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Brasília

Dor e revolta marca o adeus a Lucas Cavalcante Andrade, criança de 10 anos que faleceu após acidente causado por PM

Irmão de Lucas junto com o pai levaram um saco de brinquedos e colocaram ao lado do caixão. Policial militar foi afastado das ruas

Geovanna Bispo

17/08/2022 17h49

Foto: Marcos Nailton / Jornal de Brasília

Marcos Nailton
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A criança que morreu após acidente gravíssimo na madrugada desta terça-feira (16) na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), foi velada na tarde desta quarta no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Lucas Cavalcante Andrade, de 10 anos, foi levado em estado grave para o Hospital de Base com traumatismo craniano e hemorragia intensa, mas infelizmente não resistiu aos ferimentos.

A família se reuniu na capela 02 para prestar uma última homenagem ao pequeno Lucas, que completaria onze anos no mês que vem e tinha o sonho de ser médico. O outro filho do casal, de 14 anos, junto com o pai, levaram um saco cheio de brinquedos e colocaram ao lado do caixão. Os familiares cantaram louvores e oraram por Lucas nesse momento de muita dor. O sepultamento da criança foi às 15h, os pais do garoto estavam completamente abatidos.

O tio do garoto, Wilton de Carvalho Souza, contou sobre os sentimentos de dor e justiça que ficaram. Ele se emocionou ao falar da tragédia e ressaltou que Lucas era uma criança muito amada e que a perda do seu sobrinho é irreparável.

“O Lucas era uma criança cheia de sonhos, sonhava em ser médico, muito brincalhona, muito alegre e muito amada pela família, amigos, os colegas de escola. Ele se cobrava muito, não aceitava tirar nota baixa, sempre estudou. Uma criança que a gente perde, vítima do trânsito e do álcool, mais uma vez”, contou o tio bastante emocionado.

De acordo com Wilton de Carvalho, Lucas teria apresentado um quadro gripal na quinta-feira passada, a criança então foi levada ao HMIB na noite de segunda pela mãe e pelo pai e foi realizada uma consulta e a aplicação de medicação. Ele informou que o pai da criança, que dirigia o veículo, estava voltando para casa após fazer compras de medicamentos e não conseguiu perceber o carro do policial que estava em alta velocidade e com o farol apagado. Segundo ele, não deu tempo de visualizar e o veículo foi atingido por trás, resultando no capotamento do automóvel onde estava a família.

“Eu vi que o policial vai ter apoio psicológico. E a família do meu sobrinho? Vai ter esse mesmo apoio? Será que eles vão ter o mesmo cuidado?”, questionou Wilton de Carvalho.

O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) atendeu a ocorrência e socorreu a família, a mãe de Lucas, de 40 anos, foi transportada para o Hospital de Base (HB), com dor no quadril e na perna esquerda. O pai do garoto também foi transportado para o HB sem ferimentos e com crise nervosa, ambos os pais foram liberados.

Família clama por justiça

O pai de Lucas, Adelson Andrade, clamou por justiça e ressaltando que não tinha nenhum outro veículo na pista. “A polícia fica acobertando tudo isso, […] Cadê a justiça desse país meu Deus, cadê a justiça que não aparece para prender esse bandido? Acabou comigo, acabou com minha família, minha mulher e meus filhos, […] “Faz alguma coisa pra ajudar, meu Deus, a prender esse bandido”, disse o pai, completamente fragilizado e aos prantos.

A polêmica que envolve o policial militar, Carlos Roberto de Carvalho Neto, de 26 anos, é que ele aparentava estar alcoolizado e perdendo o equilíbrio a partir de vídeos gravados pela TV Globo minutos após o acidente. O oficial estava de folga e dentro do veículo foi encontrada uma garrafa de cerveja vazia. Horas antes da tragédia, o militar postou uma foto nas redes sociais rodeado de amigos em frente a um bar, na imagem é possível ver a presença de outra garrafa de cerveja.

O PM não foi preso em flagrante pois permaneceu no local para prestar socorro, porém quando solicitado o teste do bafômetro por outros policiais militares que atenderam a ocorrência, Carlos Roberto recusou o exame duas vezes.

De acordo com a Polícia Civil do DF (PCDF), embora os fatos tenham ocorrido por volta da 1h, o militar somente foi apresentado à delegacia mais de duas horas após do acidente, às 3h30, sendo a ocorrência registrada a partir de 3h33.

“Nesse lapso temporal, a equipe da Polícia Militar, que atendia o local do acidente, somente realizou, às 3h15, o auto de infração pela recusa do envolvido em se submeter ao teste do bafômetro. Ressalta-se que a referida equipe não realizou o auto de constatação de sinais de embriaguez no local”, comunicou a PCDF em nota.

O oficial então teria sido levado ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização do Exame de Corpo de Delito somente cinco horas após o acidente. Os investigadores acompanham o caso para investigar se a demora da apresentação de Carlos Roberto à delegacia pode ter resultado em alguma alteração que comprovasse a embriaguez. O PM foi liberado logo após prestar depoimento.

PM está afastado das ruas do DF

Segundo a Polícia Militar do DF (PMDF), o militar foi afastado das ruas da capital e exercerá atividades administrativas, além de contar com apoio psicológico. Segundo a corporação, um procedimento interno também será instaurado para apurar a conduta do militar, uma vez em que ele se recusou a fazer o teste do bafômetro, sendo autuado por isso.

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