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Brasília

Dengue: o fumacê nosso de cada dia

Brasilenses falam sobre a convivência com uma das soluções mais comum no combate ao mosquito Aedes Aegypt que transmite a dengue

Amanda Karolyne

26/02/2024 18h49

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Para o combate contra a dengue, uma das ações de controle da doença, feita pelo Governo do Distrito Federal, é a aplicação de inseticidas nas áreas de maior incidência do mosquito Aedes aegypti. Diariamente a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SESDF) divulga uma rota dos carros de fumacê pelas regiões administrativas do DF. Os carros vão para as ruas das 4h às 6h da manhã, e das 17h às 19h. A recomendação da Secretaria de Saúde é para a população abrir as portas e janelas no dia que o carro do fumacê for passar.

Todos os dias, a pasta de saúde divulga onde a será rota de fumacê. Nesta segunda-feira (26), a ação foi feita em 16 regiões como Planaltina, Samambaia, São Sebastião e no Guará I.

A analista administrativa Larissa Luna da Costa Vale Oliveira, 42 anos, estava muito feliz por que o fumacê passou na quadra onde mora nesta segunda. “Muito legal, porque fazia tempo que eu não via passar nesses quatro anos que mora aqui”. “Na casa dela tem uma espécie de banner, que pode tampar a entrada do inseticida, então é bom abrir o portão todo.

Ela sabe que não é só com o fumacê ou outros métodos de combate do governo que a doença diminuirá, mas é bom que a iniciativa aconteça. “E a gente sabe que por mais que às vezes até acontece por engano da chuva cair e criar um foco na casa da pessoa por algum motivo, a pessoa nem percebe”. Ela conta que como mora em casa, às vezes acaba deixando alguma coisa que nem imagina que vai fazer uma poça d’água, criando foco de mosquito. “Não é sempre, mas acontece”.

A estudante de direito Ligia Vanessa Pereira da Silva, 29 anos, percebe a eficácia das ações de combate à dengue na região onde ela mora. “Porque a doença estava se espalhando, agora no caso esses métodos de controle do mosquito estão sendo bons para a população toda”. Duas pessoas adoeceram, na família de Lígia, mas depois de ver que as ações estão sendo feitas, os familiares dela, assim como ela, estão mais tranquilos. “Se continuar com os métodos de combate, a gente vai conseguir ter uma melhora em relação ao número de casos”, acredita.

Lígia considera que os parentes dela tiveram uma recuperação bem melhor, por conta dos métodos de combate à doença. “A gente aumentou os cuidados em casa também, porque o espaço é grande”

André Freitas de Souza, 37 anos, cozinheiro, está contente com as medidas de proteção e combate à dengue que tem visto na região onde mora. Ele nunca pegou dengue, e está fazendo de tudo para não ser picado pelo mosquito. “Eu moro em um apartamento e quando o fumacê passa, a gente abre as cortinas e as janelas”.

O comerciante Hebert Santos Borges, 48 anos, está se sentindo mais seguro em relação aos métodos de combate contra a proliferação de mosquito, tanto na região onde trabalha, quanto onde mora. “Eu acho que é importante ter essas medidas de prevenção domiciliar, para diminuir o foco de dengue”. No trabalho e em casa, ele sempre deixa as portas abertas para que o inseticida aplicado pelo carro do fumacê possa fazer efeito.

A aplicação do fumacê

Embora incomode um pouco algumas pessoas, o biólogo da Secretaria de Saude, Israel Moreira, explica que elas devem abrir realmente as janelas e portas. “Quando as pessoas escutam a palavra inseticida, todo mundo já quer se proteger. Mas acaba protegendo o mosquito se as pessoas mantiverem a casa fechada”. Ele explica que é um incômodo momentâneo. Mas ao contrario da recomendação, muitas pessoas fecharam as portas e janelas nesta segunda-feira (26), em uma quadra do Guará I, quando o fumacê passou.

Mas Israel aponta que é importante chamar a atenção, porque somente o fumacê não adianta nada. “Fazer a aplicação de inseticida para matar os mosquitos adultos não resolve, se a gente não tem a contrapartida de eliminar os focos, que sao digamos assim, a fonte do problema”. A população tem que ser parceira dos órgãos de saúde em relação ao combate e prevenção a dengue. “Nós estamos nas ruas, mas a comunidade também tem que contribuir”.

