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Brasília

Darcy Ribeiro, 100 anos: “maior legado dele é a defesa da democracia”, diz historiador

Segundo o historiador Edi Cardoso, a luta e a defesa da democratização são os principais legados do mestre para o país

Redação Jornal de Brasília

26/10/2022 17h43

Foto: Divulgação

Maria Luiza Castro
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

O educador Darcy Ribeiro faria nesta quarta (26 de outubro) 100 anos de idade. Ex-ministro da Educação, antropólogo, sociólogo, e escritor, ele deixou legado para diferentes áreas no Brasil. Segundo o historiador Edi Cardoso, historiador e autor da tese “O Brasil que há de ser! Darcy Ribeiro e cultura política trabalhista no governo João Goulart”, a luta e a defesa da democratização são os principais legados do mestre para o país.

Agência Ceub – Qual é o legado de Darcy Ribeiro? E quais foram os desafios dele?

Edi Cardoso – Durante a crise de 1963 que abalou a política brasileira, ele assumiu o cargo de ministro-chefe no gabinete de Jango, e se tornou o auxiliar mais fiel do presidente, na defesa do seu mandato e da democracia. As iniciativas do ex-ministro com a educação pública foram frustradas pelo golpe militar de 1964, subsequente da ditadura, mas foram retomadas com a redemocratização.

Ele dedicou-se com toda sua energia, sabidamente abundante, a combater os golpistas em ascensão. Participa de debates no rádio-TV, concede entrevistas, comparece a eventos, sempre defendendo de modo contundente a democracia […] Ele foi, portanto, o último ministro na linha de frente da defesa democrática.

Acredito que, no atual contexto, o principal legado de Darcy a ser debatido é a defesa da democracia e desenvolvimento econômico aliado à justiça social.

Agência Ceub – E quais as inspirações de Darcy para a criação da Universidade de Brasília? Como foi esse processo?

Edi Cardoso – Darcy teve um papel muito importante na criação da Universidade de Brasília, após o golpe militar que o obriga a exilar-se, ele seria incorporado a diversas universidades, sobretudo latino-americanas.

Nelas, Darcy coordena projetos de reformas universitárias, e usa a UnB como referência. Uma de suas frases mais famosas é “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”, e mostra a resiliência ao se dedicar à educação pública no Brasil. Ele foi um dos intelectuais públicos mais importantes na elaboração-difusão de um projeto de educação pública e gratuita para todos.

O envolvimento de Darcy na criação da UnB o gabarita como educador de renome internacional

Agência Ceub – E o impacto para o conhecimento sobre a população indígena?

Edi Cardoso – O ex-ministro também se dedicou ao estudo da população indígena, ele procurava dar voz a essa população, e se tornou um dos pioneiros da antropologia no Brasil. Em 1947, após a graduação na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, Darcy ingressa no Serviço de Proteção ao Índio (SPI). O antropólogo passa anos ao Sul do Mato Grosso, contribuindo para o desenvolvimento da política indigenista oficial e consolidação da antropologia no Brasil.

Agência Ceub – O que mais te impressionou na pesquisa sobre Darcy Ribeiro?

Edi Cardoso – O mergulho no acervo documental disponível para consulta no Memorial Darcy Ribeiro, localizado na UnB. É um universo de documentos de/sobre Darcy, e também Berta Ribeiro, de incrível riqueza e vastidão para a compreensão das trajetórias dos titulares. Mas, também, da história do Brasil. A documentação, sob guarda da Fundação Darcy Ribeiro, nos coloca diante da nossa história em perspectiva pluridimensional, refletida na trajetória de um intelectual multifacetado, de “muitas peles”, interesses, projetos e linhas de atuação em que, ao que parece, Darcy é único.

Agência Ceub – Quais são as características pessoais mais marcantes da vida de Darcy?

Edi Cardoso- É impossível não se impressionar com o ímpeto incansável de Darcy, sua criatividade, empenho, solidariedade, empatia, trabalho, responsabilidade social, inteligência, pioneirismo, afeto, indignação, engajamento, dedicação sem medidas.

Agência Ceub – O que os educadores devem aprender com Darcy Ribeiro?

Edi Cardoso – Ao denunciar que “A crise na educação brasileira não é uma crise, é um projeto”, Darcy nos convocou para uma luta permanente por uma educação pública, democrática e de qualidade para todos. Acredito que seu exemplo mais valioso para nós educadores consiste, ainda, em seu compromisso com a produção de conhecimento-educação eticamente atrelados a transformação positiva da realidade material e cultural dos segmentos populacionais historicamente marginalizados. A educação deve melhorar a vida de quem precisa, é o que a trajetória de Darcy como intelectual, político e educado evidencia como seu compromisso.

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