral e 5,36% de unidades de conservação de uso sustentável. Os outros 0,07%, por sua vez, correspondem à Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Somente em 2019, o Brasil perdeu, ao menos, 1.218.708 hectares (12.187 quilômetros quadrados) de vegetação nativa. De acordo com a MapBiomas, no Centro-Oeste, 408,6 mil hectares já foram perdidos.

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