Tecnicamente, o fumacê é a aplicação de inseticida de ultra-baixo volume (UBV), como explica o biólogo da SESDF, Israel Moreira. Essa é uma medida de controle de surtos de epidemias, e é usada em situação a nível emergencial. “De maneira que a gente não usa só simplesmente pela presença do mosquito, o mosquito tem que estar relacionado com a transmissão, com a ocorrência de casos”, declara.

O fumacê é aplicado quando os casos são mapeados, e são observados padrões de concentração. Existe mais de uma modalidade de aplicação inseticida, como destaca o biólogo. “Por exemplo, ou são os agentes carregando uma máquina nas costas, ou é o carro passando com a máquina. E cada um tem um alcance diferente”. Segundo Israel, o fumacê tem uma eficácia limitada, já que ele vai depender de um veículo para liberar a nebulização de inseticida em pequenas partículas. “Ele está sujeito a vento, a velocidade do carro, às condições climáticas. Se estiver chovendo, já não é feita a aplicação”.

Além disso, como comenta o biólogo, o fumacê também depende da temperatura, por isso o veículo passa com a máquina do inseticida às 4h da manhã e às 17h da tarde. “A ideia é que essa fumaça fique pairando no ar o maior tempo possível, e durante as horas quentes a fumaça acaba sendo movimentada por causa da inversão térmica, e isso faz o fluxo de ar levar o inseticida para uma altura diferente do ideal”. A altura ideal seria a altura que atinge o mosquito, próxima ao solo, de um metro e meio.

O especialista indica que um fator limitante desse método, é que o mosquito está presente dentro das casas, e de certa forma, estariam “protegidos” dentro de casa. “A população, muitas vezes, não abre a janela, ou as portas com medo do inseticida, mas isso acaba favorecendo, justamente, o mosquito, porque ele está escondido na base na cama, atrás da geladeira, atrás das cortinas, e mais protegido ainda com as portas e janelas fechadas”.

De acordo com Israel, os inseticidas usados pela Secretaria de Saúde no ambiente urbano, são aprovados pela Organização Mundial de Saúde “É diferente do que é usado na lavoura, por exemplo, que tem uma concentração mais alta”. O produto usado pela SESDF é fornecido pelo Ministério da Saúde, e permite às pessoas estarem nesse ambiente. “É claro que é importante cobrir alimentos, e proteger pessoas que são alérgicas, e que eventualmente podem se sentir mal, mas é um inseticida seguro”, salienta.

Existe uma uma sequência de trabalhos que a pasta de saúde faz no combate contra a dengue. Além dessas aplicações com o fumacê para matar o mosquito adulto, é feita aplicação de inseticida para matar as larvas. “A gente detecta os casos nos conjuntos, nas quadras das cidades, vemos se esses casos estão relacionados tanto em distância, quanto em relação a tempo, porque uma mesma população de mosquito pode estar infectando pessoas em diferentes semanas”, frisa.

Depois de mapeados os casos, os agentes vão de casa a casa, para aplicar os inseticida contra as larvas, dentro do que é necessário em todos os criadores. Depois é feita a aplicação de inseticida por essa bomba costal, e posteriormente que é feito a aplicação utilizando o carro de fumacê. “Principalmente a aplicação contra o mosquito adulto, obedece um ciclo. Então, são três aplicações a cada cinco dias, de três a cinco dias em todas as regiões administrativas”.

Israel ressalta que esse serviço não é solicitado pela população, porque diferente de uma dedetizadora de serviço de controle de pragas, em que o serviço é contratado para eliminar a praga independente de qualquer coisa, porque está incomodando a pessoa que o contratou. No caso da saúde pública, o biólogo aponta a diferença: o serviço tem como objetivo eliminar aquilo que é causador de doenças naquele momento. Ele explica que o uso do inseticida provoca na população de mosquitos, com o passar do tempo, uma resistência ao produto. “De maneira que esses inseticidas que nós estamos usando acabam não funcionando mais. E na saúde pública, por questão de segurança, a gente só usa um grupo de inseticidas muito específicos que são menos danosos”.

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